Houve um tempo em que os desenvolvedores da id Software acreditavam que o melhor caminho para a franquia DOOM era apostar em uma fórmula séria e mais próxima do horror, influenciada bastante pelo tom sombrio dos filmes dos anos 2000. O resultado foi DOOM 3, que apesar de bem recebido pela crítica, é o título que mais se afasta dos principais pilares que definem a franquia. Agora, cerca de 16 anos após o seu lançamento, recebemos uma nova versão do título projetada para o PlayStation VR, algo que certamente merece uma revisita.
Se você está acostumado com o combate frenético dos jogos mais recentes da franquia mas nunca teve contato com DOOM 3, saiba que este último diminui bastante o ritmo em relação aos seus sucessores. Ao invés de grandes áreas com múltiplos inimigos atacando simultaneamente, DOOM 3 opta por corredores estreitos e ambientes claustrofóbicos com pouca (ou nenhuma) fonte de iluminação. Dessa forma é necessário fazer uso constante da lanterna e se movimentar devagar para saber aonde você está se metendo, uma vez que você pode ser surpreendido por inimigos ou perigos espalhados pelo cenário.
A atmosfera de horror torna o título em um perfeito candidato para ser jogado na realidade virtual, uma vez que a imersão proporcionada pelo periférico é absurda. A sensação de estar isolado em uma base espacial em algum ponto de Marte é de tirar o fôlego e certamente você verificará cada canto mal iluminado do mapa duas vezes antes de avançar pela campanha. O terror e ação são muito bem equilibrados e, ainda que você esteja bem equipado com as mais variadas armas que compõem o arsenal do título, você não chega a ser uma força de destruição e caos como nos jogos atuais. Aqui, você é apenas um humano normal enfrentando demônios. Basta um passo em falso e já era.
DOOM 3 foi o primeiro jogo da franquia a tentar expandir e criar um enredo mais rico e coeso, algo que pode ser observado tanto pelo uso de cutscenes recheadas de diálogos expositivos, quanto pela quantidade de arquivos de texto e áudio que o jogador pode encontrar durante a exploração dos cenários. Os eventos presenciados em DOOM 3: VR Edition se passam no ano de 2145, dentro de uma base militar localizada em Marte. Durante a realização de experimentos em tecnologia de teletransporte, um portal para o inferno é aberto acidentalmente e diversos demônios começam a se apossar do lugar. Cabe ao jogador, no comando de um soldado sem nome (o eterno Doomguy), exterminar os demônios e encontrar uma forma de impedir que os demônios cheguem à Terra.
Ainda que a campanha possua uma história interessante, é preciso apontar que não houve o menor cuidado por parte da Archiact, desenvolvedora deste port, em localizar o título para o português do Brasil. O título nem sequer conta com legendas em inglês durante os diálogos in-game ou cutscenes, algo que nos padrões de hoje é completamente inaceitável.
O tempo médio da campanha principal gira em torno de 10 a 15 horas, podendo se estender caso você deseje explorar cada canto do mapa. Vale lembrar que esta versão do jogo também inclui as duas expansões lançadas para o título original, DOOM 3: Resurrection of Evil e DOOM 3: The Lost Missions. Esse conteúdo adicional é extremamente bem-vindo e além de estender a campanha por mais 8 horas, traz consigo novas armas e inimigos.
Em relação aos visuais, DOOM 3: VR Edition consegue se manter bem acima da média se comparado com os demais títulos independentes de VR dessa geração, o que é um feito até surpreendente, visto que sua versão original foi lançada há mais de 15 anos. Entretanto, isso só pode ser dito quando levamos em consideração apenas os detalhes da ambientação, uma vez que os modelos e animações dos personagens estão extremamente datados. É completamente desconfortante estar próximo de NPCs humanos dentro do jogo, e quaisquer interações com os mesmos ultrapassam com folga o vale da estranheza. Isso acontece pois a anatomia e proporções são completamente diferentes das de uma pessoa real, algo que é perceptível apenas dentro da realidade virtual.
O design de som do jogo também conseguiu manter a compostura, construindo gradativamente a tensão necessária para cada momento de ação e terror que o título apresenta. Há uma constante sensação de estar sendo observado e cada novo barulho pode trazer consigo perigos inimagináveis. A trilha sonora por sua vez é bastante pontual, diferente dos outros títulos da série, com composições orquestrais feitas pela banda de rock alternativa Tweaker.
Quanto aos comandos, DOOM 3: VR Edition dispensa o uso dos PlayStation Moves para dar lugar ao DualShock 4 para controlar o personagem. Tudo funciona de maneira igual a versão base do jogo (até mesmo os controles são os mesmos) com uma pequena diferença no processo de mirar, que faz uso do giroscópio interno e da barra de LED do controle para detectar os movimentos do jogador. Dessa forma é necessário apontar o DualShock 4 na direção desejada e pressionar os gatilhos para disparar. Você pode jogar em pé ou sentado, sendo este último o mais recomendável a se fazer devido à longa duração da campanha. Apesar de funcionar extremamente bem, essa forma de mirar acaba se tornando bastante cansativa com o tempo, e talvez fosse mais interessante controlar a mira com o próprio headset VR como é feito em Resident Evil 7 biohazard.
Um outro problema que surge com o uso do DualShock 4 são as constantes tonturas e dores de cabeça causadas pelo esquema de movimentação do título. Diferente de DOOM VFR, o título não possui opção de teleporte, obrigando o jogador a movimentar seu personagem diretamente com o uso do analógico esquerdo. Isso é problemático pelo fato da velocidade do Doom Marine ser muito elevada, o que acaba causando esses pequenos desconfortos com o tempo. Frente a isto, é recomendável que você desfrute o jogo em sessões curtas de no máximo duas horas para evitar os problemas aqui citados.
Jogo analisado no PS4 com código fornecido pela Bethesda Softworks.
Veredito
DOOM 3: VR Edition entrega uma experiência divertida e duradoura na realidade virtual. Apesar de seus problemas, é um título que certamente vale uma revisita caso você possua um PlayStation VR.
DOOM 3: VR Edition delivers a fun and lasting experience in virtual reality. Despite its problems, it is a title that is certainly worth a revisit if you have a PlayStation VR.
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