Immortals of Aveum é um jogo que chamou minha atenção praticamente desde o momento que teve seu gameplay revelado. Como fã de jogos de tiro em primeira pessoa e um entusiasta de quase tudo que tem magia como tema principal, a proposta da união desses dois conceitos me deixou bastante empolgado.
Conforme o tempo foi passando, e mais detalhes começaram a surgir através de seu marketing que, convenhamos, foi até um pouco exagerado, algumas de suas características me deixaram um pouco desconfiado. O combate prometia ser bastante envolvente, mas detalhes da história e de seus personagens apontavam para um rumo que não me agradava muito. Agora, com o jogo finalmente disponível, tive a oportunidade de testá-lo de forma antecipada para conferir se isso se confirmou.
Immortals of Aveum é o primeiro título da Ascendant Studios, uma desenvolvedora independente criada por Bret Robbins, veterano na área dos games, tendo trabalhado em várias franquias de renome, como Call of Duty e Dead Space. É um jogo de tiro em primeira pessoa que se destaca por seu combate rápido e responsivo, onde sua principal característica é o uso de feitiços.
A história se passa no mundo de Aveum, um lugar assolado por uma disputa pelo controle da magia que perdura por gerações, chamada de Guerreterna. Ao longo de sua história, os cinco reinos de Aveum se revezaram travando batalhas na Guerreterna. Mas, atualmente, apenas dois seguem nessa disputa: Lucium e o opressor exército de Rasharn.
Em meio a essa luta surge Jak, um jovem órfão da cidade de Seren. Após um ataque em sua cidade natal arquitetado por Sandrakk, o tirano líder do exército de Rasharn, Jak, em um momento de fúria, desperta um dom para a magia até então desconhecido. Mais do que isso, Jak descobre ser um triarca, um tipo raro de magni capaz de manipular as três cores da magia. Recrutado pela general Kirkan, do exército de Lucium, ele passa a ser treinado para integrar os Imortais, uma elite de combatentes que tem como objetivo principal derrotar Sandrakk e por fim à Guerreterna.
A história de Immortals of Aveum possui alguns elementos interessantes em sua trama, mas o game peca ao desenvolver sua narrativa de uma maneira lenta, com uma campanha que pode chegar facilmente a 20 horas de duração. Mesmo com algumas reviravoltas e uma boa conclusão, a história demora demais para engatar. A todo o tempo são feitas referências ao passado de Aveum, a alguns de seus personagens e aos acontecimentos da Guerreterna. Mas mesmo com textos e diálogos para engrandecer o lore, muita coisa fica no ar de maneira superficial.
Falando sobre os personagens, o game também fica devendo um melhor desenvolvimento de alguns deles. Muitos dos personagens principais são muito bem representados por seus intérpretes, mas, da mesma forma que na história, seu melhores momentos aparecem apenas na parte final do jogo.
Uma característica que já havia me desagradado nos trailers, e que se confirmou no jogo final, é como alguns diálogos tendem a ser infantilizados, com piadas até bobas em certos momentos. Talvez a ideia seja deixar o jogo um pouco mais acessível para algumas faixas etárias, mas na prática isso não funciona muito bem.
A capacidade de Jak de tentar fazer piadas com tudo, e até algumas de suas ironias, deixaram o jogo com um tom de comédia. Não apenas Jak, mas outros personagens também possuem diálogos com tons satíricos e que não combinam com a proposta de um mundo afetado pela calamidade de uma guerra. O mesmo é retratado também em algumas expressões faciais dos personagens que, apesar de serem bem executadas, acabam parecendo exageradas em muitos momentos. Isso tende a melhorar mais para o final do jogo, dando até ênfase para um amadurecimento de Jak. Mas ainda assim, boa parte da campanha sofre por esse problema.
A ambientação é boa e a direção de arte acertou ao representar o mundo de Aveum de maneira bastante convincente. A campanha passa por diversos cenários, como cidades, florestas, uma caverna de lava, todos muito bem caracterizados. Só que alguns elementos parecem um tanto estranhos. Por exemplo, é comum encontrar NPCs conversando, sem que emitam som algum.
A trilha sonora não chega a ser empolgante, mas é bem adequada à ideia do jogo. O tema principal é ótimo, e o restante da trilha sonora é composta por elementos eletrônicos e por faixas típicas do gênero de fantasia. Essa trilha sonora está sempre alternando entre momentos mais intensos durante as sequencias de combate, para outros mais tranquilos quando o foco se volta para a exploração e para a história.
