Spiritfarer – Review

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Se um dia for necessário listar os estúdios independentes mais promissores da última década, eu facilmente colocaria o nome da Thunder Lotus Games entre os melhores. Minha relação com o estúdio teve início ainda quando Jotun não passava de uma pequena demonstração para PC, e naquela época eu era apenas um curioso, desejando saber até onde eles seriam capazes de chegar com o projeto. Rapidamente essa curiosidade se transformou em admiração com o lançamento de Sundered, que inclusive tive a oportunidade de analisar aqui no site. Mesmo tendo confiança no trabalho dos desenvolvedores, nada poderia ter me preparado emocionalmente para Spiritfarer, o mais novo projeto do estúdio que chega ao PlayStation 4.

Spiritfarer é um projeto ousado, que combina as mecânicas básicas de um jogo de plataforma 2D com os elementos de simulação, administração e gerenciamento de recursos presentes em Harvest Moon e Stardew Valley. Uma vez juntas, as mecânicas interagem de forma harmoniosa com um roteiro excepcional para criar um ritmo de gameplay divertido e que entrega uma mensagem fundamental para a atual sociedade na era de pandemia: a importância de cuidarmos bem daqueles que são importante para nós e o legado que deixamos no mundo após a morte.

Em Spiritfarer acompanhamos a jornada de Stella, uma jovem garota que acorda no pós-vida ao lado de seu pequeno companheiro felino, Daffodil. Ambos são recepcionados por Caronte, que na mitologia grega era o responsável por realizar a travessia dos espíritos pelas águas do rio Estige para o mundo dos mortos. Para a surpresa da dupla, os planos para eles são muito maiores, uma vez que o lendário barqueiro explica que seu tempo chegou ao fim e, a partir de agora, Stella será a nova responsável por guiar os espíritos encalhados para o além.

É com essa premissa poderosa que iniciamos o game, e já de cara é necessário explicar uma das mecânicas principais presentes em Spiritfarer: o barco. Como a nova barqueira, Stella recebeu de presente um barco místico e será nele que passaremos a maior parte do tempo dentro do game. O barco funciona como um hub personalizável, e nele podemos construir diversas estruturas da forma que bem entendermos como hortas, cozinhas, moinhos de vento, currais para animais, casas de hóspedes e muito mais. Conforme o tempo passa, essas estruturas gerarão recursos que podem ser utilizados para solucionar quests, gerar dinheiro, melhorar estruturas, construir itens especiais ou alimentar os seus “inquilinos”. Vale lembrar que há ainda estruturas que funcionam como “ferramentas”, transformando um tipo de recurso em outro, como no caso das casas de fundição, serrarias, forjas, triturador, etc. O processo de transformação é feito por meio de um minigame, que varia de uma estrutura para outra, e com base no desempenho obtido podemos obter recursos adicionais ao realizá-los. Nesse aspecto o jogo se aproxima bastante dos já citados Harvest Moon e Stardew Valley uma vez que cria um loop de gameplay extremamente divertido e viciante que perdura ao longo de toda a experiência.

Além de servir como hub, o barco é o principal meio de transporte para atravessar as águas do pós-vida, algo que pode ser feito por meio de um mapa presente dentro dos aposentos de Stella. Existem diferentes pontos de interesse no mundo, como ilhas, zonas de alta incidência de peixes, regiões com destroços de embarcações e muito mais, sendo necessário apenas marcar no mapa o local para onde desejamos ir. Uma vez definida a rota, uma pequena barra no canto superior esquerdo indicará quanto tempo falta para chegar ao destino e, durante esse tempo, é possível realizar atividades no convés do navio, interagir com os passageiros, pescar e tudo que foi citado até aqui. Existe um ciclo de dia e noite no jogo, sendo impossível viajar durante a madrugada. Entretanto, diferente de outros games do gênero, dormir não é obrigatório, funcionando apenas como recurso para avançar o tempo caso não haja nenhuma atividade para ser feita.

Outra parte fundamental e divertida do gameplay se apresenta sob a forma de sessões de plataforma 2D, que complementam positivamente a experiência. Essas sessões podem ser encontradas sempre que atracamos o barco em alguma ilha do mapa, sendo essencial explorar cada um desses locais em busca de tesouros escondidos, novas quests, membros para a tripulação e mais. Certas plataformas e recursos podem não ser acessíveis em dado momento, mas ao progredir na história aprenderemos novas habilidades que nos ajudarão a transpor esses obstáculos. Vale lembrar que o game possui multiplayer cooperativo para dois jogadores, onde o segundo assume o papel do pequeno gato de Stella, Daffodil.

Por mais que navegar pelas águas do pós-vida seja uma atividade constante e divertida, é preciso lembrar que de nada adianta uma boa viagem sem uma companhia correto? É aqui que entram os “inquilinos” que mencionei previamente. Ao longo do jogo encontraremos certos espíritos encalhados (normalmente em alguma das dezenas de ilhas presentes no game), que poderão ser recrutados para o barco. Alguns são conhecidos da vida passada de Stella, enquanto outros são rostos totalmente novos para a garota.

É necessário elogiar o grande trabalho feito pela Thunder Lotus Games na caracterização dos personagens secundários que certamente são o coração e alma do título. Temos aqui um vasto elenco de personalidades únicas e cheias de carisma, com histórias muito bem escritas e interessantes, renovando o ciclo de gameplay em Spiritfarer e direcionando o nosso interesse.

