Digimon Survive – Review

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Digimon Survive é uma visual novel. Se há algo que você precisa tirar desse review, além dos vários elogios e pequenas críticas que serão feitas, é que trata-se de uma visual novel com elementos de RPG de Estratégia e não o contrário. Ajustar suas expectativas com o que você encontrará aqui é uma das coisas mais importantes que você precisará fazer antes de seguir em frente.

De certa forma, ser uma visual novel é uma das coisas mais bem-vindas que Digimon Survive traz para a franquia que, se surgiu como uma das várias tentativas de capitalizar no “boom” dos monstros colecionáveis da década de 90, se consolidou como uma das mais queridas e reconhecidas propriedades intelectuais japonesas de todos os tempos.

Ela pode não ter alcançado os patamares estratosféricos de sua principal competidora, mas Digimon até hoje tem uma base de fãs apaixonada, finalmente sendo recompensada com o aumento de produtos sendo lançados (sejam novos filmes, animes ou jogos) e com uma clara atenção à expansão do lore e na produção de títulos de alta qualidade. E nessa pegada vem Digimon Survive.

Digimon Survive

Aqui temos um grupo de jovens estudantes que, ao realizarem uma visita de escola a um local místico, acabam vivenciando um breve desastre natural e sendo transportados para o digimundo. Se isso soa como… Bem, como quase todas as temporadas do anime de Digimon, isso é bem deliberado.

Survive é uma narrativa cheia de pequenas menções e easter-eggs para os fãs de longa data da série, mas uma que, antes de tudo, se sustenta pela força da história que se propõe a contar. O jogo coloca o protagonista de cabelo preto e óculos largos da vez, o jovem Takuma, e um grupo de estudantes da sua escola em uma excursão de verão para um pequeno vilarejo nas montanhas para conhecer um pouco mais sobre a cultura e história do lugar.

Lá, eles acabam conhecendo dois jovens irmãos da região que os ajudam a chegar a um templo sagrado para o qual a estrada principal estava interditada. Nesse tempo, os jovens conhecem um professor especializado na mitologia da região e, logo após um pequeno tremor, acabam acordando em um mundo parecido com o seu mas, ao mesmo tempo, bem diferente, e cercados por estranhas criaturas.

Digimon Survive

Cabe então ao grupo de jovens sobreviver nesse mundo inóspito enquanto buscam uma forma de voltar para o seu mundo, tentando aprender mais sobre as criaturas que ali existem, a misteriosa névoa que os cercam e como os lendários “Kemonogami” (literalmente “Deuses Fera”) se correlacionam com os digimons e as lendas sobre sacrifícios de crianças que cercam a região.

Esse background é um dos mais interessantes sobre Digimon Survive. A mistura de folclore japonês com o próprio mythos da franquia é muito bem-vindo e serve para adicionar um certo ar de legitimidade e perigo às criaturas digitais. Isso é algo bem proposital visto que, ao contrário do tom mais leve de outros jogos da franquia, Survive é muito mais denso e pesado em sua narrativa.

À primeira vista, o tom mais sombrio adotado pode parecer esquisito para uma franquia focada num público mais jovem, mas é inegável que Digimon sempre teve a coragem (raramente vista em sua principal “concorrente”) de abordar temas como morte, abandono, possessão e coisas similares, desde a temporada original de Digimon Adventure (afinal, o primeiro grande vilão era, apropriadamente, o Devimon).

Digimon Survive

Survive estabelece desde o começo as regras do seu mundo, com Digimons bons e ruins, com todos eles sendo incapazes de fazer o necessário para seguirem vivos. Com isso, há sempre o risco de um Digimon inimigo efetivamente matar um dos seus aliados e, mais importante para uma visual novel, faz com que cada uma das suas decisões importe e seja decisiva no desenrolar da história.

Nisso o nome “sobreviver” do título faz jus em sua história já que, a depender do que você fizer ao longo da história e quais decisões tomar influenciam o desenrolar da história, com o sistema de “karma” do jogo, que divide cada decisão em três opções de diálogos – Moral, Colérico e Harmônico – ajudando a determinar o seu final, incluindo quais dos seus aliados conseguiram sobreviver e escapar daquele mundo.

É honestamente um sistema muito bem-vindo e faz com que a narrativa do jogo não só seja muito bem construída e envolvente, com mistérios novos surgindo e se desenvolvendo a cada capítulo e te prendendo a história, mas com que você também se sinta como um agente importante, decidindo os rumos da jornada daqueles personagens. E, por se tratar de uma visual novel na qual mais de 70% do tempo você passa lendo, era fundamental que o estúdio tivesse acertado nisso (e acertaram).

