Nos últimos anos é inegável dizer o quanto a franquia Yakuza, agora chamada de Like a Dragon, acabou se popularizando no ocidente. Desde o lançamento de Yakuza 0, Kazuma Kiryu e companhia foram conquistando cada vez mais fãs e junto deles um pequeno fio de esperança de um dia vermos os famosos spin-offs, que nunca saíram do Japão, finalmente localizados. Eis que ano passado a desenvolvedora Ryu Ga Gotoku Studio anunciou Like a Dragon: Ishin!, remake do jogo de mesmo nome, e já podemos adiantar que a RGG acertou mais uma vez.
Como já dito, Ishin é um spin-off da franquia Yakuza/Like a Dragon que coloca nossos tão amados personagens na pele de figuras reais da história do Japão. No original, o game trazia personagens desde o primeiro Yakuza até o quinto. Agora no remake, a RGG também optou por colocar alguns rostos conhecidos de Yakuza 0, 6 e Like a Dragon. Portanto, espere reencontrar Daisaku Kuze, Joon-gi Han, Koichi Adachi, entre outros.
Like a Dragon: Ishin! se passa durante o Japão dos anos de 1860, período conhecido como Xogunato Tokugawa tardio, em que o país se dividia entre patriotas nacionalistas que apoiavam o imperador e aqueles cuja lealdade estava para com os Xoguns, dentre eles a força de elite Shinsengumi.
O game nos coloca na pele de Sakamoto Ryoma, um samurai de Tosa, que se envolve com os patriotas a pedido de Yoshida Toyo e Takechi Hanpeita. Entretanto, Toyo é assassinado e Ryoma é acusado do crime. Jurando descobrir quem foi o responsável, ele foge de Tosa e abre mão de seu nome. Agora como Saito Hajime, embarcaremos em uma trama cheia de intrigas, reviravoltas, traições e muito derramamento de sangue.
É interessante observar como Ryoma e Kiryu possuem algumas características em comum em suas personalidades. Ambos sempre colocando seus ideais e aqueles que amam acima de si mesmos.
Toda a ação de Ishin se passa na cidade de Kyo, antiga Kyoto, um lugar cheio de vida e recheado de atividades pra realizar entre as missões da campanha principal. A gameplay possui o mesmo esqueleto já visto nos títulos anteriores. Temos a história principal, que dessa vez é bem direta e sem grandes enrolações, mas também podemos explorar e participar das mais variadas atividades que vão desde virar um frequentador assíduo de um restaurante a até mesmo apostar em corridas de galos.
Além dos já velhos conhecidos mini-games de karaoke, poker, koi-koi, cho-han, pescaria entre outros, dessa vez temos também mini-games em que podemos dançar buyo, trabalhar como atendente da barraquinha de udon, cortar lenha e desafiar as cortesãs em competições de jokenpô e de quem consegue beber mais saquê. E já fica o alerta, eles são extremamente viciantes. Por diversas vezes irá acontecer de pararmos a história só para podermos ir cuidar da nossa fazenda. Pois é, como se já não fosse o bastante, Ishin também traz o Another Life, uma espécie de fazendinha a lá Harvest Moon, mas muito mais simples. Funcionando como algo completamente opcional, nela podemos plantar diversos legumes e verduras, criar animais, expandir nossa casa, entregar pedidos e cozinhar.
E se estamos falando de minigames e atividades opcionais, não podemos esquecer das substories. Funcionando como uma espécie de side quests, elas estão de volta, divertidas e, em alguns momentos, completamente absurdas, mas dessa vez em uma quantidade moderada e em sua maioria muito mais rápidas de serem concluídas, visto que uma boa parcela delas está atrelada ao sistema de Bond, no qual fazemos amizades com outros moradores de Kyo. Infelizmente essa mecânica pode acabar se tornando bastante repetitiva e monótona, já que por diversas vezes teremos de cumprir os mesmo requisitos para conquistar diferentes amizades.
O combate do game também segue o padrão da franquia: muita pancadaria no melhor estilo beat-up e com as famosas e excelentes execuções das Heat Actions. Aqui, dessa vez, podemos alternar entre quatros estilos: o Brawler, que nada mais é do que o combate corpo a corpo clássico da série; o estilo Swordsman em que empunhamos uma katana lutando como um bom samurai e onde saber fazer bom uso do pary pode ser um diferencial. Temos também o Gunman cujas armas principais são pistolas, revólveres e afins e, por último, o Wild Dance, que é, de longe, um dos estilos mais divertidos e criativos no qual empunhamos uma katana e uma arma, cada uma em uma mão, enquanto desferimos combos rápidos e estilosos. Todos eles funcionam muito bem, sendo fácil de masterizá-los enquanto proporcionam um combate fluído e divertido.
Os pequenos elementos de RPG ainda continuam presentes. Após cada combate, ganhamos uma quantidade de experiência podendo subir de nível. Enquanto vamos upando, recebemos orbes de treinamento e de estilo. Esses orbes serão usados para liberar novas habilidades, heat actions e melhorar nosso dano e pontos de vida. Há, também, habilidades que só podem ser desbloqueadas aprendendo com os mestres de cada estilo. Por último, não podemos deixar de comentar do sistema de craft de armas e equipamentos que promete consumir boas horas dos jogadores que quiserem ter todos eles.
