Um dos melhores pontos com a constante globalização da indústria de jogos é o acesso mais fácil à franquias antes escondidas da maior parte do planeta. Com a localização de jogos para outros idiomas se tornando mais comum, fãs de todos os gêneros têm conhecido IPs clássicas das quais nunca havíamos ouvido falar.
É graças a isso também que, aos poucos, jogadores de console também têm tido acesso a jogos que antes eram exclusivos de PC. Juntando esses dois fatores, temos o lançamento de Xuan Yuan Sword 7, uma icônica franquia chinesa que pela primeira vez chega ao Ocidente, fazendo sua estréia em consoles PlayStation nesse processo.
Xuan Yuan Sword é uma série tradicional, com mais de 30 anos de história, cujos lançamentos costumavam ficar restritos à China e países do sudeste asiático. Tratam-se de RPGs de Ação fortemente focados em sua história, misturando elementos da mitologia chinesa com fatos históricos reais girando em torno sempre de questões pessoais de um novo protagonista.
A narrativa acompanha o jovem Taishi Zhao que, quando criança, vê os seus pais serem assassinados por rebeldes políticos, mas consegue fugir com sua irmã ainda bebê e um pergaminho misterioso dado por sua mãe. Zhao então se torna um mercenário vivendo nas montanhas, escondendo sua verdadeira identidade e tomando conta de sua irmã, Xiang, que está acometida por uma misteriosa doença.
Zhao acaba tendo que trabalhar para o mesmo exército responsável pela morte de seus pais guiando um pequeno batalhão por uma das trilhas subindo as montanhas. Monstros começam a aparecer e uma criatura sobrenatural ataca o grupo e fugindo. Os soldados acabam matando a criatura, mas não antes dela ferir mortalmente a irmã de Zhao.
Taishi usa então os poderes do pergaminho para salvar sua irmã e invocar a ajuda de uma misteriosa divindade aprisionada que o ajuda a salvar a alma de sua irmã à colocando no corpo de um autômato, em troca de Zhao partir em busca das ferramentas mágicas necessárias para libertar essa divindade conhecida apenas como “King”.
Se você está familiarizado com a mitologia chinesa, vai ser bem fácil descobrir quem é esse misterioso “Rei”, mas a forma como a história é contada é muito bem-vinda. Mais do que uma história sobre a jornada em si de Zhao e Xiang, a narrativa é sobre os pequenos momentos entre eles, sendo cheia de pequenos momentos bem legais entre os irmãos e tendo o relacionamento entre eles como força-motriz para o avançar dos fatos.
Existem vários outros personagens e elementos presentes no jogo, se valendo de tradições moístas para enriquecer a história contada. Realmente o que mais chama a atenção é que nada disso é apresentado exigindo que o jogador conheça aqueles elementos, com tudo (quase) sempre sendo bem explicado, mas evitando também se perder em longos períodos de exposição de cada mínimo detalhe.
Muitos dos melhores momentos da história não acontecem durantes as cenas normais, mas pequenas interações entre Zhao e Xiang sentados na fogueira, conversando enquanto andam pelo mapa e coisas do tipo. Enquanto a narrativa principal é, muitas vezes, “genérica” (salvo pela ambientação distinta), a forma como o jogo trabalha para estabelecer a relação entre os personagens é o que a realmente faz se tornar um ponto bastante positivo do jogo.
Ajuda que a exploração seja pontuada por visuais surpreendentemente belos. O jogo é desenvolvido na Unreal Engine 4, o que auxilia na qualidade gráfica, mas o trabalho feito pelos desenvolvedores com os modelos de personagens, efeitos visuais e ambientes é bem agradável e, salvo por alguns problemas de textura, o resultado é bem satisfatório, ainda mais considerando que se trata de um jogo de mundo aberto.
É perceptível também o cuidado com a parte sonora do jogo, com uma trilha sonora de alto nível, condizente com a ambientação e a maior parte dos diálogos sendo dublados em chinês. A localização em inglês possui alguns erros de digitação, mas nada que atrapalhe a experiência.
O ponto no qual Xuan Yuan Sword VII deixa um pouco a desejar é no seu combate. Não que ele seja ruim ou nada do tipo, mas acaba se tornando um pouco repetitivo pela forma como ele foi estruturado. Ele ainda é divertido, mas ao contrário de outros RPGs de Ação, aqui o combate é mais uma ferramenta para chegar a parte boa do que a essência da experiência.
Em batalha, o jogador possui um ataque leve com R1 e um ataque pesado com R2, um botão de defesa no L1 e esquiva com X, além de habilidades que podem ser usadas ao pressionar o L1 e um dos botões de face. É tudo bem simples e intuitivo, mas acaba sofrendo um pouco pela falta de variedade.
O jogo até tenta introduzir uma certa variação com as Stances, artes marciais que vão sendo desbloqueadas com o avançar do jogo e que, a depender da que for equipada, alteram o ataque pesado. Cada uma dessas Stances possui uma arte marcial especial ativada com quadrado a qual você terá acesso ao terminar de evoluir a Stance, mas para isso basta usar várias vezes o ataque, o que acaba tornando os combates com inimigos comuns um constante spam de R2 até desbloquear o ataque especial.
O jogo até tenta coibir o uso excessivo dos ataques pesados com uma barra de stamina, mas ela muito raramente se torna um fator em combate, salvo quando você precisa lidar com grupos maiores de inimigos. É possível combinar R1 e R2, mas, novamente, raras são às vezes em que isso realmente se torna necessário.
As batalhas são (quase) todas bem fáceis, o que acaba tornando um pouco obsoletos os esforços da equipe de desenvolvedores em trazer essa variedade, já que ele acaba se resumindo a atacar todos os inimigos com R1/R2 ou, no máximo, usar uma das suas habilidades para ganhar recursos.
Apenas nas lutas contra os chefes elementos como a necessidade de subir a barra de stun do inimigo para deixá-lo mais vulnerável realmente se torna um fator importante. Essas batalhas com chefes são bem raras, no entanto, mas são as mais desafiadoras e, consequentemente, mais divertidas, por te forçarem a usar mais elementos do seu arsenal para vencê-las.
Um ponto importante é que, embora o jogo possua um sistema de progressão de níveis, as melhorias aos seus personagens são feitas equipando acessórios ou melhorando sua armadura e arma através do Elysium. Lá você gastará recursos para construir prédios e dentro desses prédios poderá evoluir coisas como a lâmina da espada.
Uma surpresa positiva é que, apesar de tudo, é um jogo relativamente curto, com o jogador explorando tudo em cerca de 20 horas. Existem algumas missões secundárias a serem realizadas e puzzles a serem resolvidos, mas, fora isso, o jogo realmente gira em torno da missão principal e da história que ele se propõe a contar.
No geral, Xuan Yuan Sword 7 é um jogo bem divertido, mesmo que acabe optando por focar na história um pouco em detrimento do seu combate. É uma ótima oportunidade para os jogadores darem uma chance à rica mitologia chinesa, especialmente pela boa história contada aqui.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela eastasiasoft.
Veredito
Xuan Yuan Sword 7 é uma grata surpresa. Se o seu combate acaba deixando a desejar e o impede de alcançar um patamar acima, a sua história o coloca facilmente dentre uma daquelas experiências que diverte o jogador, mesmo com seus problemas.
Xuan Yuan Sword 7 is a welcome surprise. If its combat ends up leaving something to be desired and prevents it from reaching a level above, its story easily places it in one of those experiences that entertain the player, even with its issues.
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