Tomb Raider IV-VI Remastered – Review

Exatamente um ano após o lançamento de Tomb Raider I-III Remastered, a Aspyr Media e a Saber Interactive nos concedem uma oportunidade para revisitar os jogos que compõem o arco da franquia que agora é denominado como a “trilogia da escuridão” — e não apenas no sentido literal da palavra.

Como eu havia citado na análise da coletânea anterior, Tomb Raider, como franquia, já experienciou e sobreviveu a virtualmente todo tipo de situação. A mais notória é amplamente conhecida por jogadores que hoje tenham mais de 30 anos, quando, em 2003, Tomb Raider: The Angel of Darkness chegou ao mercado inacabado e repleto de problemas, após seguidos atrasos e muitas promessas não cumpridas, resultando na derrocada do estúdio britânico Core Design.

Acredito que jamais alguém pensou que, algum dia, veríamos algum tipo de trabalho em caráter oficial para tentar trazer esse título ao olhar público novamente. E aqui estamos, com o recente lançamento de Tomb Raider IV-VI Remastered. Mas, antes de me aprofundar mais em The Angel of Darkness (VI), permita-me falar um pouco sobre os dois outros títulos inclusos: Tomb Raider: The Last Revelation (IV) e Tomb Raider: Chronicles (V).

Tomb Raider IV-VI Remastered

É importante ressaltar que o trabalho dos estúdios responsáveis por essas remasterizações é incrível. Tanto na trilogia anterior como na presente (e, também, em Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered), a opção para rapidamente alternar para o visual gráfico dos jogos como eram no lançamento permite uma análise instantânea do ambiente ao seu redor, assim confirmando a promessa do estúdio de honrar as memórias que você carrega consigo desses jogos. Por mais gritantes que sejam as diferenças, tudo parece familiar.

Mas o trabalho de remasterização vai muito além, é claro, e inclui novidades como interface e legendas em português brasileiro (pela primeira vez, no caso de The Last Revelation e Chronicles), sistemas de câmera e controle que tentam emular jogos modernos — mas que, em minha opinião, são confusos e de difícil aprendizado, talvez justamente por eu estar tão intrinsecamente acostumado com o sistema de tanque original —, rápida seleção de armas e seus respectivos tipos de munição, um modo Fotografia, e modos Novo Jogo+ para desafiar os fãs veteranos (e caçadores de troféus, já que novamente temos extensas listas para cada um dos jogos).

Sinto a necessidade de destacar que a versão de lançamento inicial de I-III Remastered era excelente, e, ainda assim, vimos cenários e efeitos cosméticos em constante aprimoração com o suporte prolongado em forma de atualizações de versão. Dito isso, suspeito que o mesmo possa vir a acontecer aqui, pois existe uma discrepância notável entre certos ambientes que receberam um nível de acabamento e esmero impressionantes, com edições na geometria e texturas de baixo-relevo de outrora substituídos por belos objetos tridimensionais (tudo sem comprometer a fundação original), enquanto outros locais apenas contam com entidades e texturas de alta definição. Espero que essa presunção esteja correta, pois níveis como a Tumba de Set (IV) e Ruas de Roma (V) estão belíssimos e deveriam sevir como parâmetro para o restante.

Tomb Raider IV-VI Remastered

Entenda que apesar da menor quantidade de níveis (nenhum dos jogos conta com pacotes de expansão), é um projeto de escopo similar ao da trilogia anterior, tão somente pela presença de The Last Revelation, que é sempre lembrado por ser o mais extenso e elaborado dos jogos da era clássica, inserindo um sistema de hubs onde você navega por certas áreas incontáveis vezes enquanto explora níveis adjacentes e interconectados em busca de itens-chave para avançar na campanha.

Nesse sentido, talvez a decisão mais sábia teria sido ignorar a existência de The Angel of Darkness, que usa uma engine diferente e as mudanças parecem estar limitadas a texturas de alta definição e alguns objetos e personagens (não todos, ao menos na versão atuamente disponível) redesenhados com maior riqueza de detalhes. Muitas vezes, você pode alternar entre os modos gráficos e não ser capaz de identificar qual é a versão original e qual é a remasterização.

Durante a campanha de marketing, boa parte do que era promovido parecia tentar justificar uma nova chance para o “anjo negro” da franquia, com o perdão do trocadilho, e aplaudo os desenvolvedores pela capacidade de restaurar muitos dos recursos e intenções que a própria Core Design foi incapaz de colocar em prática duas décadas atrás. Mas, infelizmente, não são reparos suficientes para redimir o jogo de sua merecida infâmia.

Tomb Raider IV-VI Remastered

Os controles modernos, ao contrário de IV e V, são obrigatórios aqui, pois o sistema de tanque original sempre foi um dos motivos pelos quais The Angel of Darkness não funcionava. Acompanhados de um conjunto de animações incrivelmente lerdas, que ainda permanecem ali, não apenas era difícil controlar nossa saqueadora favorita, era entediante. Os longos tempos de carregamento e as mortes constantes causadas pela imprecisão de tais controles tornavam o jogo maçante e muito mais longo do que realmente é.

