Cannon Brawl – Review

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Simples de aprender, difícil de dominar. Esse é o mantra que se se ensina na primeira aula de qualquer curso de design de jogos e trata basicamente da característica de um jogo ser suficientemente simples em suas mecânicas a ponto do jogador compreender bem comandos e mecânicas rapidamente, ao passo que o grande desafio se torna a utilização criativa dessas funções em busca da superação dos obstáculos. Parece uma meta um tanto quanto óbvia, mas que nem sempre é levada em consideração. Felizmente, inicio esse texto assim para destacar Cannon Brawl, cujo principal ponto positivo é exatamente a de respeitar essa máxima à risca.

Dito isso, o jogo se define como um game de estratégia em tempo real onde o objetivo é basicamente defender sua base, avançar pelo terreno e destruir a base inimiga antes que ele faça o mesmo com você. Em um campo de batalha bidimensional, tem-se uma mistura de muitas coisas que já vimos antes: desde os jogos de batalha campal 2D em turnos, como o Bang! Bang! do MS-DOS até os mais celebrados Worms, com inspirações claras (e outras nem tanto) nos tradicionais RTS do início do século e nos infindáveis tower defenses em suas mais distintas roupagens. E o melhor de tudo é que essa salada de inspirações funciona de forma muito agradável e coesa, oferecendo um jogo divertido, cheio de possibilidades estratégicas e doses caprichadas de adrenalina e reação rápida a adversidades.

O princípio é simples: o jogador controla uma dirigível que nada mais é o que um cursor sofisticado na tela. Sua principal função é a de construção de unidades diversas no seu campo de batalha, tais como minas para explorar recursos, geradores de escudo, torres armadas dos mais diferentes tipos (que variam do canhão tradicional com um projétil em parábola a geradores de raio laser e disparadores de bombas caminhantes) e outros elementos de suporte, como torre de manutenção, balão de expansão territorial, etc. Cuidadosamente, o jogo apresenta cada um desses elementos de uma forma bem didática: na missão onde aparecem pela primeira vez, lutamos contra alguém que os utiliza, descobrimos o seu potencial na pele, e ao vencê-lo, tomamos posse do recurso.

Depois de compor o arsenal e escolher o que levar para a batalha, o procedimento é o mesmo: primeiro, ter dinheiro para construí-lo e, com isso, deve-se ir até a base, buscar o elemento e levá-lo até o ponto onde ele será construído. Uma vez estabelecido, ele já pode ser utilizado pela primeira vez e, para cada tipo de unidade, há o tempo de cooldown até o próximo uso, e se cada torre tem o seu próprio tempo, esse cálculo mental da sequência de ações é dos trabalhos mais elaborados a se realizar enquanto tudo está em chamas. Há ainda a possibilidade de upgrade da unidade, aumentando seus atributos, ou a venda dele para recuperar parte do investimento. Na descrição, tudo parece burocrático e complicado, e mesmo assistindo o trecho inicial do gameplay que acompanha o texto ali no topo, pode ficar a impressão de que é tudo meio confuso, mas acredite: na prática o jogo é bem simples e automatizado, quase que instintivo.

Superado esse primeiro momento de aprendizado, fica a meta de saber como fazer isso funcionar durante o combate. De imediato, é importante dividir a atenção em alguns pontos principais, sendo o primeiro dele o alcance de território. Quanto mais se avança na direção do inimigo, mais possibilidades de posicionamento de suas unidades haverá, sobretudo em pontos estratégicos de melhor acesso para atacar e para se defender. Algumas verdades funcionam na maioria das vezes, como posições elevadas serem mais eficientes, com algumas exceções, e esse entendimento do campo é essencial para aproveitar ao máximo o que se tem a disposição. Aumentar o alcance de seus domínios também dá grandes possibilidades de ter mais minas de ouro ou diamantes para se extrair os recursos na quantidade e na velocidade que se precisa para construir e melhorar seu arsenal, mas ao mesmo tempo significa ter mais espaço para defender ao mesmo tempo. Esse equilíbrio nem sempre é simples.

