Uma dos resultados mais positivos que um estúdio independente pode ter é de estrear já com um jogo amplamente reconhecido, se destacando dentro do oceano de novos títulos lançados todos os dias nas várias plataformas digitais. Nesse aspecto, uma das maiores histórias de sucesso dessa geração que se encerra é a Heart Machine.
Responsável pelo incrível sucesso Hyper Light Drifter, a talentosa desenvolvedora resolveu adicionar uma nova dimensão ao seu novo jogo, abandonando a perspectiva 2D isométrica em pixel art por um mundo inteiramente em 3D com um estilo visual bastante estilizado, em um desafiante jogo de plataforma.
Solar Ash apresenta um universo à beira da extinção, cuja única esperança são os esforços da protagonista Rei, uma voidrunner determinada a fazer tudo o que for possível combater uma força destrutiva chamada Ultravoid que aos poucos vai devorando os planetas e só pode ser evitada ao ativar uma ferramenta capaz de reverter o seu avanço e, consequentemente, o destino apocalíptico que irá recair sobre o seu povo.
É uma premissa bem simples e comum, mas a forma como o jogo explora é bastante interessante. Há uma série de mistérios por trás da existência da Ultravoid, se Rei de fato está fazendo a coisa certa e como exatamente funciona o Starseed. Em sua jornada para encontrar as respostas, Rei terá o auxílio apenas da inteligência artificial Sid e alguns misteriosos seres espalhados ao redor do planeta.
A história como um todo é relativamente curta, funcionando através de um looping de gameplay bem simples. Rei entrará em uma nova área, precisa reativar a Sid dali, destruir as anomalias existentes para que Sid volte a funcionar corretamente, enfrentar a Remanescente da área (o chefe de cada região), ter um breve diálogo com Sid e a misteriosa Eco e partir para a próxima região.
Ainda assim, a história que o jogo tenta contar é bem interessante e traz uma reflexão muito bem-vinda, especialmente com a escolha final que o jogo te força a fazer. Existem dois finais para os quais o jogo vai construindo e qual deles você verá é afetado por esta decisão, mas é algo que realmente faz sentido no contexto apresentado por Solar Ash ao longo do seu desenvolvimento, com toda a história sendo bem amarradinha e tendo um desfecho satisfatório.
Mas tão importante quanto a narrativa contada por Solar Ash, é o seu gameplay. Afinal, trata-se de um jogo de plataforma no qual o foco está em uma movimentação rápida e fluída para solucionar os puzzles de movimentação que o jogo vai apresentando. Explorar o mundo é extremamente prazeroso e você terá diversas razões para procurar ver cada cantinho dele.
A movimentação é feita principalmente através de um sistema de patinação, através do qual você vai andando rapidamente pelo mundo. Há ainda um dash, pulos e um gancho para avançar rapidamente para certos pontos. É tudo bem simples e intuitivo, mas quando funcionam bem, a sensação de velocidade e satisfação de avançar pelo mundo é incrível.
Você precisará de todas essas ferramentas para descobrir como alcançar os seus objetivos. Cada anomalia tem uma forma distinta de ser resolvida e, ao finalmente alcançá-la, você precisará atacar certos pontos em específico dentro de um limite de tempo para conseguir limpá-la. A sensação de êxito em cada um desses desafios é um dos pontos altos do jogo e percebe-se que foi tudo pensado com bastante cuidado.
É claro, quanto mais você avança no jogo, mais difícil cada nova área vai se tornando. Aos poucos você precisará pegar pólen colorido para destravar certas portas, usar canos para deslizar e chegar em novas áreas, usar o salto temporal para chegar ainda mais rapidamente em lugares distantes.
Algo curioso que Solar Ash faz é a inclusão de missões secundárias. Cada uma das áreas do jogo possui um novo aliado que possui seu próprio arco de história e que, ao ir completando os desafios específicos dele, vão te dando uma nova perspectiva daquele universo e dos vários povos afetados pelo Ultravoid. Não é nada obrigatório para que se possa terminar o jogo e não existem grandes recompensas por essas missões, mas vale a pena explorar o mundo só pela lore.
Outra coisa que você conseguirá bastante ao explorar o universo são plasma e receptáculos de voidrunners. O plasma é usado para destravar melhorias para o seu escudo ao falar com a Sid (que é algo muito bem-vindo). Já os receptáculos (dos quais existem 5 em cada área) desbloqueiam novas roupas para a Rei usar que são bem legais, mas sem muito efeito prático.
Não há realmente muito em Solar Ash fora isso, salvo pelo elemento de combate. Ao longo dos mapas você encontrará diferentes tipos de inimigos que exigirão de você bastante atenção. No começo são inimigos que simplesmente irão partir para cima de você, mas logo eles passarão a atirar projéteis para que você se esquive ou te exigirão o uso das mesmas ferramentas (especialmente o gancho e o salto temporal) para vencê-los antes que eles possam te impedir de completar seus objetivos.
As principais lutas do jogo, no entanto, são com as Remanescentes, os grandes chefes do jogo. Essas lutas são, na verdade, grandes desafios de plataforma divididos em três etapas. Basicamente, você iniciará o encontro em um determinado ponto do corpo da Remanescente (um monstro gigantesco) e precisará usar suas habilidades para atacar os pontos certos até causar dano. Ao completar as 3 fases, você o derrotará e abrirá a próxima área.
Esses encontros são especialmente divertidos e desafiadores. Eles passam a sensação de se tornarem quase parte de um jogo de ritmo, exigindo que você decore a ordem certa e hora certa de realizar cada movimento para conseguir derrotar o chefe. O jogo como um todo é extremamente competente, mas esse talvez seja o elemento que o eleva a um patamar superior.
Por fim, a última coisa que precisa ser dita é que Solar Ash é um jogo incrivelmente bonito. O estilo gráfico do jogo por si só já enche os olhos, mas o jogo rodando em 4K no PS5 eleva isso a um patamar bastante especial. Os efeitos, distância do horizonte e arte do jogo fazem dele um dos mais belos jogos independentes desse começo de vida do PS5. A trilha sonora também merece o seu próprio destaque, sendo uma das mais agradáveis lançadas em 2021.
É uma pena, no entanto, que o jogo sofra com alguns pequenos problemas de performance. Especialmente nas áreas finais, quedas de framerate começam a se tornar mais constantes do que deveriam e acabam atrapalhando a experiência, especialmente quando ocorrem em batalhas ou em partes de plataforma mais complexas.
Mesmo com esses pequenos problemas, Solar Ash é um jogo extremamente recomendável. A existência de dois finais e de um novo modo de jogo desbloqueado ao concluí-lo (chamado de Modo Punitivo) adicionam um certo fator replay ao jogo e, mesmo que seu interesse seja só na história, ele merece sua atenção, adicionando neste finalzinho de ano mais uma bela obra ao portfólio dos consoles da Sony.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Annapurna Interactive.
Veredito
Solar Ash é um incrível e belo título que não só conta uma bela história, mas tem um gameplay desafiante e divertido que manterá você preso por toda a sua duração, marcando assim mais um acerto da Heart Machine.
Solar Ash is an amazing and beautiful title that not only tells a nice story, but has a challenging and fun gameplay that will keep you hooked for its entire duration. Another great title by Heart Machine.
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