Do primeiro ao quarto: a história contada nos jogos Diablo
As origens do universo de Diablo, das quais já falamos bastante aqui, são um verdadeiro deslumbre que nos apresenta a criação do mundo de Santuário, as batalhas eternas entre o bem e o mal desde tempos imemoriais com Anu e Tathamet e, depois, entre os Céus Celestiais e seu exército angelical e o Inferno Ardente com suas fileiras demoníacas. Depois do sacrifício de Uldyssian, do banimento de Lilith e da prisão de Inarius, a humanidade parecia enfim ter um grande futuro pela frente alheia ao Conflito Eterno. Mas como nada é permanente, até quando a paz iria durar?
E, para continuar a partir daqui, fica o aviso de SPOILERS pesados de todos os quatro jogos numerados da franquia. Continue por sua conta e risco.
A história do primeiro Diablo
Banidos do Inferno e capturados em Pedras da Alma pela Ordem dos Horadrim, os Males Supremos se tornaram lendas desacreditadas. A sociedade humana se desenvolveu em prósperos reinos por séculos, e reis emergiram ao poder político. Um dos mais célebres nomes, cantado por todos os cantos de Santuário, é o do Rei Leoric, aquele que determinou que a bela cidade de Tristam se tornaria a capital do seu reino. Mal sabia ele que a Pedra das Almas onde estava aprisionado o próprio Diablo estava escondida sobre a Catedral da cidade e, corrompida pelo imenso poder da entidade, estava prestes e ter seu selo rompido. Toda a energia deturpada que emanava dela acabou atraindo o Arcebispo Lázaro, conselheiro do Rei Leoric, que acabou caindo sob essa influência.
Ainda que tenha conseguido convencer o clérigo a libertá-lo, Diablo ainda se mostrava enfraquecido devido aos conflitos e aos anos de clausura, e precisava de um corpo recipiente para abrigar seu espírito maligno. Ao não conseguir dominar Leoric, que mesmo livre da entidade não suportou a loucura e se tornou um arremedo do grande líder que um dia fora, Diablo então se dedicou a possuir Albrecht, o príncipe mais novo e, mais uma vez com a ajuda de Lázaro, ele enfim conseguiu seu receptáculo. O rei enlouquecido acabou sendo aniquilado por seus súditos com um último recurso para livrar Tristam de suas sandices, e a capital, sem quem herdasse o trono, se tornou refém das trevas que cresciam sobre ela.
Sem rumo, o povo de Tristam foi levado por Lázaro para as catacumbas da Catedral que um dia abrigara a prisão de Diablo, e lá sucumbiu pelas mãos do demônio, que se nutriu de tantos sacrifícios, utilizando todo esse poder para invocar uma vez mais seu exército e assim construir uma nova era de destruição em Santuário, enquanto buscava formas de libertar seus irmãos, Baal e Mephisto, e retomar sua sina de horrores e morte, fortalecer suas fileiras e retomar o Inferno dos Males Inferiores. A humanidade estava destinada a servir como mero instrumento da vingança de Diablo, quando emerge o herói improvável, Aidan, o filho mais velho de Leoric, que se mostra determinado a expurgar estas entidades macabras.
Ao encontrar alguns poucos, mas corajosos aliados, como o sábio Deckard Cain, o intrépido guerreiro descobre as mazelas orquestradas por Lázaro a mando de Diablo, e acaba se afundando, cada vez mais, nos cantos sombrios das masmorras da Catedral até que, depois de muitas batalhas, dentre elas o desmorto rei Leoric, um demônio conhecido somente como O Açougueiro e o próprio Lázaro, chega finalmente às profundezas do próprio inferno. Em um último sacrifício, engastando a Pedra das Almas que serviria como uma nova contenção de Diablo em si mesmo, este grande herói consegue enfim conter o mal. Mas como nada que é bom dura em Santuário, não demoraria muito para que o mal encrustado em sua testa o dominasse.
