Eu nunca imaginei que fosse ver um Dynasty Warriors 9 Empires. Isso parece até um pouco maluco de se dizer, visto que todos os jogos da série, desde o longínquo Dynasty Warriors 4 de PS2, tem tido sua própria versão deste que se tornou um dos principais spin-offs dos clássicos musous da Omega Force.
A surpresa na verdade é que, apesar dos vários problemas, a Koei Tecmo não tenha simplesmente acelerado o desenvolvimento de um Dynasty Warriors 10 e tentado apagar a repercussão negativa em torno da série que DW9 deixou. Mesmo que o jogo tenha passado por um constante processo de melhoria e evolução através de atualizações e DLCs, é um pouco difícil para um jogo que já sofre com um considerável preconceito pelo seu gênero reverter o estigma negativo de um jogo abaixo da média.
Mas aqui estamos, olhando diretamente para DW9E em meio a um dos mais conturbados meses da história recente da indústria dos videogames, buscando atender aos fãs mais fervorosos que talvez não tenham tanto interesse nos grandes blockbusters de fevereiro, mas sim em sua tradicional “comidinha caseira”, a estrutura segura e gostosa que todo musou costuma entregar.
Para tentar trazer de volta os fãs que a arriscada tentativa de um mundo aberto em DW9 afastou, DW9E retorna as suas raízes, se focando na estrutura tradicional da franquia, com mapas fechados, bases a serem conquistadas e objetivos a serem cumpridos com maior clareza. Tudo isso, é claro, misturando os elementos de estratégia herdados de Romance of the Three Kingdoms.
Enquanto DW9 tinha todo um foco maior na narrativa envolvendo a história dos Três Reinos, DW9E retira praticamente tudo que se refere a uma história, substituindo-a por um único objetivo: cabe a você escolher um dos lendários guerreiros chineses e lutar pela unificação da China sob a sua bandeira.
Isso não significa que você começará sem qualquer tipo de direção. O principal modo de jogo, chamado de Conquest Mode, apresenta uma série de cenários distintos sob o qual você iniciará a sua jornada rumo à conquista. Pontos marcantes na história dos Três Reinos marcam os cenários básicos, incluindo a Revolução dos Turbantes Amarelos, a Batalha de Guandu ou até mesmo o período de unificação dos reinos de Wei, Wu e Shu.
A redução do foco na narrativa permite que os elementos estratégicos do jogo realmente brilhem e se sobressaiam. A estrutura básica é a mesma vista em outros títulos da subsérie, com a campanha e sua progressão se dividindo em torno de uma reunião do conselho de guerra e o jogador tendo uma quantidade X de meses para cumprir certos objetivos, podendo realizar uma quantidade limitada de ações a cada mês, culminando com a invasão de um território inimigo no mês final antes da próxima reunião.
Durante esses meses de preparação, como dito, você terá missões como “interaja com 03 soldados”, sabotar o território adversário tantas vezes ou acumular uma quantidade específica de determinado recurso (como ouro ou suprimentos). Enquanto há uma recompensa em notoriedade (o nome dado a experiência do jogo), você pode optar por agir de forma distinta ou sugerir objetivos distintos durante o conselho.
Cuidar de todos esses aspectos administrativos é fundamental já que eles têm um impacto direto nos combates. Acumular suprimentos, recrutar novos aliados e formar alianças com outros reinos através de diplomacia aumentarão a força do seu exército e, consequentemente, tornarão as batalhas mais fáceis. Por outro lado, negligenciar esses aspectos tornarão os seus inimigos muito superiores e fará com que alcançar seus objetivos de unificar a China seja quase impossível.
Outro ponto importante e que merece ser destacado é que, mais uma vez, o jogo retém as mecânicas que tornam o estreitamento dos laços entre os membros do seu exército importante. Quanto mais os seus oficiais interagem e lutam juntos, maior o índice de afinidade deles se torna. Isso pode levá-los a formar inquebráveis laços de amizade ou romances que darão origem a sua própria prole, algo que também se reflete nos campos de batalha, com os oficiais recebendo bônus em suas estatísticas ao atuarem lado a lado.
É realmente impressionante como esses aspectos de estratégia continuam sendo bem adaptados para a estrutura de Dynasty Warriors, em vários pontos de forma até bem mais divertida e interessante do que o trabalho feito no mais recente Romance of the Three Kingdoms. É tudo bem simplificado, mas os menus são mais intuitivos e claros no que cada coisa irá impactar no título final.
Algo que talvez gere uma certa reclamação é que o jogo possui tutoriais bem sucintos, não deixando muito claro ou muito aprofundado como cada elemento funciona e como as questões de microgerenciamento influenciam os macro resultados da campanha. Muito do que você irá aprender será na base da tentativa e erro, o que pode ser visto como algo negativo ou positivo, já que abre bastante espaço para o replay e campanhas únicas sempre, cada uma com uma visão distinta.
