Dizer que Madden NFL 21 foi um jogo bem abaixo dos padrões da franquia é o mínimo. Fora a série de problemas técnicos, em parte atribuíveis ao desenvolvimento em meio à pandemia, as limitações do título pareciam muito mais consequências de anos de uma considerável derrocada de qualidade e descaso dos desenvolvedores do que algo causado por forças externas incontroláveis.
Talvez o maior indicativo do quão problemáticos tenham sido os últimos ciclos de desenvolvimento do título foi a baixa qualidade até mesmo da versão de PS5, lançada meses depois do jogo chegar ao PS4. Assim, é natural que, com o recém-lançado Madden NFL 22, o ar fosse muito mais de cautela e torcida por um título jogável do que expectativas por grandes mudanças.
E, felizmente, é isso que temos aqui. Em vários aspectos, Madden NFL 22 é muito mais a concretização de anos de promessas e a correção de um caminho que vinha apontando para o penhasco do que a conclusão do trabalho de energização e revigoramento da franquia.
Para fazê-lo, muito do foco foi para a última palavra do parágrafo passado. Franquia, ou, neste caso, o Franchise Mode, alvo de tantos protestos e reclamações ao longo dos anos. E, se você está procurando saber o que há de novo neste ano, é para cá que as atenções precisam se voltar.
Como jogador do modo Franchise, ao longo dos anos minha frustração com Madden foi crescendo pelo total abandono e descaso com que o modo vinha sendo tratado. O título deste ano buscou realmente revigorar aquele que é, hoje, o principal modo single-player para os fãs de futebol americano ao redor do globo.
Enquanto ainda não se está onde o modo precisa chegar para se equiparar ao trabalho feito em outros jogos de esporte (como a ausência no lançamento do novo sistema de Scouting, que está prometido para setembro), é inegável o quão mais divertido ele é. Basicamente todos os sistemas principais do Franchise Mode foram revistos e melhorados.
A primeira e mais clara dela é o abandono da horrenda interface que tornava o modo tão travado nos anos passados. Todas as informações estão muito mais claras e mais acessíveis a partir desse ano, com o jogador não precisando mais perder tempo passando por fichas e mais fichas até chegar naquilo que ele deseja. Aliás, é importante apontar que a interface do jogo como um todo sofreu uma bela repaginada e está mais bonita e intuitiva.
Entre as principais novidades já presentes no Franchise está o novo “Weekly Strategy”. Ao longo dos anos, a franquia vinha tentando tornar o sistema de treinar os seus jogadores para enfrentar os adversários algo mais importante, mas quase sempre sem sucesso. Com esse novo sistema, fazer o scouting dos adversários e treinar seus jogadores para enfrentar isso recebe um novo peso e mais impacto nos campos.
Isso significa que, caso você vá jogar contra os Kansas City Chiefs, você precisará dedicar um tempo para preparar a sua defesa para passes longos. Jogo contra o Baltimore Ravens? O foco será defender corridas fora do pocket. E a mesma coisa se aplica a preparação para enfrentar a defesa desses times. Ao completar a preparação, é possível escolher objetivos específicos e jogadores focais para ganhar mais XP e ajudar na evolução do seu time.
A sensação de maior controle sobre os acontecimentos na sua franquia vão além, com o jogador possuindo maior influência sobre contratações na Free Agency e, principalmente, a reformulação do sistema de Comissão Técnica do jogo. Agora é possível contratar Coordenadores Ofensivos e Defensivos, cada qual com sua própria árvore de habilidades e a forma como influenciam a evolução do seu time e o seu plano de jogo.
A presença dessas árvores de habilidades são mais uma representação visual dos elementos de RPG que a franquia já vinha trazendo pouco a pouco para si. Quanto melhores os seus técnicos, maior o impacto que eles terão nas habilidades dos seus jogadores através de bônus em determinados stats deles, seja tornando-os mais resistentes a lesões, melhorando o rating da passes curtos ou longos e tantas outras opções.
Todas essas mudanças são muito bem-vindas e tornam a experiência de dedicar horas e horas para moldar a sua franquia àquilo que você deseja ainda melhor. Especialmente por também ser um modo que comporta jogar online com outros jogadores, o resultado é um belíssimo passo na direção correta, mostrando que o estúdio é capaz de ouvir e atender os anseios dos fãs, cabendo apenas continuar a melhorar as novidades implementadas.
Um ponto em que não é possível tecer muitos elogios à EA, no entanto, é no que acontece dentro de campo. Em boa parte, a jogabilidade é a melhor que a franquia já viu até hoje (e parece estar com bem menos bugs, mesmo que ainda estejam presentes). Os dribles parecem mais naturais e melhor animados, a ação nas trincheiras é mais intuitiva e tanto o ataque aéreo quanto terrestre são cada vez melhores de se executar e, com folga, o melhor que se viu na última meia-década pelo menos.