Diablo II e o retorno do mal eterno
Sob influência do mal encarnado em sua testa, o agora chamado de Andarilho Sombrio (ou Errante Sombrio) vaga sem destino por Santuário até que, tomado completamente pelo seu opressor, seu caminho se cruza com o de um sujeito estranho chamado Marius. Quando se encontram em meio a mais uma massacre promovido pelo lorde do inferno, eles viajam juntos de forma misteriosa até encontrar um monastério que já pertecera a uma ordem de arqueiras chamadas de Irmãs do Olho Cego. Lá, descobrem que Andariel, um dos males inferiores que tomara o Inferno Ardente da trindade suprema, tinha se rebelado contra seus irmãos diante uma disputa entre Azmodan e Belial pelo domínio daquele reino.
Diablo, na pele de seu hospedeiro, decide seguir sua jornada, agora buscando libertar Baal para se fortalecer para o inevitável embate com os traidores que os haviam banido. Surge um novo protagonista que, ao ouvir sobre a jornada do tal Andarilho pelo relato das arqueiras sobreviventes, assume a missão de, antes de mais nada, derrotar a líder do clã corrompida, Blood Raven, para depois buscar em Tristam – ou naquilo que sobrou daquela antes imponente cidade – o sábio Deckard Cain que teria sobrevivido aos desastres ocorridos anos antes, mas que ainda estava aprisionado por lá.
Enquanto isso, o Andarilho acompanhado por seu parceiro de viagem chega à tumba de Tal Rasha, o mago que teria dado a vida para aprisionar Baal. Seu plano de resgate é inicialmente frustrado por Tyrael, mas Marius, já sob a influência do Senhor da Destruição, acaba por libertar o demônio, que ao lado de seu irmão, aprisiona o arcanjo e invoca Duriel. Ambos determinam que o agora lacaio resguarde o local e impeça qualquer tentativa de reação enquanto seguem sua missão para despertar o último dos males superiores aprisionado, Mephisto.
O corajoso herói, em seu caminho, consegue derrotar Andariel e segue no encalço de seus inimigos. Lá, encontram Duriel, que está agora sedento por vingança pela derrota de sua irmã, mas que também acaba caindo em batalha. Ele liberta Tyrael e se apressa para evitar que Diablo e Baal cumpram seu objetivo. Infelizmente, não há tempo para heroísmo, e ao chegar em Kurast, os demônios conseguem trazer Mephisto de volta ao mundo dos homens. O coisa-ruim assume de vez a sua forma verdadeira para, enfim, voltar ao Inferno Ardente ao lado de Baal, e retomar o controle dos exércitos nefastos acabando com a disputa entre Azmodan e Belial. Mephisto fica em Santuário para garantir que ninguém atrapalhasse esse objetivo.
Resta ao nosso intrépido herói o caminho mais difícil: derrotar Mephisto, resgatar o arcanjo Izual para tentar igualar as forças e, enfim, chegar até Diablo. E mesmo quando consegue cumprir suas metas de forma improvável, Baal, de posse das memórias dos Horadrim por ter ficado preso no corpo de um de seus membros, consegue se desvencilhar da batalha, apelando em buscar pela Pedra do Mundo, aquela que esconde Santuário dos anjos e demônios envolvidos no Conflito Eterno. Ao chegar ao local onde ela está guardada, ele não hesita em destruir a tudo e a todos. Não há outra opção para nosso herói que não vencer Baal para evitar que ele termine aquilo que começou. O fim das três entidades parece não ser o suficiente e é necessário destruir e Pedra do Mundo de uma vez por todas, mesmo que pra isso, Santuário tenha que ficar às vistas dos exércitos de ambos os lados da guerra.