Digimon Survive

O outro lado de sustentação da narrativa são os seus personagens e aqui talvez seja o único ponto da história em que alguns jogadores facilmente poderão argumentar que o jogo vacila. Os oito “digiescolhidos” de Survive são uma clara releitura dos oito originais de Digimon Adventure, cabendo muito ao jogador investir e ter paciência ao acompanhar a jornada de mudança e crescimento desses personagens.

Alguns deles, como o trio principal (Takuma, Aoi e Minoru, que me lembram bastante da relação entre Tai, Sora e Izzy em DA) são bem fáceis de se gostar, com uma ótima dinâmica entre si e com seus companheiros (Agumon, Labramon e Falcomon respectivamente). Já os demais são um gosto um pouco mais adquiridos, com Shuuji e Ryo sendo personagens que parecem ter sido deliberadamente escritos para irritar o jogador (ainda que suas reações sejam críveis e compreensíveis dada a situação em que o grupo se encontra e as ameaças enfrentadas).

O lado positivo é que, se você der tempo a eles, há bastante espaço para conquistarem o seu coração e se mostrarem como personagens bem desenvolvidos, com suas próprias falhas, medos e anseios. O outro lado é que, caso você se apegue, é bem possível que um pouco de dor e sofrimento venha para você, já que vários desses personagens principais (e vários outros secundários) podem não chegar vivos ao final da jornada.

Digimon Survive

É importante dizer que o sistema de Karma afeta mais do que só o desenrolar da história, incluindo aqui a linha de evolução do Agumon e a afinidade entre Takuma e seus companheiros. Essa última não só vai sendo melhorada através das suas decisões ao longo da história, mas também tendo Agumon lutando ao lado dos seus companheiros e durante raros momentos de exploração chamados de “Ações Livres”, no qual é possível conversar com seus aliados especialmente para melhorar a afinidade.

Cabe dizer ainda que o jogo conta com um breve sistema de “exploração”, no qual você pode escolher quais áreas visitar através do menu e interagir com certos pontos do cenário. Muito disso é feito como forma de explorar o mapa e descobrir como progredir pela campanha, mas também é possível encontrar itens consumíveis e batalhas especiais usando a câmera do seu smartphone.
Smartphone, aliás, que serve como layout para um dos aspectos que mais impressiona aqui: o visual do jogo. Todos os menus são apresentados como aplicativos de celular e arte tanto neles quanto durante a história e os modelos durante o combate são dignos de nota. Tudo é muito, muito bonito, fluido e surpreendentemente bem animado, fugindo dos tradicionais painéis 2D estáticos vistos em outras visual novels.

Digimon Survive

Um dos principais vacilos do jogo, porém, fica nos próprios menus. Para um jogo que foi, de forma muito bem-vinda, totalmente legendado em português, existem algumas telas que ainda aparecem em inglês. Não é nada que atrapalhe, mas, considerando o claro cuidado na qualidade da localização (com algumas das melhores sacadas e adaptações de diálogo que eu já vi), existem erros de enquadramento e partes não-traduzidas que acabam atrapalhando um pouco um trabalho que em sua maior parte foi primoroso.

Meu outro problema com Digimon Survive acabou ficando com algo que eu não esperava: o seu sistema de combate. Apesar de não esperar um sistema de combate dos mais profundos, visto que o sistema de RPG de Estratégia me parece muito mais uma ferramenta narrativa para demonstrar que aquelas criaturas estão se movendo pelo mundo, ele acabou saindo mais raso do que eu esperava.

Se você é fã de jogos como Final Fantasy Tactics, Disgaea ou Fire Emblem, as similaridades não vão muito além da movimentação baseada em um tabuleiro. Fãs de visual novels talvez estejam mais ambientados com a comparação, mas é inegável que, se Digimon Survive se inspirou em algum jogo, foi na clara vontade de fazer um Utawarerumono com os monstrinhos digitais.

Digimon Survive

Muito como na adorada (porém bastante desconhecida) franquia da Sting/Aquaplus, cada personagem possui seu próprio modelo chibi (bem bonitos, por sinal) e você pode movê-los, cada qual em seu turno, pelas áreas. No começo da batalha você pode escolher até 06 digimons para levar para o combate, com cada um deles tendo habilidades distintas, com o jogo esperando que você saiba como equilibrá-las para um maior êxito.

Isso significa que não só é necessário pensar no tradicional sistema de pedra-papel-tesoura da franquia (Vacina-Vírus-Dados), mas também no fato de que mesmo digimons do mesmo tipo possuem focos distintos, como no já mencionado trio inicial em que, apesar de todos serem do tipo Vacina, cada um tem uma “função” distinta (Agumon em ataques à distância, Falcomon em movimentação e ataques físicos e Labramon em cura/suporte).