Além disso, é fundamental acompanhar de perto a integridade de todo o equipamento, o tempo restante para novas investidas com cada item, sua saúde financeira (uma das poucas informações complementares no HUD) e o estado dos elementos de defesa, escudos e possíveis pontos vulneráveis. Circular com a sua nave vai para além de assumir o primeiro canhão vazio, e compreender o todo faz com que os três ou quatro minutos de cada partida – algumas são um pouco mais longas, dependendo da dedicação dos envolvidos em atingir suas metas e da complexidade de se chegar ao alvo principal – pareçam intensos e muito maiores do que são. Como não há momentos de respiro ou de tranquilidade, e desde o primeiro segundo é necessário agir e reagir rapidamente, o game pode exigir bastante da atenção e da resposta do jogador.

Esse aprendizado é gradual e constante, respeitando a curva de flow para que o desafio seja coerente com o que já adquirimos de capacidade técnica e estratégica. Tudo isso graças a uma campanha single player muito equilibrada. Ainda que não seja especialmente longa – algo em torno de 4 a 5 horas, dependendo do foco do jogador – é um espaço que sempre oferece algo novo a se adquirir e que, em certos aspectos, muda nossa perspectiva de como abordar os desafios adiante, ou mesmo aqueles que já passamos com alguma dificuldade. Não é raro voltarmos a missões superadas para testar com mais calma um novo elemento e para, quem sabe, conseguir o desempenho máximo que garante as três estrelas daquela fase.

São vinte níveis principais, mais algumas fases especiais pautadas em pequenos puzzles a serem resolvidos com condições limitadas (como número de tiros contado ou tempo máximo a se cumprir), tudo organizado de forma muito convencional em mundos distintos, que normalmente desembocam em um chefe mais poderoso. Cada um deles conta um fragmento da história do jogo, a qual vamos desvendando com calma e que é muito mais contextual do que algo a se preocupar com prioridade. Ainda que abuse de uma trama já consagrada – a disputa da coroa por membros de uma família real – não há nada aqui que já não tenhamos visto antes e a própria produção do jogo entende esse plot como algo facilmente reconhecível pelo jogador.

 

Sintoma disso é que os personagens – protagonistas ou antagonistas – sequer tem nome ou identidade própria e assumem arquétipos comuns e rasos: o tio vilão usurpador, a princesa forte e valente, o inventor nerd, o brutamontes, os minions do vilão, enfim, não espere por uma história marcante e por personagens complexos em Cannon Brawl, já que esse não é, definitivamente, o objetivo do jogo. Ainda assim, não deixa de ser um diferencial haver uma narrativa estruturada, algo que certamente agrega muito, principalmente para quem se interessa pouco em jogar com mais pessoas e quer aquela diversão descompromissada que traz uma motivação a mais no passo seguinte. Se a história não é especialmente marcante, ela cumpre seu objetivo prático ao conectar os pontos soltos da campanha.

Para alguns jogadores, esse modo single player já pode bastar, e se sim, se este for o seu caso, o jogo se garante nele, ainda que nesse caso pode ter uma vida útil relativamente curta. Há um segundo modo a ser jogado sozinho, com algumas metas mais soltas entre as fases disponíveis, que apresentam certos cenários menos lineares e um pouco mais desafiadores e para os mais dedicados, a campanha ainda libera a implacável dificuldade nightmare. Então há mais algumas boas horas de boa dedicação e intensidade. Para outros jogadores, mais interessados em disputas multiplayer, certamente há ainda mais camadas a se desvendar. A boa notícia é que o jogo permite batalhas tanto on-line quanto localmente, com algumas pequenas variações no enquadramento da ação, o que significa que é uma boa pedida tanto para tardes preguiçosas com a família no sofá como também para confrontos com pessoas de outras partes do mundo, sejam eles amigos, sejam ilustres desconhecidos.

Vale destacar que o jogo, até pela simplicidade técnica que adota, consegue manter um ótimo desempenho mesmo com mais pessoas jogando e com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo na tela. O desempenho é ótimo, e não senti, nesse período de avaliação, qualquer queda significativa, seja em termos de conectividade, seja no quesito gráfico. Importante destacar que o jogo foi testado rodando em um Playstation 5, mas contra jogadores rodando também no Playstation 4 padrão, e mesmo o carregamento das partidas é quase imediato. Em outras palavras, o jogo é bastante fluido e muito equilibrado tecnicamente, o que é sempre uma qualidade importante principalmente para o multiplayer.