A desgraça anunciada em Diablo III
Mais de duas décadas se passam desde que a Pedra do Mundo foi destruída. Deckard Cain, ao lado de sua sobrinha e aprendiz Leah presenciam um evento nas ruínas da Catedral de Tristam que daria início à profecia de que os mortos se levantariam de suas tumbas e um novo herói, herdeiro dos poderes dos Nefalem, surgiria para uma vez mais defender a humanidade. Surge então o protagonista, ainda alheio ao que o destino lhe reserva. Ao derrotar uma horda de mortos-vivos e resgatar o velho Cain, o herói descobre que o antigo rei Leoric, agora sob a alcunha de Rei Esqueleto, retornara do mundo dos mortos e que precisaria reaver sua coroa para ser derrotado de uma vez por todas. Além disso, também fica sabendo pelas palavras de um homem conhecido somente como O Estranho que é necessário reforjar uma espada lendária fragmentada em três partes que, de alguma forma, será algo fundamental para se cumprir a tal profecia.
Não demora para que o grupo seja confrontado pela feiticeira Maghda, uma fiel seguidora de Belial, que chantageia Cain a restaurar a espada para seu uso próprio. Ao ainda assim se negar a servir à bruxa, Cain é torturado, o que desperta em Leah um poder de grande magnitude o qual ela mesma não entende, mas que a permite escapar ao lado de seu tio, deixando o Estranho para trás. É tarde, porém, e Cain morre em decorrência dos ferimentos, não sem antes restaurar a famigerada espada, confiando-a a Leah, revelando, em seus últimos suspiros, que o Estranho é na verdade um anjo desmemoriado. O herói da história, depois de vencer O Açougueiro, consegue entregar a espada para o tal anjo, que recobra suas memórias: ele é, na verdade, o arcanjo Tyrael, que abdicara de suas asas para proteger os humanos com um deles.
Em busca de Maghda, o grupo chega a Caldeum e consegue derrota-la. Eles partem em busca de Ádria, mãe de Leah, uma poderosa maga que já ajudara na luta contra Diablo no passado, agora mantida sob cárcere pelos asseclas de Belial nos esgotos da cidade. Ao resgatá-la, descobrimos que será necessário encontrar a Pedra Negra das Almas para poder aprisionar, novamente, os senhores do inferno. Quando a conseguem, chega a hora de enfrentar o demônio, agora sentado no trono da cidade. Mas não por muito tempo. O próximo desafio é vencer Azmodan no Monte Arreat, e sob a tutela de Ádria, é Leah quem consegue prender o inimigo enfraquecido depois de ser derrotado em batalha. O plano revelado da matriarca é, agora, destruir a Pedra Negra das Almas e acabar com a ameaça de uma vez por todas.
Os reais objetivos de Ádria, entretanto, não tinham nada de altruísmo. Ao revelar que Leah era, na verdade, o fruto de um relacionamento com o pseudo-possuído Aidan, aquele mesmo príncipe que fora possuído por Diablo nos eventos do primeiro jogo, descobrimos que tudo era parte de um plano para que o próprio Senhor do Terror retornasse utilizando a filha como recipiente. Já era tarde demais para impedir o pior, e Diablo deixa de lado Santuário ou o Inferno e parte para a destruição total dos Céus, contando com a ajuda até mesmo de Izual, o arcanjo que traíra os seus no jogo anterior. Não resta outra alternativa e o Nefalem arrisca tudo para vencer o demônio uma vez mais.
Esta última derrota de Diablo seria o fim da jornada, não fosse a decisão do Arcanjo Malthael, depois de perceber que as lutas não acabariam jamais, de exterminar não só os demônios, mas também aqueles que herdavam sua essência, os habitantes de Santuário. Mesmo absorvendo o poder dos demônios contidos na Pedra Negra das Almas, Malthael acaba sendo destruído junto com o próprio artefato pelo herói Nefalem. Os demônios contidos são libertos e voltam para as sombras, mas ao menos por enquanto, Santuário está a salvo novamente…
O retorno da Mãe do Santuário em Diablo IV
Atenção ao reforço de aviso de SPOILERS da campanha de Diablo IV. Siga adiante só se tiver terminado o game ou se não se importa em saber os eventos que se desencadeiam até o final.