Passando para o que Immortals of Aveum faz de melhor, o combate é excelente. Quem é fã de jogos de tiro em primeira pessoa, mas normalmente fica reticente quando a jogabilidade é descaracterizada, não se preocupe. Immortals of Aveum conseguiu atingir um nível muito bom em suas mecânicas de combate, abdicando do uso de armas convencionais, mas sem perder a essência do bom e tradicional FPS.
Os feitiços são divididos em três cores, e cada uma delas possui sua própria característica de ataque, defesa e manipulação. Para cada cor, é necessário equipar o respectivo selo. Esses selos variam de nível de poder, estatísticas e habilidades. A sensação de executar os feitiços e alternar entre as diferentes cores é um dos pontos fortes de Immortals of Aveum. Além disso, as animações das mãos de Jak ao conjurar os feitiços são muito satisfatórias.
Os feitiços básicos de ataque retém as características de armas comuns aos jogos de tiro em primeira pessoa. Cada um deles possui sua cadência de disparo, seu próprio recuo e precisam ser recarregados após um número de tiros específico. Temos feitiços que se assemelham à submetralhadoras, fuzis e escopetas.
Também há os feitiços de manipulação, para os quais é necessário equipar um totem como arma secundária. Esses feitiços incluem habilidades de desaceleração dos inimigos, interrupção de feitiços, até um chicote que pode puxar os inimigos para sua direção.
Já os feitiços de fúria são habilidades especiais que consomem mana. Dentre esses feitiços estão um turbilhão que suga os inimigos, um golpe poderoso de impacto, uma rajada que persegue os alvos, uma onda capaz de quebrar escudos inimigos, dentre outros.
As cores da magia são os principal conceito do jogo. O verde é a cor da vida, podendo simbolizar a cura, mas também impedi-la. Nela estão os feitiços de ataque rápido, indicados para alvos à média distância. Os feitiços de ataque da cor verde possuem como característica rastrear seu alvo. Também fazem parte desse grupo alguns feitiços úteis para mover e reanimar objetos com o intuito de criar caminhos e encontrar passagens, além de uma esquiva muito útil para desviar de golpes inimigos.
A magia vermelha corresponde ao elemento do caos. Ela é a magia de maior dano e é indicada para controle de grupo de inimigos à curta distância. Uma das habilidades da magia vermelha emite uma onda de poder, muito eficaz contra inimigos que fazem uso de armas corpo à corpo. Quando aprimoradas, as magias de ataque vermelhas são capazes de aplicar um status de corrosão, facilitando na destruição de armaduras inimigas.
Já a cor azul refere-se à força. Nesse grupo estão os feitiços de ataque para maiores distâncias, como, por exemplo o arco de luz, que funciona como um fuzil de batedor, ou a lança, que é a versão em Immortals of Aveum da tradicional sniper. Com a magia azul também é possível conjurar um escudo de proteção que, ao ser melhorado, pode até devolver parte do dano ao seu oponente.
Algo muito interessante em Immortals of Aveum é que o design dos inimigos também é baseado nas cores das magias. Então, sempre que você avistar um inimigo com tonalidades vermelhas, saberá que ele possui características de ataque de curta distância. O mesmo vale para os inimigos com tons verdes e azuis. Portanto, usar a cor corresponde para cada inimigo acaba sendo uma ótima maneira de abordar os confrontos.
O jogo também conta com uma boa variedade de inimigos. Além dos inimigos humanos membros do exército de Rasharn, há também os construtos e arcontes, que são humanoides animados por meio da magia. Os espíritos são inimigos que só podem ser destruídos com feitiços da cor adequada. E criaturas da vida selvagem do mundo Aveum completam a gama de inimigos. O jogo, inclusive, possui uma boa curva de aprendizado, sempre introduzindo novos inimigos e novas mecânicas conforme você progride na história.
As lutas contra os chefes são bem variadas e apresentam um bom nível de desafio. Há também alguns inimigos secretos, que representam o maior desafio do jogo, e que são duelos de magia dos mais intensos. Esses duelos exigirão que você se prepare com os melhores equipamentos e habilidades antes de enfrentá-los.
Vale sempre lembrar que Jak é capaz de manipular todas as cores, então isso não impede que você foque em uma cor específica quando for investir seus pontos de habilidade. Para isso, Immortals of Aveum oferece uma boa árvore de talentos, combinando atributos de ataque, defesa e melhorias para os feitiços.