Isso não quer dizer que esteja perfeito, já que a IA, como em todo lançamento, resolve defender sentada nas próprias mãos, constantemente deixando recebedores livres mesmo em situações óbvias de passe. Os Safeties são as vítimas mais notórias deste ano, muitas vezes sendo congelados no lugar mesmo sem qualquer tipo de movimento elaborado do ataque.
As melhorias na ação em campo podem ser atribuídas especialmente ao simples fato do jogo ter uma movimentação e ritmo muito mais realistas no PS5. A EA diz que isso é fruto da expansão da parceria com a Next Gen Stats para tornar o ritmo dos jogadores mais condizentes com suas contrapartes reais e isso fica bem perceptível para os jogadores de longa data e é uma outra característica bem-vinda.
O outro ponto foi o mais falado até o lançamento do jogo é o novo sistema de “Gameday Momentum”. Em tese, essa mecânica busca trazer para os campos digitais os efeitos que a torcida tem nos estádios reais. Isso pode ser visto tanto na tela ficando embaralhada na hora de selecionar e executar uma jogada até elementos mais sutis, como fumbles mais recorrentes, CBs e LBs mais atentos às rotas dos recebedores ou a impossibilidade de ativar um X-Factor.
É algo que parece interessante no papel mas, sinceramente, se você é um veterano de Madden… Ele não faz tanta diferença assim. Raras vezes, salvo por cenários forçados pelo jogo, eu me vi sendo afetado pelo Gameday Momentum e me fez até mesmo questionar se eu realmente estava jogando tão bem ou se o jogo estava artificialmente me tornando melhor por ter começado a partida bem ou estar jogando dentro de casa.
O Face of the Franchise, modo “história” que o Madden vem usando ao longo dos anos, também não sofreu tantas alterações em relação aos anos passados. A grande novidade fica pela adição de Linebackers como opção, marcando a primeira posição defensiva disponível no modo além de Quarterback, Running Back e Wide Receiver como no ano passado.
Seguindo aquilo que já vinha sendo implantado através do modo The Yard, Face of the Franchise agora também conta com classes ou arquétipos de jogador, te permitindo evoluir estatísticas específicas do jeito específico de jogar que você prefere. Essa alteração faz sentido, já que agora a progressão entre o FotF e o The Yard é integrada e você usará o mesmo avatar, com as mesmas características, em ambos os modos.
Não existe uma história propriamente dita esse ano, salvo por uma pequena introdução de algumas partidas que servem só para mostrar quem o seu avatar é e porquê ele tá entrando na NFL com tanto hype. Essa seria uma mudança muito bem-vinda se o jogo te desse mais elementos para se tornar apegado ao seu avatar, mas mesmo nesse modo você quase sempre controla toda a sua equipe, ataque e defesa, nas partidas, então seu avatar não é exatamente tão relevante assim.
Felizmente, há um outro elemento que poderá te motivar a jogar tanto Face of the Franchise quanto The Yard: a exemplo do MLB The Show 21 e dos antigos NBA 2K, a sua progressão neles também te trará moedas, pacotes e outros itens que podem ser usados no Madden Ultimate Team.
Aqui cabe uma última crítica: salvo por alguns ajustes na interface, tanto o Ultimate Team quanto os novos modos incluídos no ano passado, The Yard e Superstar KO, seguem basicamente inalterados. Por um lado, se você é fã deles, você já sabe exatamente o que esperar. Por outro, se você costumava ignorá-los, a não ser que a nova série de missões introdutórias te fisgue, dificilmente será agora que você irá dedicar tempo ao MUT ou colocará o seu avatar em partidas online no The Yard.
Comparando então com o que foi entregue no ano passado, fica bem claro que Madden NFL 22 é um pacote vastamente superior ao que foi entregue pouco depois do lançamento do PS5 ou, pior ainda, há um ano no PS4 (e cabe dizer que só a MVP Edition é crossbuy dessa vez). Ainda há muito a ser ajustado e o jogo ainda demonstra mais bugs do que outros jogos de esporte, mas finalmente é possível ver alguma promessa de um futuro melhor para o único simulador de futebol americano disponível no mercado.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.
Veredito
Vastamente melhorado em relação ao ano passado, Madden NFL 22 traz uma série de melhorias esperadas há muito tempo. Apesar de ainda precisar de ajustes, é muito mais fácil se divertir com a edição deste ano e imaginar que a EA está correndo atrás do prejuízo que as edições passadas causaram.
Vastly improved from last year, Madden NFL 22 brings a number of long-awaited improvements. Although it still needs tweaking, it’s much easier to have fun with this year’s edition and imagine that EA is finally taking care of the damage done by past games.
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