Graças ao sistema de salvamento rápido inserido na remasterização, bem como os tempos de carregamento praticamente instantâneos que o PlayStation 5 permite, você se sente mais disposto a arriscar certos pulos ou abordagens na jogatina que jamais teria feito com a versão original.

Em contrapartida, o sistema de combate permanece iguamente questionável, apesar de uma sutil melhoria por conta dos controles modernos, e a possibilidade de se escorar em uma parede para “virar e atirar” parecia tão divertida e atraente nos trailers do jogo, antes de seu lançamento em 2003, que foi uma decepção quando descobrimos que tal mecânica não existia na versão final do jogo. A remasterização restaura essa mecânica, mas é algo tão travado para se realizar, que, no tempo necessário para que Lara realize todas suas animações lentas, o inimigo já está em sua cara e fora do alcance.

Tomb Raider IV-VI Remastered

De forma similar, o conceito original do jogo pretendia inserir outras mecânicas desnecessárias, como melhorias para a protagonista e um sistema monetário. O primeiro permanece inalterado, ou seja, ao invés de localizar uma chave para abrir uma porta, você primeiro deve arrastar um barril por meio metro para ter força o suficiente para abrir tal porta, e outras coisas igualmente lúdicras no decorrer do jogo. Já o segundo era claramente inacabado, pois você encontrava itens que poderia penhorar e até mesmo maços de dinheiro nos becos de Paris, mas o único mercador do jogo somente podia ser visitado durante um breve período de tempo da campanha.

Ou seja, mesmo com a adição de novos itens para venda, como acessórios para melhorar características das armas e um inédito antídoto em outro mercador (que agora funciona como tal), a coleta e penhora de itens deve ser feita antes que a história te empurre para frente. É um sistema desnecessário, superficial, e que, tal qual o “virar e atirar”, possivelmente tenha sido descartado intencionalmente pelos desenvolvedores originais, e não por qualquer tipo de limitação ou restrição de tempo. Mera conjectura minha.

Com The Angel of Darkness, a Eidos Interactive também pretendia explorar um segundo personagem jogável que, dependendo da recepção, poderia vir a ganhar um jogo solo na época. Controlar Lara Croft era difícil, mas Kurtis Trent conseguia ser pior. Com os controles modernos, o controle de ambos passa a ser aceitável, e as restaurações de conteúdos removidos se aplicam ao rebelde-clichê com a possibilidade de usar seu disco Chirugai em combate (com animações bem limitadas) ou criar uma barreira psíquica temporária para absorver parcialmente o dano recebido.

Tomb Raider IV-VI Remastered

Apesar dos três jogos contarem com telas de interface, menus, e legendas em português — um trabalho muito bom, na maior parte do tempo, diga-se de passagem —, The Angel of Darkness foi o primeiro jogo da série a receber um serviço de localização integral, e a dublagem em português brasileiro do jogo, até então disponível apenas na versão para computador através do relançamento nacional de 2008, conforme detalhamos em um artigo recente, foi resgatada para essa remasterização. Não é perfeita mas é funcional, mesmo com a atuação comicamente exagerada em diversas passagens.

Na parte técnica, tanto V e especialmente VI, eram repletos de problemas que aparentemente foram solucionados na remasterização, mas nesse relançamento me deparei com diversos problemas com o som, cujo volume parece oscilar aleatoriamente. Por vezes, efeitos sonoros ficam complamente inaudíveis ou repetindo indevidamente, alguns erros ocasionais na sincronização entre som e imagem em certas cenas de animação. Na parte visual, volta e meia, os cenários parecem desaparecer por uma fração de frames enquanto você os explora.

Nada que comprometa o seu entrenimento ou engajamento com os jogos, é claro, mas aqui entra uma última ressalva crucial. Esse pacote de remasterizações claramente foi feito com os fãs em mente: sejam fãs dos respectivos jogos originais ou jogadores que se permitiram conhecer e apreciar a franquia com I-III Remastered, é necessário possuir uma apreciação prévia para poder desfrutar da complexidade de The Last Revelation ou da bipolaridade da aventureira em The Angel of Darkness. Jogadores que não tenham qualquer tipo de vínculo com essa era da franquia talvez não encontrem nada aqui.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Aspyr Media.

Veredito

Colocando em prática os mesmos fundamentos da trilogia anterior, Tomb Raider IV-VI Remastered nos permite revisitar os jogos mais sombrios da franquia. Fãs de longa data certamente vão aprovar o trabalho mas, apesar de esforços como opções de controle, novos jogadores terão dificuldade para se adaptar a essas verdadeiras relíquias de seu tempo.

80

Tomb Raider IV-VI Remastered

Fabricante: Aspyr Media / Crystal Dynamics

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Ação / Aventura

Distribuidora: Aspyr Media

Lançamento: 20/02/2014

Dublado:

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

Applying the same fundamentals as the previous trilogy, Tomb Raider IV-VI Remastered allows us to revisit the darkest games in the franchise. Longtime fans will certainly approve it, but, despite efforts such as options for modern controls, new players will likely have a hard time adjusting to these relics from the past.

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