ALERTA: se você não é adepto de pactos satânicos e cultos demoníacos, sugiro deixar Cult of the Lamb de lado e escolher outra coisa pra jogar. Aí você me pergunta: “Mas como assim? Ele é tão colorido e fofinho!”, e eu te faço outra pergunta: quem disse que um jogo não pode ter essas duas coisas ao mesmo tempo?
O novo título indie desenvolvido pela Massive Monster e publicado pela Devolver Digital no dia 11 de agosto começa com o Cordeiro amarrado e caminhando rumo a seu próprio sacrifício. Chegando a seu destino, quatro Bispos assustadores dizem que a profecia será impossível de ser cumprida com sua morte. Porém, surpresa! Chegando ao submundo, o Cordeiro é ressuscitado por um ser identificado como Aquele Que Espera, para o qual você, o último de sua espécie, deverá iniciar um culto em troca desse pequeno favor. Curioso, não?
Tudo parece novo, e o desconhecido dá medo, mas calma! Não demora muito e você encontra Ratau em seu caminho, um antigo receptáculo, assim como o Cordeiro, e que te servirá de guia. Ele vai aparecer de vez em quando, e você também poderá visitá-lo para futuras interações e para se distrair um pouco com um rápido e competitivo jogo de dados. Mas esse primeiro encontro é bem curto, então logo ele te deixa sozinho para que você atravesse a floresta e encontre a saída.
E aí sim começa Cult of the Lamb. Ele é basicamente dividido em duas partes que acontecem simultaneamente. A primeira é um clássico farm building, onde você vai precisar erguer construções, plantar, coletar recursos, alimentar e pastorear seus seguidores que vão surgindo ao longo da sua aventura. Você vai ter inúmeras opções, inclusive decorações e customização de piso, sem falar na ordem que vai preferir seguir quando estiver construindo sua base. Impossível não lembrar de outros jogos desse mesmo estilo, como o clássico Don’t Starve ou até mesmo Cozy Grove, um que analisei em 2021 e que já tem uma sequência anunciada.
O Cordeiro começa seu culto do zero, precisando coletar recursos para esguer suas primeiras contruções e recrutar novos seguidores. E como se trata de um culto, aqui vamos ver todas as características já conhecidas desse meio (ou pelo menos as mais estereotipadas). Seus seguidores vão orar para você, vão trabalhar na sua base, e você precisará mante-los fiéis para o bem da sua seita. Para isso, siga uma rotina básica: pregue sermões diários, ensine a liturgia, cobre o dízimo, realize rituais (dos mais inofensivos aos mais tenebrosos, inclusive o sacrifício de seguidores). Com isso o Cordeiro conseguirá subir o nível do culto e aprimorar suas habilidades de combate.
Uma coisa legal é que suas doutrinas não são pré-determinadas. Sempre que for liberar uma nova, você terá duas opções, e precisará escolher apenas uma delas. Aprimorar pescaria ou agricultura? Fazer dois de seus seguidores lutarem até a morte ou possibilitar que o Cordeiro se case com um – ou, na verdade, quantos você quiser – deles? São escolhas como essas que transformam Cult of the Lamb em uma experiência única para cada jogador.
Você terá todos os tipos de seguidores: aqueles que farão tudo por você, aqueles que vão te pedir coisas, aqueles que vão ficar doentes e dar pequenos problemas, aqueles que vão se rebelar e começar a pregar contra você, entre outras situações. Mantenha tudo limpo e em ordem, delegue funções, preste atenção aos marcadores de fé, fome e saúde, abençoe e inspire seus seguidores para conseguir deles mais devoção, e assim tudo vai dar certo. Confuso? Talvez. Mas as coisas são apresentadas aos poucos, então é bem tranquilo de assimilar a função de cada uma delas e utilizá-las em seu favor.
Aproveitando a imagem acima, vamos falar sobre bugs. Alguns são visuais, como por exemplo aquele seguidor de olhos vermelhos lá em cima na tela. Ele na verdade está na prisão por ter se rebelado, mas foi renderizado ali na entrada da base. Há outros pequenos problemas, especialmente momentos em que o jogo parece que vai travar, mas só demora bem mais para que alguma ação seja completada. Tudo isso é aceitável, até porque Cult of the Lamb está apenas há uma semana entre nós, e os desenvolvedores já estão cientes e trabalhando em soluções.
