Dentre os diversos subgêneros existentes no mundo dos jogos, talvez um dos mais famosos possa ser o metroidvania. De forma breve para quem não é muito familiarizado com o termo, o termo surgiu com a junção dos nomes de Metroid e Castlevania e engloba geralmente jogos de ação e aventura em plataforma e que possuam um grande foco na sua não linearidade e mecânicas específicas necessárias para a exploração.
Skautfold: Usurper além de ser um título que se encaixa nesse subgênero, conseguimos perceber a grande influência da parte “vania” dele, com sua arte e conceitos lembrando fortemente o clássico Castlevania: Symphony of the Night ou então sendo mais específico Castlevania: Aria of Sorrow (disponível no PlayStation 4 na Castlevania Advance Collection). O estilo puxado para o terror gótico provavelmente chamará atenção dos fãs da série e torna-se o ponto forte para chamar a atenção perante a outros títulos do gênero recentes. Apesar de parecer bonito para o estilo em uma primeira impressão, ao seguir jogando você logo encontrará problemas, em especial na falta de diferenciação do que é apenas uma imagem de fundo e o que de fato pode ser uma plataforma ou algo que possa interagir. Faltam técnicas simples na arte para que você consiga entender a profundidade de algum ambiente.
A história de Skautfold: Usurper se passa em uma Londres antiga e você controla Saragat, um cavaleiro que retorna a vida através dos poderes de Waltham, um necromante que tem suas próprias intenções obscuras ao tomar o controle do corpo de Saragat. Não tendo muita escolha, Saragat faz este acordo para retornar a vida e aos poucos entender o que está acontecendo em Londres e descobrir a verdade por trás da misteriosa Cidadela que apareceu na cidade. O plot inicial parece interessante e até mesmo misterioso, mas sinto que não bem desenvolvido. Alguns personagens que aparecem durante a história se mostram extremamente rasos e não conseguir em nenhum momento seguir me conectando com aquilo que estava me sendo passado. Importante ressaltar que também não temos legendas em português, o que pode atrapalhar a imersão de parte do público.
Pensando na jogabilidade, não há muito mistério por aqui. Na verdade em alguns pontos posso dizer que é até simples demais. Apesar de existir uma grande variedade de armas em Skautfold: Usurper, todas elas possuem apenas um tipo de ataque. Apesar de uma utilizar menos estamina, ser mais rápida e causar menos dano, outras que gastam mais e são mais lentas causam danos mais altos. No fim, boa parte da escolha de como irá atacar será por escolha pessoal de gameplay. Com a opção de poder equipar até 4 itens, é possível variar com armas leves, pesadas ou algo de longo alcance como magias ou um arco.
Algo de diferente que temos em Skautfold: Usurper é um tipo de estamina, o Guard (GRD). E apesar de parecer um nome para algo defensivo, este atributo acaba sendo o mais importante em todo o jogo. Ele serve para você usar ataques, esquivar, defender e até mesmo como vida. Antes de você perder HP ao receber algum dano, primeiro irá perder este GRD, para depois perder sangue. O grande desafio do jogo é saber equilibrar o uso de ataques e habilidades para que ao ser atacado por algum inimigo não sofrer dano, já que seu HP não é muito alto e os inimigo são bem fortes. Talvez a primeira coisa que você queira fazer ao subir de nível seja aumentar drasticamente seu HP (dentre os diversos status possíveis). Particularmente não recomendo que gaste no HP, sendo o GRD uma fonte defensiva muito mais útil. Também é importante prestar atenção qual o atributo principal de suas armas, para também aumentar o status correto, que funcionam num formato muito semelhante ao Dark Souls.
Talvez o que tenha mais me incomodado no título seja a parte da exploração. Primeiro, o mapa no menu é péssimo. Você não entende nada do que é mostrado, ficando as vezes até mais confuso. Segundo que as vezes é exaustivo se locomover de um lado para o outro sem ter uma ideia básica do que fazer, já que em alguns momentos não fica muito claro. A exploração não contém muitas coisas secretas ou itens que façam você se sentir recompensado ao fazer todo um backtracking para conseguir algo. É como se ele fosse um metroidvania apenas por ser, pois os principais elementos do gênero não são bem explorados, tornando momentos que deveriam ser prazerosos em situações entediantes. Por fim, em alguns momentos você ficará numa espécie de loop ao entrar e sair de alguma tela. Você pula em plataformas para acessar a área acima, mas ao mudar de mapa você está automaticamente caindo de volta para a próxima. E isso se repete e repete. Isso acontece em alguns momentos em nosso gameplay. Isso é algo que já me irritava e achava péssimo na época do Master System, em pleno 2023 chega a ser um absurdo.
Por fim, tinha algumas expectativas com o título por conta deste pequeno saudosismo com os “vanias“, mas infelizmente Skautfold: Usurper não me empolgou tanto. Conseguiu me distrair em diversos momentos mas por conta de algumas escolhas técnicas chegou um ponto que senti que estava apenas seguindo torcendo para que terminasse. Não me vejo voltando em algum momento para conseguir os troféus faltantes. Para os fãs do gênero ou nostálgicos, talvez possa valer a pena em uma mega promoção caso não tenha nenhum outro título similar em vista. Se busca um indie não tão conhecido e com uma pegada sombria (não necessariamente gótica), minha indicação fica para Ender Lilies, que entrega um dos melhores metroidvanias dos últimos anos.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Red Art Games.
Veredito
Skautfold: Usurper possui ideias para ser um metroidvania memorável, porém é tudo entregue de maneira tão rasa que em nenhum momento o jogo se mostra realmente para que veio. Uma opção “ok” apenas para caso esteja órfão do gênero e o encontre em uma boa promoção.
Skautfold: Usurper tries to be a memorable metroidvania, but everything is delivered in such a shallow way that at no time does the game really show what it came for. An “ok” option just in case you are an orphan of the genre and find it in a good sale.
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