O primeiro projeto da desenvolvedora Retro Forge Games é mais um promissor metroidvania 2D. Souldiers é um jogo graficamente muito caprichado e que traz todos os elementos mais peculiares do gênero, com o adicional de um combate um pouco mais aprofundado em relação aos seus concorrentes. Ultimamente, a oferta deste tipo de jogo no mercado é alta, portanto o foco na inovação é algo essencial. Mas será que Souldiers se destaca ou é mais um jogo na pilha de mesmices?
De início, Souldiers não capta tanto interesse por meio de sua narrativa. Com ilustrações e caixas de texto, o jogador é apresentado ao reino de Zarga e toma conhecimento dos planos de guerra desta nação. Por meio de uma estratégia bastante suspeita, parte das tropas de Zarga é destinada a uma região montanhosa, aonde um acidente acontece e os soldados são soterrados, ficando presos em uma caverna. Então, de forma misteriosa, surge uma valquíria que apresenta uma possível saída – para o mundo de Terragaya, palco de todo o gameplay de Souldiers.
Muitos detalhes da história são ofuscados no início e diversos detalhes são contados de forma gradual, como, por exemplo, quem são os inimigos centrais da trama. Deste modo, é difícil criar um interesse logo de cara pelo universo do game. E mesmo com o desenrolar da história, não há nada de excepcional em sua trama. É por meio de seu agradável gameplay, que Souldiers se sustenta.
A primeira grande distinção do jogo da Retro Forge é a escolha de uma classe inicial, que não pode ser revertida posteriormente. As possibilidades são: batedor, mago ou arqueiro. Não se trata de uma opção que altera apenas propriedades/status, como acontece nos jogos da From Software (Dark Souls, Elden Ring, etc). Aqui, a sua opção determina os movimentos de ataque e defesa do seu personagem, portanto, recomenda-se um pouco de cuidado neste momento.
Para a minha jornada, selecionei o batedor, classe esta que contém uma espada e escudo. O batedor desfere fortes golpes a curta distância e usa seu escudo não só de forma defensiva, como ofensiva. Há inclusive a possibilidade de parry – ao defender no tempo certo e atacando em seguida, o personagem realiza um contra ataque poderoso. É importante salientar que, de início, o jogador terá acesso só aos golpes mais básicos. Há uma skill tree que introduz novas habilidades com o avanço de nível, diversificando a estratégia de combate depois de um tempo de jogo.
Além do pulo, existe um botão de esquiva/rolamento que se mostra essencial para as lutas mais difíceis. Há também dois tipos de ataque; um fraco e outro forte. Na minha experiência, tais golpes não apresentam grandes diferenças entre um e outro. Um elemento interessante para o combate são as armas secundárias, que possuem diferentes propriedades entre elas e uso limitado. Tais “subweapons” podem ser coletadas ao longo do jogo como loot de inimigos ou em baús, mas na prática, não são muito bem equilibradas (na maior parte, causam pouco dano e são insignificantes).
Dentro do gameplay, Souldiers tem seu pico de diversão nas boss battles. As lutas contra chefes nas dungeons envolvem uma boa parte de estratégia e habilidade. Cada luta exige um estilo de luta diferenciado, e, portanto, não cansam pela mesmice.
Outro importante aspecto de metroidvanias é a exploração e navegação dos ambientes. Neste quesito, Souldiers traz uma experiência mista. O jogo começa muito bem, com ótimas ideias e regiões agradáveis de se explorar. Mas com o passar do tempo, algumas dungeons não apresentam a mesma qualidade. O level design é questionável e o gameplay pode se tornar frustrante, se parecendo mais como uma tarefa de casa do que um produto de entretenimento. Fora delas, o jogo é bem mais interessante!
No mundo de Terragaya, há diversos segredos e recompensas. Há muito backtracking e passagens secretas, além de missões secundárias que proporcionam recompensas extras para o jogador. Felizmente, a navegação entre as regiões é bastante facilitada por meio dos pontos de save, em virtude do teleporte entre eles. Por falar em mudança de local, não dá pra deixar de citar o quão decepcionante são os loadings do jogo.
Souldiers tem alguns problemas técnicos bem chatos. O primeiro inconveniente, a demora no carregamento. Para a versão nativa de PS5, utilizando um poderoso SSD, é inexplicável o carregamento inicial de mais de 10 segundos em sua versão 1.0. Como há muita transição entre cenários, este problema fica ainda mais evidente. É muito incômodo ter que esperar cerca de 4 a 6 segundos, a cada mudança de área.
O segundo problema; o excesso de stutter. Que ocorre especialmente quando se salva o progresso. O jogo apresenta constantes “mini” travamentos e até queda de frames, quando há muito caos na tela. Já o terceiro tropeço técnico são os constantes screen tearing. É muito visível os “cortes” horizontais ao se deslocar pelos cenários. O sidescroll em alta velocidade torna este problema ainda mais claro. Deste modo, Souldiers precisa de alguns patches para remediar tantos problemas. Para um jogo que não demanda tanto tecnicamente, é surpreendente, de forma negativa, uma performance dessas no PlayStation 5.
Percebe-se pelas imagens que os sprites de Souldiers são bem muito bem feitos e contam com boas animações. Os cenários são ricos, variados e há uma grande ênfase nos detalhes – algo já observado na primeira dungeon do jogo. Embora seja uma única dungeon, as minas possuem muitas ambientações diferentes; como cavernas tomadas por vegetações e cachoeiras, uma mina escura e abandonada com enorme presença de aranhas, uma área de excavação, entre outras.
Souldiers também conta com a cidade central de Hafin, outro local que esbanja capricho no detalhamento – não só por suas construções, mas pelos NPCs únicos que vivem por lá. O mundo do game demonstra um enorme esforço empregado nos visuais. Este é, sem dúvidas, o aspecto mais bem produzido do jogo. Já a trilha sonora, é bem decente, mas também não impressiona. As músicas “caracterizam” bem cada área ou circunstância da história, mas não deixam nenhuma impressão marcante.
A aventura em Souldiers é bem longa e há bastante conteúdo escondido, aguardando o olhar atento do jogador. Para os jogadores que gostam de elementos de RPG, o game traz muitos aspectos de crescimento típicos deste gênero. Há progressão de nível, equipamentos que fortalecem a robustez do personagem, inimigos que dropam loot, sidequests, baús secretos, entre outros elementos peculiares dos RPGs. O jogo apresenta alguns puzzles simplórios, que acrescentam à experiência pela diversidade proporcionada. Em suma, o gameplay, pela maior parte, é bastante agradável!
Por fim, vale ressaltar que o jogo lançou sem legendas em PT-BR (versão 1.0), mas o idioma já foi adicionado no primeiro patch do jogo. Como testei o jogo em sua versão inicial, infelizmente não foi possível avaliar a qualidade da localização.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Dear Villagers.
Veredito
Hoje há uma vasta oferta de metroidvanias de qualidade no mercado e Souldiers é mais um jogo que vai para esta pilha. No entanto, há muitos problemas técnicos e não há grandes inovações aqui. Embora contenha um gameplay bem divertido e agradável por boa parte, não há nenhum conteúdo revolucionário no jogo de estreia da Retro Forge.
There is a vast supply of quality metroidvanias on the market and Souldiers is yet another game that goes into that pile. However, there are a lot of technical issues and there are no major innovations here. Although it is quite enjoyable and fun for the most part, there is no revolutionary content in Retro Forge’s debut game.
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