Porém, mesmo se você optar por concentrar seus pontos de habilidade em uma cor específica, terá vantagens ainda maiores se ainda conseguir entender como essa mecânica de cores funciona.
E como Jak é um triarca, por que não combinar as três cores em um único feitiço, certo?! No caso esse feitiço se chama Imolação, e pode ser conjurado toda vez que a barra estiver cheia. Essa barra é preenchida através de mana de domínio, uma energia concedida conforme você derrota os inimigos. Quando liberado, esse feitiço devastador é capaz de finalizar os inimigos em questão de segundos, dando uma ótima sensação de poder.
Do ponto de vista da progressão, Immortals of Aveum apresenta uma narrativa quase que exclusivamente linear. As missões sempre seguem um caminho predeterminado pelos mapas, passando por arenas de batalha e alternando com alguns momentos de exploração. O jogo também conta com objetivos secundários. Os principais deles são os Templovéus, portais de desafios espalhados pelo mundo que muitas vezes deverão ser desbloqueados solucionando quebra-cabeças. Esses portais podem apresentar desafios de batalha, de plataforma, dentre outros. Ao final de cada desafio concluído haverá uma recompensa, que pode ser uma melhoria para a barra de vida, para o mana, ou até um novo feitiço.
Muitas das atividades secundárias em Immortals of Aveum envolvem quebra-cabeças. A maioria desses quebra-cabeças requer o uso das diferentes cores de magia para ativar mecanismos. É comum encontrar situações onde você não terá os feitiços para solucionar esses enigmas. Isso só será possível após progredir na história e liberar os portais para retornar aos mapas com as habilidades necessárias. Portanto, se prepare para fazer bastante backtracking caso queira explorar todo o conteúdo do jogo.
Falando em equipamentos, Immortals of Aveum possui um sistema de níveis de raridade, mas todo os itens são predeterminados. Os equipamentos se dividem entre selos, anéis, totens e braçadeiras. Cada tipo de equipamento pode trazer benefícios afixados, melhorando o poder de uma cor de magia determinada, um feitiço, sua defesa, dentre outros. O game também conta com uma forja, onde os materiais coletados podem ser usados para fabricar novos equipamentos ou melhorar os que você possui.
Para concluir, quero falar um pouco da parte técnica. Desde que vi as primeiras imagens do jogo, com a enorme quantidade de efeitos acontecendo ao mesmo tempo, me preocupei como seria a performance de Immortals of Aveum. Durante todo o meu período com o jogo, a verdade é que a performance fluiu melhor do que eu imaginava. A taxa de quadros por segundo apresenta oscilações, inclusive durante algumas cutscenes, mas consegue se manter estável na maioria do tempo, não comprometendo a jogabilidade.
O problema é que, para chegar nesse nível de otimização, parte da qualidade visual fica comprometida. O jogo parece claro demais em alguns ambientes, com a resolução caindo significativamente durante algumas sequências de combate. No caso dos cenários mais escuros isso é menos perceptível, onde podemos admirar os belos efeitos de iluminação de Immortals of Aveum.
Vale salientar que Immortals of Aveum não disponibiliza uma opção de escolha entre modos de performance e de fidelidade. Então, os que preferem jogar na melhor resolução possível podem se decepcionar. Claro que, em se tratando de um jogo focado em um combate caótico e acelerado, a performance, para muitos, tende a ser prioridade. Portanto, se você se encaixa nesse grupo, não deve ter muito o que se preocupar.
Immortals of Aveum não é um jogo simples de se avaliar. Porque, se por um lado temos um FPS com propriedades únicas e cujo combate é excelente, por outro, a história demora para embalar e a parte técnica carece de alguns ajustes. Eu diria que se você se interessou por Immortals of Aveum por conta de sua proposta de combate, vale a pena conferi-lo. Ele possui qualidades suficientes para te surpreender positivamente.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.
Veredito
Immortals of Aveum acerta ao trazer uma nova experiência para o gênero dos jogos de tiro em primeira pessoa. Possui um combate rápido, é cheio boas ideias e de opções. Se sua intenção é pegar o controle e destruir seus inimigos com feitiços poderosos, diria que Immortals of Aveum pode garantir bons momentos.
Immortals of Aveum succeeds in bringing a new experience to the first person shooter genre, with fast-paced combat, full of good ideas and options. If your intention is to pick up the controller and destroy your enemies with powerful spells, I would say that Immortals of Aveum can guarantee a good time.
[/lightweight-accordion]