Quando a paz parece ser possível, eis que surge um ex-monge Horadrim, Elias, ao lado de um grupo de seguidores fundamentalistas de Lilith, para realizar um ritual de sangue e resgatar a filha de Mephisto de seu exílio no Vácuo. Enraivecida e sedenta por vingança contra todos os que a traíram, principalmente Inarius, em quem confiou durante a criação de Santuário, ela pretende destruir a tudo e a todos e se tornar a soberana desta terra, agora praticamente arrasada pelos eventos ocorridos décadas antes, principalmente pelas ações de Malthael. Mas ela não se contentará com a terra da humanidade, e quer destruir os males superiores, inclusive seu pai.
Inarius, após todos esses anos, parece estar decepcionado com a sua criação e tudo o que sacrificou para defendê-la, e pretende retornar aos Céus ao lado de seus irmãos. Como um anjo renegado, porém, ele acredita que precisa se redimir diante aos olhos dos arcanjos, sobretudo do Conselho ngiris, e para isso acredita que derrotar aquela que foi sua parceira de traição seria a forma mais interessante de provar seu arrependimento e sua lealdade. Sua crença nesta tese é tamanha que ele não se furta em assassinar o próprio filho, o nefalem necromante Rahtma, simplesmente porque ele se recusa a lutar ao seu lado. O novo herói que emerge para tentar conter a destruição de Lilith acaba no meio da disputa, quando ambos os antagonistas buscam cooptá-lo reconhecendo o seu valor, com o anjo renegado insistindo que a prisão na Pedra da Alma é insuficiente e que só a destruição total de sua ex-amada seria aceitável.
Se o argumento de Inarius não parece razoável, tampouco Lilith mostra ideias melhores. Ainda que tenha um ponto de vista que foge do maniqueísmo convencional, nosso protagonista percebe que a mãe de Santuário usa subterfúgios como mentira e manipulação para alcançar seus ideais mesquinhos, sendo a mãe de Neyrelle, uma estudiosa nas artes antigas da Ordem dos Horadrim que o acompanha desde os primeiros instantes da jornada, a primeira vítima que presenciamos, motivando a sua filha a caçar Lilith por toda Santuário com uma Pedra da Alma pronta para conter sua essência. Enquanto buscava confrontar seu pai, Mephisto, Lilith assassina Inarius a sangue frio quando este hesita e é o herói da história, acompanhado da própria Neyrelle, quem confronta o Senhor do Ódio primeiro. Ele propõe uma aliança para deter sua filha, algo que seria negado com veemência tanto pelo herói quanto por Neyrelle. Ao perceber que, mesmo diante de seus sentimentos de vingança, este que pertence aos três males superiores é uma ameaça muito maior se continuar solto, ela decide por selá-lo antes que fosse tarde.
Lilith surge e, frustrada com a derrota de seu pai, a quem queria absorver para se tornar uma entidade ainda mais poderosa, a batalha final é inevitável. Diante o Trono do Ódio, ela é derrotada uma vez mais, não antes de nos permitir vislumbrar novamente o retorno de Diablo tal como ela preconizava. Seriam as visões da Mãe dos Súcubus um blefe para nos convencer de que deveríamos apoiar sua causa ou ela realmente estava certa em nos precaver sobre um mal ainda maior do que ela mesma? Antes de qualquer resposta, Neyrelle parte com a Pedra da Alma contendo Mephisto sem dizer para onde ia, mas claramente perturbada pelo demônio. Ao menos por enquanto, Santuário está em paz.
A história de Diablo IV, claro, não termina aqui. As temporadas darão aos jogadores novas missões, tarefas e desafios, contando com novos recursos, inimigos, itens lendários e muito mais, e a primeira delas está para chegar já no dia 20 de julho. Intitulada Temporada dos Malígnos, a nova experiência promete trazer uma nova forma de corrupção que se espalha por Santuário, e será necessário uma nova dose de coragem para descobrir a fonte desta malignidade e, mais um vez, por fim ao martírio. A nossa expectativa é que o futuro da série seja tão glorioso quanto a volta de Lilith. Quais são os mistérios ainda não revelados que nos aguardam? Estamos preparados! E vocês?