Lá se vai um ano desde o lançamento de Monster Energy Supercross 5, jogo oficial da categoria que leva o nome de seu grande patrocinador, e cá estamos para analisar quais são as alterações que a nova edição trouxe para 2023. Monster Energy Supercross 6 não reinventa as duas rodas, joga absolutamente seguro naquilo que funciona a contento e mexe muito pouco na estrutura do game, e o resultado tem dois pontos centrais: o primeiro é que para quem não jogou os anteriores e gosta do esporte, este é sem dúvidas o mais sólido e estável game de motocross do mercado atualmente; mas ao mesmo tempo para quem já acompanha a franquia, será necessário um grande esforço para notar qualquer diferença substancial entre o que veio antes e o agora.
Em resumo, Monster Energy Supercross 6 é um jogo pautado na prática do motocross competitivo em pistas acidentadas com máquinas apropriadamente ajustadas para a lama, saltos arriscados, poeira e curvas apertadas em circuitos desafiadores e cheios de armadilhas. Mais do que velocidade, é a perícia em saber lidar com os percalços que determina quem sairá vencedor e quem terá que ir pra garagem, às vezes, a pé. É uma série desenvolvida pela Milestone S.r.l. desde 2018, a mesma das marcas MotoGP, Ride e Hot Wheels Unleashed e que, portanto, é uma das mais renomadas desenvolvedoras no nicho do esporte motorizado.
O jogo conta com alguns modos bastante convencionais e já esperados, que vão desde as corridas únicas para um ou dois jogadores off-line ou para até doze pessoas on-line; modos de tomada de tempo, o famoso time attack; bem como espaços para treino e aprimoramento de técnicas de manobra. Há um editor de pistas que, confesso, toma muito mais tempo do que a gente imagina que gastaria com uma perfumaria como esta, o que também vale para equipamentos customizáveis que podem inclusive ser compartilhados entre a comunidade. Estes e outros acenos a questões sociais, bem como um tutorial bastante generoso – ainda que exigente – que este ano traz o heptacampeão da categoria Jeremy McGrath como grande mentor, são formas interessantes de nos manter conectados ao game por um bom tempo.
O grande atrativo para o single-player, porém, se mantém no modo Carreira, dividido em três grandes eventos que vão desde a introdutória série Futures com poucas corridas e opções de acompanhamento ainda mais restritas; passam pela Rookie, que adiciona algumas camadas de tempero principalmente entre corridas; e aí sim temos condições de disputar no nível Pro com corridas mais distintas entre si, treinamento e sessões classificatórias, rivalidade com algum adversário direto e outras coisinhas mais. Estes torneios, porém, não trazem necessariamente uma escala crescente de dificuldade propriamente dita, mas sim um acréscimo no desafio pela exigência de aprofundamento em níveis de acompanhamento e gestão de carreira.
A dificuldade em si pode ser escolhida logo de início, e cada nível restringe o uso de facilitadores automatizados em um modelo de progressão bem generoso. É como quando aprendemos a andar de bicicleta e temos aquelas rodinhas auxiliares que nos dão um pouco mais de estabilidade e segurança para que aí sim possamos dar um passo adiante. Para quem não tem intimidade com a série ou mesmo precisa retomar o jeito, é recomendável começar, claro, pelo nível mais básico até para evitar uma frustração imediata. Para os veteranos, porém, vale a pena já pular diretamente para um dos outros dois níveis acima, não só porque os atalhos nos deixam um pouco mais desleixados, mas principalmente porque os controles automáticos mais atrapalham do que ajudam quem sabe o que tem que fazer.
Por exemplo, no vídeo que abre esta análise, decidi partir do básico e mostrar tutorial e a série Futures no modo assistido. Chega a ser irritante a forma como o jogo define pontos de frenagem e retomada de aceleração, o que pode trazer resultados pífios. Eu, por exemplo, gosto de atacar as curvas com mais agressividade e prefiro trabalhar no drift principalmente em ultrapassagens. Por mais que isso resulte em acidentes patéticos em várias oportunidades por passar do ponto, é a forma com a qual fico mais confortável de investir em curvas fechadas. Quando o freio vem antes do que eu preciso ou do que eu planejei, além de perder a investida, ainda atravesso canteiros e, não raro, literalmente paro a moto no caminho. Se em jogos como Ride essa assistência ajuda na tomada de traçados perfeitos, aqui onde o improviso é um recurso, acaba atrapalhando o estilo do jogador.
O mesmo vale para aceleração e retomada de velocidade, quando o jogo decide por ele mesmo quando é a hora de voltar à carga. Não é raro que a moto tenha um espasmo cedo demais e nos jogue em um barranco de uma forma abrupta causando uma queda ridícula. Se o equilíbrio do piloto assistido é uma preocupação a menos, com certeza os controles que tentam prever comportamentos não valem a pena, a não ser que o jogador seja mais adepto a um estilo técnico e reservado. A recomendação é evitar os facilitadores – que podem ser desligados a qualquer momento, individualmente, o que é ótimo para quem se interessa em uma curva de aprendizado mais agressiva – e investir diretamente nos modos de treinamento para dominar o controle do veículo o mais cedo possível, sem muletas.
