Desde o seu anúncio, Kena: Bridge of Spirits conquistou inúmeros jogadores pelos seus belos visuais. Era o primeiro projeto de um estúdio chamado Ember Lab que, até então, só havia trabalhado com animação e que ficou conhecido principalmente por um curta de Zelda: Majora’s Mask. Como estamos cansados de saber nessa indústria dos jogos, gráficos não são tudo, portanto existia uma preocupação se Kena: Bridge of Spirits atenderia às expectativas. Fico feliz em dizer que, ao menos pessoalmente, não saí nem um pouco decepcionado.
Se você espera algo inovador, Kena: Bridge of Spirits não oferecerá isso. Enquanto jogava, sentia vários elementos de outros jogos ali presentes, desde Zelda, Horizon Zero Dawn e até God of War. Mas um título em especial não saía de minha cabeça: Star Fox Adventures. Ouso dizer que, se você jogou esse título de GameCube e gostou, Kena: Bridge of Spirits o agradará facilmente.
Kena: Bridge of Spirits possui um enredo simples e sutil. Kena, uma jovem Guia Espiritual, viaja para uma vila abandonada em busca do santuário sagrado da montanha. Há uma espécie de corrupção acontecendo na região e, através dos esforços de Kena, isso deve ser erradicado. O trabalho de Kena é, basicamente, ajudar espíritos a irem para o além. Ou seja, eles estão presos nesta terra por alguma coisa inacabada. Através das máscaras desses espíritos, você poderá ver memórias e tirar a corrupção que os envolve para, enfim, irem ao além.
A história é contada em vários momentos com belas cutscenes – algo esperado, dado o histórico da Ember Lab. No entanto, algo decepcionante ocorre: as cutscenes rodam a 24 quadros por segundo (mesma taxa de um filme de cinema), o que passa uma sensação estranha toda vez que você retorna ao gameplay que se encontra a 60 quadros (se estiver jogando no modo Perfomance).
Ainda sobre a história, há legendas em português do Brasil, mas não passaram por uma revisão. Há vários erros gramaticais, de gênero e erros de digitação que são facilmente percebidos.
Algo que precisa ficar claro é que Kena: Bridge of Spirits não possui exatamente um mundo aberto. Ao mesmo tempo, não é um jogo por fases também. Entenda: logo no início, você chega a uma vila que serve como uma espécie de hub. Dela, você deve primeiro ir para uma região ao leste e, mais tarde, ao oeste. A montanha que é o objetivo principal de Kena fica ao norte. Não é possível explorar essas regiões todas logo no início pois faltarão upgrades que são abertos conforme a história avança. Então, podemos dizer que o progresso é linear, mas todas as áreas já visitadas podem ser exploradas novamente a qualquer momento, principalmente em busca de colecionáveis.
E são justamente os colecionáveis que afetam a duração de Kena: Bridge of Spirits. A campanha em si leva em torno de 8 a 10 horas para ser concluída, dependendo do nível de dificuldade e o quão explorador você é. De qualquer forma, ir atrás de todos os colecionáveis deixa o game facilmente com uma duração de, pelo menos 15 horas. Ao terminar o jogo, um “very hard” é destravado e que fará você jogar tudo mais uma vez se deseja o troféu de platina. Já os colecionáveis são vários (acredite, são muitos em número): memórias dos espíritos, uma espécie de carta que libera outros espíritos presos na vila, santuários e, é claro, os bichinhos conhecidos como Rot (além de chapéus cosméticos para eles).
Os Rot são pequenos seres espalhados por todo o mundo de Kena: Bridge of Spirits. Você encontra alguns jogando normalmente, mas é possível explorar para encontrar vários outros. Quanto mais Rot tiver, mais opções de ataque surgem. Você não precisa se preocupar com os Rot: eles não morrem e também não sofrem dano. Inclusive, quando a batalha acontece, eles se escondem e, conforme você bate no inimigo, uma barra de coragem aumenta, possibilitando que os Rot sejam usados em batalha quando cheia.
No quesito exploração, os Rot servem para carregar objetos, como estátuas e pedras (solucionando alguns puzzles simples no processo), assim como pegar alguns itens, como cristais. Os cristais servem para comprar chapéus para os Rot em uma loja in-game (algo puramente cosmético). Porém, os chapéus são um tipo de colecionável que precisam ser encontrados para, então, aparecerem na loja.
No combate, como dito, é preciso preencher uma barra. Quando essa barra é preenchida, surge um círculo que significa uma ação de Rot pode ser feita. Essa ação inclui movimentos como “segurar o inimigo” enquanto você bate nele, uma flecha poderosa em que os Rot pegam carona com ela ou até mesmo interagir no cenário com uma espécie de flor azul para recuperar a sua vida.
O combate de Kena: Bridge of Spirits é agradável e simples. No início, poucas mecânicas estão disponíveis, sendo que você só ataca com R1 (ataque fraco), R2 (ataque forte) e defende com L1. Conforme progride na história, mais habilidades são abertas (existe inclusive uma árvore de habilidades) e movimentos destravados, como o arco e a bomba. Inclusive, é uma crítica isso: o arco, que é uma mecânica que muda bastante o jogo, demora consideravelmente para ser destravado, deixando você preso por umas três horas aos ataques básicos com o bastão.
Ainda sobre o combate, de uma forma geral ele funciona, mas existem alguns problemas. A câmera pode ser confusa algumas vezes, não ficando claro de onde veio o projétil que você tomou pelas costas. Há também um lock-on automático que pode causar algo indesejado. Por exemplo, você deseja o foco no monstro maior, mas está distante dele – o jogo pode acabar colocando o foco num inimigo pequeno mais próximo e consequentemente atrapalhar os seus planos mentais de combate.
Apesar disso, o combate é divertido e os inimigos possuem uma variedade considerável, exigindo diferentes estratégias para serem derrotados. Apenas os chefes, na maioria das vezes, não variam muito de estratégia.
O que mais impressiona em Kena: Bridge of Spirits, de longe, é cuidado que a Ember Lab teve pelo título. Durante todo o gameplay feito para essa análise (no PS5), não tivemos um único bug ou algo estranho acontecendo. Não só isso, mas considerando que os Rot são diversos na tela e aumentam em quantidade cada vez mais, já tava esperando que algo de estranho aconteceria em algum momento e fico feliz de dizer que estava enganado. Os Rot seguem Kena de uma forma natural e interagem com o cenário sem bug algum – algo realmente impressionante.
Isso, é claro, sem mencionar os gráficos. Kena: Bridge of Spirits é realmente muito bonito. Infelizmente, a paisagem em si é um tanto quanto similar durante toda a jornada (é sempre uma floresta ou caverna, com exceção da breve neve no fim), mas ainda assim merece elogios. O mesmo pode ser dito para a trilha sonora, que é excelente e encaixa bem com a proposta do jogo.
No fim, Kena: Bridge of Spirits é um excelente título. Como dito anteriormente, ele não traz inovações, mas a grande maioria do que é apresentado é bem feito.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Ember Lab.
Veredito
Kena: Bridge of Spirits é um ótimo jogo. Belos gráficos, jogabilidade agradável e mecânicas interessantes. Possui alguns pequenos problemas, mas nada que afete o conjunto da obra.
Kena: Bridge of Spirits is a great game. Beautiful graphics, good gameplay and interesting mechanics. It has some minor problems, but nothing that affects the whole title.
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