Além disso, quase todas as suas habilidades consomem SP, salvo pelo ataque mais básico. A ideia seria forçar o jogador a administrar o uso de SP dessa forma, mas visto que é algo bem fácil de se recuperar (seja com itens de cura ou o simples fato de que se defender por um turno recupera cerca de 10 a 15% do seu SP), isso realmente só acontece ao se usar digievoluções mais poderosas (como em todo bom anime, as digievoluções dos companheiros precisam ser ativadas em combate e consomem um pouco de SP a cada turno).

Digimon Survive

O combate também possui uma última e interessante mecânica que é a possibilidade de conversar com os digimons no meio dela. Isso faz com que você possa tanto falar com os seus para motivá-los e dar buffs durante combate quanto tentar conversar com digimons inimigos para recrutá-los para a sua equipe, num sistema bem parecido com Shin Megami Tensei.

Para isso, é necessário acertar a resposta do diálogo até completar seis barras de “simpatia” para que eles resolvam se juntar à você. É algo muito bem-vindo e facilita bastante a obtenção dos mais de 100 tipos de digimon disponíveis para compor a sua equipe. Há um certo elemento de aleatoriedade nisso, visto que são 04 respostas e nem sempre é fácil adivinhar a resposta correta, mas não foge muito do sistema do jogo que o inspirou, incluindo com decisões erradas podendo gerar buffs para os inimigos.

Existem outras questões tradicionais de RPGs de Estratégia aqui, como o fato do seu posicionamento também podendo te dar bônus de dano pelo flanqueamento ou a proximidade de aliados permitindo o uso de ataques de equipe ou ações de suporte, mas tudo isso parece um tanto quanto desnecessário. Por que? Bom… Porque Digimon Survive é um RPG de Estratégia muito fácil.

Digimon Survive

Mesmo em suas dificuldades mais altas, Digimon Survive raramente te desafia em qualquer coisa. Se você já tem um pouco de experiência então, tudo se torna muito fácil e muito previsível, tornando o combate quase entediante se você souber como usar as mecânicas dele ao seu favor, mesmo em batalhas contra chefes que deveriam ser desafiadoras.

Mesmo para os jogadores que não tem, a adição de um modo de batalha livre significa que é bem fácil grindar experiência e ter personagens bem fortes capazes de passar com facilidade por cima dos seus inimigos, tirando bastante da graça dos combates e tornando-os muito mais uma formalidade do que outro elemento valioso do jogo.

E essa provavelmente é a minha maior reclamação com o jogo. O sistema de combate que, com pequenos ajustes, poderia ser bem melhor, mas seus pequenos tropeços limitam o quão bom Digimon Survive consegue efetivamente ser. É especialmente frustrante porque é possível ver que há o potencial para um ótimo sistema de combate em conjunto com a excelente história e carismáticos personagens que o jogo traz.

Digimon Survive

Dito tudo isso, se você é um fã da franquia e não se incomoda com o fato do jogo ser majoritariamente um visual novel, ele vai te agradar bastante. Há um vasto rol de coisas excelentes aqui, incluindo a história, com ótimos plot twists e uma constante sensação de peso nas suas decisões, e a forma como os personagens são escritos. Mesmo os problemas com a localização é algo que, com pequenas atualizações, a Bandai Namco pode resolver.

Digimon sempre foi uma franquia capaz de demonstrar seu potencial de diferentes maneiras, muito pela ousadia de fugir da caixinha e tentar se reinventar, sem ficar durante décadas regurgitando o mesmo jogo ou anime apenas com pequenas mudanças pelo medo de desagradar os fãs. Digimon Survive é mais uma prova de que, mesmo que em termos financeiros ela não tenha vencido a guerra, ela será criativamente a franquia superior.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bandai Namco.

Veredito

Digimon Survive é uma excelente visual novel com uma história incrível, ótimos personagens, um tom cativante e ambientação envolvente. Seus únicos pontos fracos ficam por conta de problemas na localização e o fraco sistema de combate que, apesar dos pilares para algo excelente, é pouco desafiador e simples demais na prática.

85

Digimon Survive

Fabricante: Hyde

Plataforma: PS4

Gênero: Visual Novel / RPG de Estratégia

Distribuidora: Bandai Namco

Lançamento: 28/07/2022

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive platina)

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Digimon Survive is an excellent visual novel with an amazing story, great characters, a captivating tone and an engaging setting. Its only weaknesses are the localization problems and the weak combat system that, despite the pillars for something excellent, is easy and too simple.

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Digimon Survive is an excellent visual novel with an amazing story, great characters, a captivating tone and an engaging setting. Its only weaknesses are the localization problems and the weak combat system that, despite the pillars for something excellent, is easy and too simple.

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