A segunda parte de Cult of the Lamb é um roguelite, em que o Cordeiro sai em cruzadas. Ele entra por uma porta e pega uma arma e uma maldição para lançar nos inimigos, para em seguida avançar pelo mapa montado randomicamente. Você vai se deparar com salas cheias de inimigos, lugares onde vai poder tirar cartas de tarô e com elas ganhar vantagens temporárias, outros onde vai poder coletar recursos, e no meio de tudo isso ainda vai conhecer novos personagens e recrutar novos seguidores.
A princípio você precisará escolher o caminho a seguir e não poderá passar pelas outras áreas previamente não selecionadas. Analise bem o que vai estar presente no mapa antes de tomar sua decisão. Está precisando recrutar seguidores? Ou talvez de algum recurso específico? Quer sacar uma carta de tarô extra? Pense nisso antes de decidir.
Ao final de cada fase, será preciso enfrentar um miniboss ou um dos quatro bosses principais do jogo, os Bispos. Tendo sucesso, o Cordeiro volta para seu culto com várias recompensas e inclusive com possibilidades de ganhar novos poderes. Caso não consiga sobreviver até o final, contudo, você vai perder alguns itens e retornar à sua base de qualquer maneira, tendo que entrar pela porta e encarar a fase montada de forma aleatoria novamente.
Após derrotar o boss do território em questão, é possível estender sua cruzada e explorar mais dos lugares em busca de qualquer coisa do seu interesse que tenha ficado para trás. Só não esqueça que você tem seguidores que precisam de você no culto, então só continue sua jornada se não tiver problema deixá-los sozinhos por mais tempo.
Além dessas partes principais, várias outras coisas a serem feitas ficam disponíveis conforme vamos avançando em Cult of the Lamb. Seus seguidores vão surgir frequentemente com pedidos que automaticamente se transformam em curtas missões (caso você as aceite), que envolvem fazer determinados rituais, encontrar seguidores, coletar itens, entre outras demandas.
Existem personagens que serão encontrados nas cruzadas, com quem o Cordeiro poderá interagir depois, seja para missões especiais ou apenas para jogar partidas do Jogo do Bugalho (aquele jogo de dados que mencionei lá no início da análise) – e acredite, especialmente por ser rápido e dinâmico, é bastante divertido e pode até render boas recompensas. Há também locais diferentes que vão sendo liberados no mapa de acordo com o seu avanço em cada um dos quatro territórios a serem explorados, e com eles novas missões, pescaria e novas cartas de tatô e peças de decoração que podem ser compradas.
De modo geral, Cult of the Lamb é um jogo fluido que te faz avançar tão naturalmente que você quase não percebe esforço. Não é difícil demais, o que impede que você desista de continuar por se enfurecer com frequência, mas também não é excessivamente fácil, proporcionando assim desafios no nível certo.
Mesmo tendo uma história com final, existe a opção “Programação” no primeiro menu, que ao ser selecionada informa que em breve o game terá atualizações gratuitas. Por hora só nos resta esperar ansiosos para descobrir o que vem por aí, mas já foi confirmado que não serão apenas ajustes e correções de bugs.
Cada detalhe de Cult of the Lamb deixa claro que foi um projeto extremamente bem pensado. É um daqueles jogos que não demandam tanto tempo pra completar uma fase, e por isso é possível parar praticamente a qualquer momento; ainda assim, eu sempre me pegava pensando “vou só conseguir recursos pra construir mais uma coisinha” ou então “vou só derrotar mais um miniboss”. Apesar de ser longo, não é um jogo cansativo, e com tudo isso parece ter a receita do sucesso. Não é à toa que recebeu a marca de 1 milhão de jogadores apenas na primeira semana. Teriam os próprios criadores feito um pacto? Fica aqui o questionamento.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Devolver Digital.
Veredito
Uma mistura de farm building e roguelite, Cult of the Lamb é impecável no que se propõe. É maravilhosa a riqueza de detalhes e como consegue juntar elementos totalmente sombrios com visuais coloridos e fofinhos numa história que o mantém animado mesmo depois de horas fazendo praticamente as mesmas coisas – e amando cada minuto delas.
A mix of farm building and roguelite, Cult of the Lamb is impeccable in what it sets out to do. It’s wonderful the richness of detail and how it manages to combine totally dark elements with colorful and cute visuals in a story that keeps you excited even after hours of doing practically the same things – and loving every minute of it.
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