Songs of Silence – Review

Ambição é algo que comumente merece ser aplaudido. Especialmente em uma indústria que vive uma onda de regurgitação dos mesmos padrões de jogos, com toda semana múltiplos lançamentos de metroidvanias e jogos de plataforma 2D poluindo as lojas online, ver uma desenvolvedora independente realmente tentar algo completamente novo e de forma grandiosa é algo que sempre merece um degrau de atenção maior.

Essa atenção costuma ser ainda maior quando se envolve um gênero que, por natureza, já é mais complicado se entender e dominar como Turn-Based Strategy 4X (abreviação oriunda do inglês ligadas às quatro mecânicas centrais do gênero: Explore, Expand, Exploit, Exterminate). TBS, gênero intrinsecamente ligado ao seu maior expoente, o excepcionalmente divertido Civilization, definitivamente não é um atrativo muito grande para fãs mais dispersos.

Songs of Silence, novo jogo da Chimera Entertainment, uma desenvolvedora alemã de longa data mais conhecida por jogos mobile (incluindo uma série de spin-offs de Angry Birds), mas com alguma experiência no gênero com XCOM Legends tenta mudar isso. Ele segue uma fórmula bem similar com Civilization, mas com um foco muito maior no combate. O jogo conta com dois modos principais, uma Campanha e um modo chamado Escaramuça, mais voltado para típicas e longas partidas solo, e um modo multiplayer para uma típica e ainda mais longa partida multiplayer.

A campanha gira em torno da Rainha Lorelai em uma jornada como campeã de dois deuses em constante guerra, o Starborn e o Firstborn, que unem forças para tentar parar o avanço de um exército que está em uma cruzada espalhando a maldição do silêncio por todo o mundo. É uma premissa bastante simples, mas funcional, contada ao longo das oito (longas) missões da campanha através de pequenas cenas que vão expandindo mais sobre a campanha e a lore do universo.

Apesar de trabalharem em conjunto, a narrativa te permite escolher entre qualquer uma das duas facções para se aliar e o mundo não se resume a elas. Ao longo de cada missão você encontrará missões secundárias, encontros aleatórios e novas facções a serem descobertas e recrutadas para reforçar os seus rankings em combate. Os personagens em si que assumem os papéis de generais de suas próprias tropas dentro do seu exército possuem suas próprias motivações e isso enriquece bastante a experiência.

O gameplay em si gira em torno de alguns elementos bem básicos e funcionais. Cada unidade possui um certo número de pontos de ação que podem ser usados dentro do turno, sendo gastos para se mover pelo mapa, entrar em combate ou explorar recursos e capturar novos assentamentos para o seu exército. Ao contrário do que se costuma ver em um RTS, por exemplo, aqui é necessário pensar com bastante cuidado em como você irá agir já que, caso entre em combate, você não poderá criar tropas e enviar para reforçar seus soldados caso comece a perder uma luta, sendo necessário montar seus batalhões em uma das suas bases antes de iniciar uma sessão de batalha.

A parte de gestão de recursos aqui é bastante dependente da dominação de assentamentos, com cada um sob o seu comando lhe rendendo uma quantia de recursos que podem ser usados para recrutar novas tropas ou melhorar suas instalações, o que não só te dá acesso a mais recursos, mas também novos tipos de unidade progressivamente mais fortes. Como cada assentamento é individual, parte da estratégia é justamente dominar o máximo de pontos possíveis antes de avançar para uma capital, já que, qualquer erro cometido facilmente será punido pelos seus inimigos.

As batalhas em si funcionam como um auto-battler que se tornaram tão populares em celulares. Durante a fase de preparação e organização das suas tropas você precisa organizar onde elas começarão dentro de um grid e, ao entrar em combate, elas agirão de forma independente. O máximo que o jogador precisa fazer durante essas sessões é ativar habilidades, cada qual com seu próprio tempo de cooldown após ser utilizada.

O maior problema dessas sessões vem do fato de que, não só é bem complicado entender exatamente o que está acontecendo, mas é tudo muito inconsistente, sendo difícil estabelecer e executar estratégias que te fariam se engajar mais com o combate. Os seus inimigos podem, em vários momentos, parecerem totalmente incompetentes e na próxima batalha o mesmo tipo de unidade se torna uma força imparável. Teoricamente é possível resolver isso com maior atenção e cuidado com suas unidades, mas ainda assim é difícil se divertir com essa parte.

Outro considerável problema no combate (e até mesmo em sessões de exploração) é a performance sofrível do jogo. Desde seu lançamento e mesmo com sucessivos patches, Songs of Silence tem uma das piores performances que eu já vi no PS5, com uma série de slowdowns e input lag que tornam algumas das sessões especialmente complicadas. Junte a isso os assustadores aumentos repentinos de dificuldade e há um grave problema de desbalanceamento do jogo que torna a experiência excessivamente frustrante.

É uma pena porque visualmente o jogo é bem bonito, tanto no design do mundo quanto dos personagens, e a trilha sonora, composta por Hitoshi Sakimoto, lendário compositor japonês por trás da trilha sonora de títulos como Vagrant Story, Final Fantasy XII e Dragon’s Crown, também é um destaque por si só, entregando canções de altíssima qualidade que ajuda a enriquecer a experiência.

No geral, Songs of Silence é uma experiência divertida, muito graças não só ao funcionamento dos seus sistemas (e o bom trabalho de adaptação dos controles para consoles), mas a riqueza e variedade dos seus modos. Infelizmente, os problemas técnicos acabam atrapalhando bastante a experiência, mas caso o jogador persista, há muito o que se divertir com essa ousada tentativa de um TBS 4X indie.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Chimera Entertainment.