Outro elemento que mudou pouco nos últimos anos é o sistema de customização de pilotos, algo que é até compreensível em relação às marcas de motos dado que é um produto licenciado, mas nem tanto quando se trata da nossa representação pessoal, muito aquém de outras tantas formas de criar o seu avatar que vemos em games deste e de outros gêneros. São alguns rostos (alguns medonhos) pré-definidos, opções de altura, cor de olhos e cabelo, corpo feminino ou masculino e… é isso. Por outro lado, uniformes são mais abundantes, seja pela multiplicidade de patrocinadores e marcas associadas, seja pela compra de itens cosméticos com o dinheiro ganho com vitórias e sucesso profissional. Como só vamos nos ver mesmo em cenas de pódio, melhor assim, investir tempo mais na roupa do na aparência física do sujeito.
Outro espaço grande para modificações é relacionado às estrelas do show, as motocicletas, graças a um sem fim de itens de diferentes marcas presentes no game. Enquanto certas peças são somente mudanças estéticas, outras trazem alguns atributos com melhorias. Cada marca traz os mesmos pontos extras para não tornar uma melhor que a outra, mas é possível, com algumas horas de dedicação, deixar a braba no ápice de seu potencial. Somam-se a isso outras habilidades em uma árvore do piloto que refinam capacidades como a de fazer curvas mais precisas, saltos mais estáveis, manobras mais limpas ou menos vulnerabilidade física a contusões, pontos de experiência estes conquistados como resultado de vitórias, claro, mas também de perícia em algumas metas, como número de ultrapassagens, saltos arriscados e outras tantas em uma listinha de tarefas complementares.
Nada disso, porém, é diferente do que já estava na edição de 2022, com mudanças leves aqui e ali, ajustes na interface e coisas assim. O que há de novo então, além da voz do nosso guia? Há um modo novo de ritmo, que é basicamente uma linha reta onde a meta é encontrar os melhores e mais precisos saltos, mas que depois de se conhecer as duas pistas não traz mais do que repetição, principalmente quanto pegamos o jeito; e a arena de treino tem lá uma ou outra construção diferente do que a do ano passado que não muda em quase nada a dinâmica de se passear de forma mais livre por entre campos abertos, montes de terra batida e um ou outro trecho asfaltado. Para os adeptos do jogo multiplataforma, o cross-play se mostra mais robusto do que nunca e parece muito mais funcional e estável do que tudo o que vimos antes, o que ajuda a achar pessoas para jogar junto. Neste período de avaliação, foram poucas as partidas cheias que consegui, mas nada que bots não resolvam.
Aquilo que eu esperava de melhorias, contudo, parece ainda tímido. A física do jogo tem alguns bons méritos ao nos responsabilizar pelo equilíbrio do piloto, algo que faz muita diferença, mas continua tendo alguns lapsos simplórios, principalmente no modelo de colisão. Você pode, ao mesmo tempo, atropelar um adversário como um trator e, na curva seguinte, sair voando como um boneco de Olinda ao encostar em um limitador de pista. Se por um lado cada queda é uma peça de comédia autêntica, por outro é frustrante cair sem sentir que merecia. A mecânica de retroceder uma jogada em alguns instantes é válida para contornar esses desvios, mas o remendo não parece compensar a sensação de que somos tão leves quanto um brinquedo de plástico. Outro elemento bem frustrante é a IA, que ora é estúpida e simplesmente ignora que estamos lá, ora parece jogar tão sujo quanto um Dick Vigarista sem charme.
Visualmente, Monster Energy Supercross 6 também não traz quaisquer mudanças perceptíveis, e mantem um equilíbrio entre ambientes bem realistas e adequados ao gênero, com efeitos climáticos competentes e texturas coesas, mas que parece dez anos parado no tempo em relação aos modelos humanos, além de uma fluidez de movimentos um tanto quanto robótica. Em termos sonoros, tem seus méritos na construção espacial, e se jogar usando o Pulse 3D não nos traz exatamente uma experiência tridimensional profunda, ao menos temos uma boa percepção da posição de adversários. Algumas músicas trazem aquele elemento independente que me agrada bastante, mas também não demora para que esqueçamos que elas estão lá, talvez por parecerem ser as mesmas de sempre o tempo todo.
Como algo novo, em resumo, o jogo evolui pouco, trazendo poucas atualizações em todos os aspectos e ficando aquém do potencial latente sobretudo em elementos que já parecem datados desde o primeiro game. Se a edição do ano passado ainda se valia de algumas boas diferenças graças à uma atualização técnica para a geração atual, a de 2023 evidencia uma característica incômoda em games esportivos anuais de inovar pouco, parte por limitações da próprias marca a ser transposta, já que não imagino chances de mecânicas diferentes ou elementos fantásticos e conceituais dada a âncora realista da coisa toda; parte por simplesmente manter confortavelmente aquilo que parece consolidado, mesmo que esteja longe da perfeição. Para um jogo que representa um esporte tão arriscado, ironicamente falta ousadia para que Monster Energy Supercross 6 supere o que veio antes e, principalmente, ultrapasse seus próprios limites.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Milestone.
Veredito
Monster Energy Supercross – The Official Videogame 6 continua sendo um ótimo jogo em seu segmento, com mecânicas sólidas, visuais competentes e um bom nível de desafio. Contudo, inova muito pouco em relação a seus antecessores e mantém alguns dos problemas crônicos da franquia, fazendo com que esta seja só uma repetição do que já vimos antes tanto em seus acertos como também em seus erros.
Monster Energy Supercross – The Official Videogame 6 remains a great game in its segment, with solid mechanics, competent visuals and a good level of challenge. However, it innovates very little compared to its predecessors and maintains some of the franchise’s chronic problems.
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