GigaBash – Review
O ano era 1933. Nos cinemas, um gorila gigante escalava um dos edifícios mais reconhecíveis do mundo em uma das cenas mais icônicas de todos os tempos. Tão ridículo quanto fascinante, o filme se tornou um sucesso instantâneo. Pouco mais de 20 anos depois, do outro lado do mundo, um lagarto gigante destruía cidades inteiras de isopor enquanto encantava crianças e adultos. Algumas décadas depois, monstros colossais, robôs gigantescos e pessoas crescidas estavam se estapeando nas telas – grandes ou pequenas – para nunca mais pararem. Também, pudera: seja em produções baratas com roupas de borracha das mais esdrúxulas, seja em grandes blockbusters cheios de computação gráfica, é inegável que muitos de nós sempre vão achar divertido ver a pancadaria gratuita em grande escala comendo solta. É disso que se trata GigaBash.
O jogo é basicamente um brawler de arena com visão isométrica que coloca frente a frente alguns dos arquétipos mais reconhecíveis desse meio, aqui chamados de titãs, para se arrebentarem por pouco mais de uma dúzia de arenas típicas, as quais certamente já vimos antes em outro lugar, como cidades, campos militares e florestas tropicais. Com a possibilidade de se ter até quatro oponentes em tela, cada qual com seus movimentos específicos e peculiaridades que os tornam únicos, a jogabilidade é tão profunda quanto um pires, o que pode ser frustrante para quem espera algo super elaborado, mas muito bem-vindo para quem pretende só ver o caos reinando.
Com dez personagens disponíveis, alguns deles liberados após cumprirmos algumas metas in-game, GigaBash certamente vai remeter a várias produções clássicas, incluindo um monstro brutamontes, o bom e velho inseto gigante, aquele inevitável lagarto que solta rajadas atômicas, uma graciosa mas mortal planta antropomórfica, além de um sujeito com colante e máscara com o físico impecável do Nacional Kid e um grande robô cavaleiro com direito a espada e tudo mais. Se não for suficiente, ainda tem um simpático monstro das neves, uma criatura feita de minérios e cristais e… um prédio que mais parece a evolução da casa-monstro lá da animação de 2006.
Como espera-se do gênero, o foco principal está no multiplayer, colocando jogadores, individualmente ou organizados por equipes 2×2, para se degladiarem sem sobreaviso ou qualquer preparação narrativa. Felizmente, essa experiência pode ser compartilhada tanto para até quatro pessoas localmente como on-line. No primeiro caso, aliás, há um modo extra, chamado de Mayhem, cheio de missões um pouco distintas do clássico “quem apanhar mais, perde”, como coletar a maior quantidade de orbes no tempo estipulado ou destruir prédios com mais efetividade. Inexplicavelmente, esse modo gincana, se assim eu puder chamar, não pode ser jogado remotamente, nem contra a CPU, o que é uma pena porque acabaria agregando muito valor e qualidade de vida ao game.
Isso significa que não há como aproveitar GigaBash jogando sozinho? Para nossa alegria, não. Ainda que seja uma proposta singela, o modo história do jogo funciona muito bem como um tutorial mais elaborado de como as principais mecânicas do jogo funcionam, seja com missões para destruir construções, sobreviver a ataques do exército ou simplesmente enfrentando um ou mais inimigos. São cinco pequenas histórias – a primeira delas você pode conferir na íntegra no vídeo que abre esta análise – que apresentam o elenco de primeira linha do jogo em fases relativamente curtas, mas divertidas e interessantes, que conferem a essas e outras criaturas um tantinho mais de background.
Além disso, como já adiantado, é nesse modo que abrimos alguns dos personagens inicialmente indisponíveis e, conjugado com o modo de batalha livre, em poucas horas já é possível ter à disposição todos os personagens e cenários do jogo, além de uma generosa galeria de artes do game. A boa notícia, portanto, é que o jogo não fica enrolando o jogador exigindo dezenas de horas de dedicação para liberar tudo o que está lá. A má é que passadas as cinco histórias e liberados todos os extras, não há muito mais o que se fazer em termos de conteúdo, sobretudo solo, que não seja repetir batalhas nesses dois modos em dificuldades mais elevadas.
Os entusiastas, porém, não deixam de ser premiados, e além de um nível geral (que vai soltando mais e mais conteúdo da galeria, incluindo canções) há um sistema de progressão de cada personagem, algo que habilita novas skins – que basicamente mudam o sistema de cores de cada um deles – algo que tem lá suas justificativas diegeticamente simplificadas mas que na prática mudam muito pouco para cada um deles. Com tudo isso, confesso, não é o conteúdo do game que mais me prendeu ao longo do bom tempo que passei com ele. O grande trunfo de GigaBash está na essência de mecânicas diretas e no alto nível de diversão descompromissada que elas oferecem.
Jogadores veteranos desse tipo de jogo vão reconhecer rapidamente os padrões dos comandos: um ataque rápido, um ataque forte, movimentos de defesa e esquiva, um botão de salto e outro para o agarrão, além de algumas combinações que oferecem ataques extras. Além disso, ao acumular energia e encher uma barra, aqui chamada de S-Class, é possível ativar um modo temporário que nos deixa ainda maiores e, consequentemente, mais poderosos e destrutivos. Com tudo isso – ou só isso – cada partida é bastante única, considerando que os cenários são intensamente interativos e cada um tem detalhes importantes. Cidades, por exemplo, oferecem prédios e veículos que podem ser arremessados nos adversários, enquanto florestas oferecem grandes árvores para serem utilizadas como bastões.