Isso não significa, contudo, que haja qualquer sacrifício visual para isso. Ao contrário, o game é muito bonito, com belos sprites 2D bastante cartunescos e que abusam das cores sem qualquer vergonha. As paletas, por padrão, de azul para o lado controlado pelo jogador, e de vermelho para o adversário, conseguem oferecer variações agradáveis das unidades, e os modelos são muito característicos. As passagens cinemáticas de diálogo são, talvez, o ponto menos atrativo de toda a jornada, uma vez que mostram os personagens sem muita identidade também no que tange seu visual, resumindo-se a ilustrações simplificadas de cada um deles. É algo periférico, que não influencia tanto assim na percepção do todo, mas como este é um daqueles jogos onde controlamos unidades e não pessoas, essa falta de vínculo, de identificação com heróis, e até de antipatia para com nossos adversários é algo que diminui o senso de imersão narrativa.

Soma-se a isso animações caricatas, mas com um cuidado evidente, além de uma trilha musical com aquela temática militar que mais lembra uma fanfarra de escola, e que acaba grudando como chiclete depois de algumas horas rodando. Falta um bom trabalho de vozes, já que todo diálogo rola somente por caixas de texto (infelizmente sem qualquer localização para o português ou outros idiomas que não o original em inglês), e os efeitos sonoros, que individualmente tem ótimos valores, ficam devendo um pouco quando em conjunto, o que significa que a mixagem pode acabar se mostrando caótica demais quando há uma série de tiros rolando para tudo que é lado, dinheiro sendo coletado, laser disparando, escudos sendo atravessados e por aí vai. O caos, contudo, não é necessariamente um ponto negativo, já que é parte de uma experiência como a proposta por Cannon Brawl, com múltiplos pontos de interesse.

Esteticamente, não é um jogo que preza pelas belas paisagens ou pelas composições harmoniosas. O plano de fundo e mesmo a ambientação não influenciam tanto assim, e a montagem do seu campo de batalha por vezes vai ficar parecendo um painel de colagem. A interface, por sua vez, segue a linha cartoon e por vezes remete a alguns parâmetros de produções mobile, com praticidade e informações relevantes, mas nem sempre tão necessárias assim. Até porque valores absolutos de dano ou de pontos de defesa não são tão relevantes como em jogos por turnos, onde há tempo para cálculos. Afinal, quando a coisa está literalmente pegando fogo, a meta é lutar como se não houvesse amanhã e não dá tempo para se preocupar se o seu tiro que dá 12 de dano é suficiente para destruir uma construção com 14 pontos de HP. É atirar primeiro, fazer as contas depois.

Cannon Brawl é uma surpresa muito bem-vinda, oferecendo um sistema de combate em tempo real sólido, sem reinventar a roda ou propor qualquer revolução em qualquer dos aspectos adotados, seja em sistemas de jogabilidade, na construção narrativa ou na composição audiovisual. É um jogo que equilibra elaborações estratégicas sofisticadas com um tiroteio casual e descompromissado de forma bastante satisfatória, sem complicar demais a vida do jogador e, ao mesmo tempo, sem parecer leviano e raso. Com modos que se complementam bem, sistemas com objetivos principais e secundários provocativos, e uma dinâmica intensa e viciante de combate, é facilmente recomendável para todo tipo de jogador que gosta de games dos gêneros que inspiram essa obra, e mesmo curiosos que não se dão tão bem assim com games de combate estratégico mas que gostam de uma bagunça bem organizada.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela BlitWorks.

Veredito

Supreendentemente divertido, acessível, intuitivo e viciante, Cannon Brawl traz uma jogabilidade polida, bons visuais e modos suficientes para agradar quem já conhece e gosta de jogos de estratégia em tempo real, e mesmo para novatos que sempre buscaram uma boa entrada para esse mundo.

80

Cannon Brawl

Fabricante: BlitWorks

Plataforma: PS4

Gênero: RTS

Distribuidora: BlitWorks

Lançamento: 01/08/2016

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Surprisingly fun, accessible, intuitive and addictive, Cannon Brawl brings polished gameplay, good visuals and enough modes to please those who already know and like real-time strategy games, and even for novices who have always been looking for a good entry into this world.

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Surprisingly fun, accessible, intuitive and addictive, Cannon Brawl brings polished gameplay, good visuals and enough modes to please those who already know and like real-time strategy games, and even for novices who have always been looking for a good entry into this world.

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