Like a Dragon: Ishin! também conta com mais uma atividade opcional envolvendo combate junto de uma gameplay no estilo dungeon crawler. São uma série de missões que consistem em explorar pequenas dungeons recolhendo itens para craft enquanto derrotamos vários inimigos. Nela, também recrutamos guerreiros em forma de cartas que possuem habilidades ativas e passivas e que quando são ativadas, nos permitem executar ataques especiais. E é aí que entra mais uma novidade do remake, o trooper system. Diferentemente do original, aqui essas cartas também podem ser usadas durante o game todo, sendo, em alguns momentos, verdadeiras salvadoras de vidas. Por outro lado, os chefes também podem fazer uso dos golpes especiais delas, o que, em certos momentos, acaba deixando algumas batalhas um pouco frustrantes.
Qualquer semelhança que Like a Dragon: Ishin! tenha com Yakuza 0 está longe de ser uma mera coincidência. Isso porque, originalmente, ele foi desenvolvido como um protótipo para testar novas mecânicas para os títulos subsequentes. Portanto, se você já jogou outros títulos da franquia, irá se familiarizar com Ishin em poucas horas.
Visualmente falando o game é lindo, nos apresentando uma cidade magnífica junto de cutscenes com detalhes e texturas extremamente caprichados. Essa é a primeira vez que a RGG faz uso da Unreal Engine 4 e o resultado é bastante positivo. Podemos dizer que a qualidade visual consegue se encaixar perfeitamente entre a engine usada nos Yakuza 0, Kiwami, 5 e Fist of the North Star e a atual Dragon Engine. Entretanto, em alguns momentos, o game apresentou pequenos delays durante o carregamento das texturas.
E não podemos deixar de fora a trilha sonora, uma das grandes marcas da série. Aqui ela continua excelente, trazendo uma mistura do estilo já conhecido junto de instrumentos da música tradicional japonesa, nos levando por completo para o clima do Japão feudal. Ela casa com perfeição nos mais diversos momentos do game, seja durante um combate pelas ruas de Kyo, uma luta épica contra um chefe ou em momentos mais delicados e emotivos.
Ainda dentre as novidades do remake precisamos destacar um Modo Foto inédito na franquia com direito a diferentes poses, expressões faciais, filtros e estampas, além de um filtro cinematográfico que simula os antigos filmes de samurais podendo ser ligado/desligado a qualquer momento. Também temos uma série de opções de acessibilidade que vão desde a possibilidade de alterar tamanho e cores das fontes a até modificar o pressionar de botões durante QTEs, Heat Actions e outros detalhes relacionados ao combate. Tudo isso para deixar o game o mais amigável possível, agradando tanto jogadores casuais quanto hardcores.
Um dos grandes empecilhos para a localização do Ishin original, eram algumas palavras e termos que caíram em desuso do japonês moderno, segundo o head da RGG, Masayoshi Yokoyama. Pensando nisso, foi adicionado um sistema de glossário no qual sempre que tais palavras aparecerem, haverá um botão que exibirá uma breve explicação. Tal sistema estará disponível apenas na versão ocidental do game.
Infelizmente, enquanto analisava o game, encontrei pequenos bugs relacionados a colisão de NPCs que ficavam presos no chão, texturas que sofriam pequenos delays ao carregar e em pouquíssimas ocasiões os menus de seleção durante diálogos não apareciam. O Photo Mode também estava com problemas nas opções faciais, mas o patch day one já corrigiu isso além de ter adicionado dezenas das opções de acessibilidade mencionadas acima.
Para nós brasileiros, o maior problema de Like a Dragon: Ishin! é a falta de uma localização para o português. Apesar do último game do estúdio — Lost Judgment — não ter recebido o idioma, ainda havia uma fagulha de esperança que Ishin teria um tratamento diferente. O que é uma pena, visto que a falta da localização é um dos grandes impedimentos para que mais jogadores conheçam a franquia.
Like a Dragon: Ishin! é o remake com que os fãs ocidentais tanto sonharam. Para aqueles que conhecem a história do Japão, sua trama se tornará ainda mais interessante pelo quão brilhante é a mistura de realidade e ficção que a RGG criou.
É um game com uma campanha principal cativante, cheia de personalidade, recheado de atividades opcionais divertidas e viciantes, junto de uma gameplay que apesar de ser mais do mesmo, traz um ar de novidade com os novos estilos, tornando-se difícil querer parar de jogar. Um remake que agradará veteranos e novatos, funcionando, até mesmo, como uma possível porta de entrada da franquia. É a RGG entregando mais uma vez um game cheio de qualidade e carinho, o que nos deixa animados e ansiosos com o que esperar para os próximos títulos. Pois uma coisa é certa, o futuro de Like a Dragon tem tudo para continuar sendo brilhante.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela SEGA.
Veredito
Com uma história grandiosa, personagens carismáticos e marcantes, combate fluído e divertido e uma gameplay que é a marca da franquia, Like a Dragon: Ishin! é o remake que os fãs tanto queriam. Mesmo apresentando pequenos bugs, a Ryu Ga Gotoku Studio mostra, mais uma vez, que a fórmula da série está longe de enjoar e nos deixa ansiosos com o que virá pela frente.
With a great story, charismatic characters, fluid and fun combat and a gameplay that is the hallmark of the franchise, Like a Dragon: Ishin! is the remake fans wanted so badly. Even with small bugs, Ryu Ga Gotoku Studio shows, once again, that the series’ formula is far from boring and makes us anxious about what will come ahead.
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