Cada um desses aspectos da jogabilidade deixa claro que, primeiro, os desenvolvedores mostram um grande apreço por kaijus e por toda essa cultura tokusatsu que se popularizou quando as produções japonesas começaram a se espalhar para o mundo, incluindo o fenômeno Power Rangers e suas gambiarras que colocavam esses típicos heróis coloridos em contextos mais palatáveis para norte-americanos. Segundo que, mesmo com detalhes inteligentes e easter eggs reconhecíveis por fãs de diferentes níveis, o jogo se mantem leve, simplificado ao máximo e sem quaisquer pretensões gananciosas demais. É fácil aprender a jogar GigaBash e mesmo que para dominar inimigos mais cascudos seja importante uma certa prática, o jogo nunca vai parecer especializado demais, presando pela diversão acima da competitividade.
Esse mesmo carinho que se afere no tratamento temático pode ser visto também na construção estética do jogo, que dentro do escopo do tamanho da produção, apresenta modelos muito bem feitos e detalhados de cada personagem, bem como arenas cheias de conteúdo. Algumas são um pouco mais elaboradas que outras, até pelo estilo – grandes cidades tem mais coisas que cavernas, por exemplo – mas em todos há um esmero adequado e coerente com a proposta. Não à toa, a escolha de onde o quebra-pau vai se desenrolar pode ser um elemento fundamental para os resultados finais, já que alguns desses ambientes podem oferecer ferramentas que favorecem ou punem o estilo do jogador, o que significa que, em outras palavras, o campo de batalha é sim mais importante para as lutas do que só para diversidade visual.
Tanta dinamicidade acontecendo na tela flui bem, mesmo com cores extravagantes sendo usadas como se não houvesse um amanhã. A geração de partículas também não economiza recursos, ainda que o jogo evite o acúmulo de entulho, algo que fatalmente comprometeria o desempenho ao longo da partida. O resultado é o jogo rodando de forma satisfatória a 60 frames por segundo no Playstation 5, plataforma onde esta análise está baseada, mas fica limitada a metade disso na geração anterior, o que não chega a comprometer a diversão já que sem movimentos bruscos de câmera a fluidez de animação continua bastante sólida.
Destaque também para a elaboração de cenas de corte, utilizando-se de uma estética de histórias em quadrinhos dinâmicas, que funcionam muito bem para apresentar situações, motivações e contextualizações que, como já dito, não são lá tão impactantes pelo aspecto narrativo passar longe de ser o foco do jogo, mas que cumprem o seu papel de modo muito competente. Diálogos (bem localizados para o nosso português brasileiro, diga-se de passagem) são divertidos, e certas passagens homenageiam obras bem reconhecíveis, como Evangelion, e outras nem tanto que nos remetem muito mais a um imaginário coletivo do que a algo específico.
Com uma trilha musical cheia de energia nostálgica, a porção sonora do game se mostra especialmente afinada com a proposta do projeto, estabelecendo aquele tom de aventura matutina que tanto nos embalou quando crianças. Confesso que fiz questão de buscá-las na galeria para curtir cada uma em sua plenitude com calma, algo que não faço com tanta frequência mesmo quando jogos e coletâneas clássicas oferecem essa possibilidade. Além disso, a sonorização de cada um dos personagens, que os favorece em termos de personalidade, e a ambiência rica e variada valorizam a sensação de escala do game.
GigaBash é, sem dúvidas, um jogo que consegue se mostrar divertido e descontraído ao apostar em um gameplay solto e sem tantas complicações, apostando muito mais na experiência compartilhada do que na dedicação longeva, algo que pode se tornar sua maior força ou seu pior defeito. Para quem prefere aventuras e vivências single-player, mesmo com alguns bons atrativos e modos bem funcionais, não encontrará tantos motivos para se manter no jogo por muito tempo, com modos e personagens que poderão se tornar repetitivos e insuficientes muito rapidamente.
Já quem escolher se aventurar on-line com pessoas do mundo todo – o jogo respondeu bem ao formato conectado, mesmo com a dificuldade de se encontrar adversários nesse período pré-lançamento – ou quiser manter o jogo instalado para aquele momento pós-churrascão de domingo com amigos e familiares, terá mais o que celebrar e extrair do jogo. Sair destruindo uma cidade, como nos bons tempos de Rampage, é sempre uma forma excelente de se incorporar um monstro enorme no mundo dos games, e melhor ainda quando isso pode ser feito de forma coletiva, seja com, seja contra alguém. E GigaBash, sem qualquer melindre ou promessa vazia, é uma das melhores produções atuais para se fazer tudo isso.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Passion Republic.
Veredito
GigaBash é bastante direto naquilo que propõe – batalhas em grande escala entre monstros e outras figuras típicas do gênero – e oferece sistemas bem simples, mas muito satisfatórios para isso. Se por um lado oferece pouco conteúdo para manter o jogador single-player engajado por muito tempo, é na diversão compartilhada (online ou local) onde o jogo revela sua grande força.
GigaBash is quite straightforward in what it proposes – large-scale battles between monsters and other typical figures of the genre – and offers very simple, but very satisfying systems. If, on the one hand, it offers little content to keep the single-player player engaged for a long time, it is in the shared fun (online or local) where the game reveals its great strength.
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