Não é incomum indies se basearem em séries clássicas para construírem suas propostas iniciais e, muitas vezes, acabam se tornando produtos bastante únicos e diferenciados de suas inspirações. UnMetal é um desses títulos e sua fonte de inspiração está nos Metal Gear clássicos que foram originalmente lançados no MSX e são raramente lembrados mesmo entre os fãs da série da Konami.
UnMetal conta a história de Jesse Fox, um homem preso em uma base militar misteriosa por um crime que ele não cometeu. A história é contada pelo próprio Fox durante um interrogatório e a narrativa de sua grande fuga da prisão se inicia após tirar uma corda de sabe-se-Deus-onde e enganar o guarda que monitora sua cela. Após sair da cela (que o prendia por um crime que ele não cometeu), Fox se depara com uma base militar (cujos soldados se chamam Mike) e com a ajuda do Coronel, ele irá passar por muitos locais, desafios e problemas antes de conseguir sua liberdade novamente.
O título é uma grande paródia de Metal Gear e filmes de ação dos anos 80 e 90 com bastante humor e piadas em todos os seus aspectos. As piadas nem sempre terão o efeito cômico com o jogador, mas admito que dei boas risadas e sorrisos em vários momentos. As piadas variam entre acontecimentos impossíveis, ações do jogador ou pelo exército de Mikes conversando entre si. Fim das contas, me encontrei explorando cada vez mais cada cenário para encontrar mais desses eventos cômicos.
A narrativa contada por Fox durante seu interrogatório também afeta a jogabilidade de várias maneiras, algumas de formas interessantes e outras particularmente pentelhas. Por exemplo, o jogo pede que o jogador escolha certas opções durante a narrativa de Fox, mas as consequências dessas escolhas são bastante difíceis de prever. Usualmente, isso cria uma variação para alguns cenários e funciona muito bem, especialmente para aqueles que queiram jogar o título mais de uma vez.
O maior problema está quando essa mesma narrativa coloca certos limitadores sobre o jogador. Se Fox conta que ele não matou ninguém naquela área, o jogador também é proibido de eliminar seus inimigos. Não foi detectado, então o jogador não pode ser encontrado por patrulhas, câmeras e afins. A maior parte dessas narrativas introduzem as diferentes situações de cada capítulo e alguns deles, especialmente para o final, chegam a se tornarem mais incômodos do que desafios genuínos. O maior agravante, no entanto, é em alguns quebra-cabeças do jogo, onde o jogador será praticamente forçado a entrar em um ciclo de tentativa e erro até encontrar a resposta correta para prosseguir alguma história absurda. Isso não seria particularmente ruim se os save points fossem próximos desses momentos e, muitas vezes, não o são, também adicionando uma dose de backtracking a cada tentativa.
A jogabilidade se assemelha aos Metal Gear de MSX e, de certa forma, com alguns elementos dos dois primeiros Metal Gear Solid que, também, utilizavam parte da estrutura de seus antecessores. A visão por cima e separada por telas remete mais aos clássicos, mas (até onde eu saiba) carregar corpos, utilizar de sons e objetos para atrair a atenção das patrulhas já remete mais aos Solid. Suas mecânicas base são muito bem feitas e o jogo também introduz diferentes mecânicas no decorrer da história para evitar que se torne muito repetitivo.
Apesar de sua ótima jogabilidade baseada em stealth, UnMetal não é exatamente o que eu consideraria como um jogo focado em stealth. Em demais jogos do gênero, o objetivo principal é, usualmente, atravessar um cenário ou concluir um objetivo sem ser detectado pelo inimigo. Existem inúmeras variações que adicionam complexidade a esse objetivo básico como buscar algum item ou chave durante a infiltração, eliminar algum alvo e por aí vai.
UnMetal coloca muito foco em achar diferentes objetos no cenário e utilizá-los para resolver quebra-cabeças e avançar a narrativa. Mesmo sessões focadas em se esconder tem um certo aspecto quebra-cabeça para elas. Ao invés de dar a liberdade para o jogador experimentar em como ele deve passar um ambiente sem ser detectado, UnMetal desafia o jogador a encontrar uma única resposta correta enquanto não é detectado. Minha dica para se dar bem em UnMetal é socar absolutamente tudo e todos que tem no cenário para obter os objetos que resolvem esses quebra cabeças. Sem brincadeira, tive que socar um pobre coitado fazendo suas necessidades no banheiro para conseguir um item obrigatório e casos assim não foram únicos durante o jogo.
Devo também ressaltar que a tradução PT-BR, apesar de muito boa, contém alguns erros e que me foi algo absolutamente fatal em uma parte que envolvia seguir direções em um labirinto. Fica a dica que, caso chegue nesse labirinto com o mapa, utilize as legendas em inglês para atravessá-lo.
Jogo analisado no PS4 com código fornecido pela Versus Evil.
Veredito
UnMetal foi uma surpresa bastante agradável com uma ótima jogabilidade e uma história bastante cômica. Sua narrativa traz mudanças a cada cenário no jogo, algumas que foram interessantes e outras que foram simplesmente pentelhas. É um jogo que recomendo, principalmente para os fãs de Metal Gear ou para aqueles que também gostam de jogos com uma boa dose de humor.
UnMetal was a pleasant surprise with great gameplay and a very comical story. Its narrative brings changes to every scenario in the game, some that were interesting and others that were simply silly. It’s a game that I recommend, especially for Metal Gear fans or for those who also like games with a good dose of humor.
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