Quando as invasões começam, é aí que o jogo realmente se mostra em seu lado mais musou. Os combates costumam se dividir em dois tipos de missões: Invasion Battles e Defensive Battles. Como os próprios nomes já entregam, a diferença entre um e outro é a posição em que você ocupa relativo ao território onde o combate está acontecendo.
Nas Invasion Battles (ou Batalhas de Invasão), você é quem tomará a iniciativa, precisando abrir caminho até o general do exército oposto e derrotá-lo para confirmar a sua vitória. Já nas Defensive Battles (ou Batalhas Defensivas), você é quem precisa defender o seu território de um exército invasor.
Enquanto há uma clara mudança de perspectiva, elas funcionam mecanicamente da mesma forma básica. Você precisará dominar bases e derrotar oficiais inimigos para reduzir as forças deles e conseguir completar os objetivos que cada batalha vai apresentando à medida que você as completa. Infelizmente, essa estrutura é muito básica e se torna repetitiva e cansativa muito rápido, tirando muito do prazer que o jogo poderia ter.
Nas Batalhas de Invasão, isso significa que você precisará derrotar bases atreladas a catapultas e torres de arqueiros para enfraquecer os inimigos e aríetes que te permitirão arrombar os portões do castelo adversário para garantir o seu acesso às bases internas onde o General estará se defendendo. No que tange às Batalhas Defensivas, esse foco vira para garantir que o seu comandante sobreviva por uma determinada quantidade de tempo ou causar derrotas chaves que darão início à uma batalha decisiva e abrirá o caminho para sua vitória.
O seu sucesso será fortemente influenciado pelo que você fez durante o período de preparação da batalha. Caso você tenha falhado, inimigos serão mais resistentes, causarão mais dano e as bases serão mais difíceis de conquistar e manter. Já se preparar bem te trará enormes vantagens, o que inclui a possibilidade de utilizar planos secretos que poderão acelerar o seu êxito em combate.
A parte de ação do jogo é aquilo que você já imagina quando lê o nome Warriors. Você terá ataques fracos com quadrado e fortes com triângulo, sendo fundamental executar combos para derrotar centenas e milhares de inimigos com os movimentos da sua arma. E é claro, os ataques especiais que dão nome à série, os golpes musou, também estão à sua disposição para causar grandes quantidades de dano e derrotar dezenas de inimigos de uma vez só.
Como complemento, uma série de elementos transpostos do Dynasty Warriors 9 original pra cá também estão presentes. Isso inclui as habilidades especiais com R1 ou L1 + um dos botões de face e vários elementos de customização, como a possibilidade de usar o arco e flecha o tempo todo com diferentes elementos ou o uso de gemas especiais para dar certos bônus ao jogador.
Mas não só de qualidades ou lados positivos vive Dynasty Warriors 9 Empires. Há um claro reaproveitamento dos mapas presentes em DW9, dessa vez readaptados e reduzidos em pequenas áreas com as bases para funcionar melhor na estrutura de Empires. O problema é que esses mapas se tornam bastante repetitivos muito rápido, muito em razão também pela baixa variedade nas missões, o que pode tornar a experiência não tão agradável pra quem não é fã do gênero.
Ainda mais quando há um foco intenso naquelas áreas de combate, a falta de variedade nos mapas chama bastante a atenção. Cabe dizer que a versão de PS5 possui dois modos de jogo, um focado na qualidade gráfica rodando a 30fps e um modo focado na performance, a 60 frames. Essa segunda é a melhor forma de se jogar, de longe, já que não se trata de um jogo que exige 4K (e a qualidade gráfica não está em linha com o recente Samurai Warriors 5) e a perda de frames afeta demais o combate.
Dynasty Warriors 9 Empires, infelizmente, parece um jogo bem limitado não pelas coisas que ele tenta fazer de novo, já que a taxa de sucesso nisso é altíssima, mas sim pelos erros cometidos no jogo que serviu de influência para o seu desenvolvimento. Ser um spin-off que usa tanto as mecânicas e assets do jogo-base acaba atrapalhando mais do que ajudando o seu sucesso.
Dito isso, se você procura por um musou que deixa de lado o foco na história visto em DW9 ou em Samurai Warriors 5, procurando algo mais estratégico mas ainda com combate de ação, Dynasty Warriors 9 Empires é pra você. Existem sérias limitações no jogo, mas é fácil se divertir por horas se você conseguir relevar os pequenos problemas e limitações.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Koei Tecmo.
Veredito
Apesar de algumas boas decisões em seus elementos únicos, Dynasty Warriors 9 Empires é um jogo bastante limitado pela sua estrutura básica, que se torna repetitivo muito rapidamente. É fácil se divertir com o jogo, mas existem opções melhores à disposição dentro da franquia.
Despite some good decisions in its unique elements, Dynasty Warriors 9 Empires is a game quite limited by its basic structure, which becomes repetitive very quickly. It’s easy to have fun with it, but there are better options available within the franchise.
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