A progressão através da campanha é estritamente atrelada às quests pessoais de cada um dos tripulantes do navio e, para continuar progredindo, é necessário desempenhar bem o papel de barqueiro dos mortos. Isso significa que devemos acolher, cuidar e resolver os problemas não solucionados em vida desses espíritos que se tornarão membros honorários da tripulação. Diariamente é preciso verificar como cada um dos membros da sua tripulação está se sentindo, alimentando-os sempre que possível, e ouvindo o que tem a dizer sobre o passado, presente e futuro.

Cada espírito possui um prato favorito, tipos de comida que gosta e outros que desgosta (ou que não pode ingerir por motivos religiosos, de saúde ou pessoais). Devido a isso é preciso atentar-se aos seus gostos e limites, uma vez que certas ações podem deixá-los tristes ou desconfortáveis, algo que pode ser observado por meio de um medidor de felicidade ao interagir com eles. Caso estejam de bom humor, eles poderão ajudá-lo com as atividades do barco, comprar itens e coletar recursos quando atracarmos o barco em alguma ilha. Outra coisa interessante é que os tripulantes eventualmente darão dicas de como obter um melhor desempenho em alguma atividade, ensinarão a Stella novas técnicas para adquirir itens novos e fornecerão melhorias para o navio.

As quests de relacionamento por sua vez são bastante diversificadas e normalmente envolvem levar o espírito a algum local, explorar ilhas, construir uma moradia adequada no barco, realizar algum mini-game, cozinhar alguma comida da sua infância, criar algum tipo de item e muito mais. Ao realizar todas as missões de um determinado espírito, ele irá se preparar para realizar a travessia para o “outro lado”, e temos de levá-lo para um local específico do mapa chamado “The Everdoor” onde poderá finalmente obter o seu descanso eterno. Sem sombra de dúvidas, esse é o evento mais emocionante do título e dificilmente será possível segurar as lágrimas enquanto temos que nos despedir desses seres que passaram tanto tempo conosco ao longo de nossa jornada. É algo duro, mas cada um de nós como seres humanos passaremos por isso várias vezes ao longo de nossas vidas, mas o legado deixado pelos nossos entes queridos certamente permanecerá vivo através de nós.

A narrativa do título é excelente e algo que contribui para isso é a maneira que o título consegue transpassar sua mensagem por meio da sua própria jogabilidade que, apesar de simples, carrega excelentes simbolismos sobre a vida e morte. É extremamente complicado do ponto de vista do game design conciliar história e gameplay de forma que um acabe complementando o outro. Entretanto, Spiritfarer faz isso com uma facilidade quase assustadora e me vi diversas vezes refletindo sobre a experiência que tive com o jogo, encontrando novos significados e alegorias que não havia notado ao longo das 40 horas que levei para completá-lo. O título no momento não possui legendas em português do Brasil, tendo como opção apenas o inglês em seu lançamento, mas a desenvolvedora já garantiu que esse e outros idiomas estarão chegando em breve ao game via atualização.

Spiritfarer possui um dos visuais mais bonitos dessa geração, elevando ainda mais o patamar estabelecido pela Thunder Lotus Games em seus últimos projetos. Os cenários, personagens, animações e até mesmo os efeitos do jogo são todos desenhados à mão, dando uma estética de desenho animado à obra sendo impossível não comparar o game com animações como Hilda ou Kipo e os Animonstros. A trilha sonora por sua vez é outro ponto a ser elogiado, com melodias orquestrais que ficam grudadas na cabeça depois das sessões de jogatina.

Por fim, é preciso falar o único ponto negativo presente dentro de Spiritfarer: o seu desempenho e otimização. Quedas na taxa de quadros são frequentes dentro do título por conta da grande quantidade de elementos em tela, que pode piorar conforme se constrói mais estruturas dentro do barco de Stella. Outro problema preocupante são os travamentos no aplicativo, que subitamente para de funcionar, o que pode comprometer e até mesmo corromper os dados salvos do jogador. Além disso, existem muitos glitchs e bugs envolvendo os controles, que normalmente acontecem caso o jogador aperte sem querer múltiplos botões com funções diferentes, que podem resultar em estados não desejados.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Thunder Lotus Games.

Veredito

Alguns jogos te divertem, outros te emocionam e alguns poucos te entregam mensagens fundamentais que levarás por toda a tua vida. Spiritfarer consegue realizar essas três coisas tão facilmente que ao final de sua jornada será impossível não repetir a viagem. O título consegue criar uma harmonia perfeita entre gameplay e história que certamente agradará os fãs de Harvest Moon e Stardew Valley. Spiritfarer é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores títulos independentes da última década e o Magnum Opus da Thunder Lotus Games.

95

Spiritfarer

Fabricante: Thunder Lotus Games

Plataforma: PS4

Gênero: Plataforma / Simulador

Distribuidora: Thunder Lotus Games

Lançamento: 18/08/2020

Dublado: Não

Legendado: Não (Sim, via patch)

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

Some games amuse you, others thrill you and a few deliver key messages that you will carry throughout your life. Spiritfarer manages to do these three things so easily that at the end of his journey it will be impossible not to repeat the journey. The title manages to create a perfect harmony between gameplay and history that will surely please fans of Harvest Moon and Stardew Valley. Spiritfarer is, without a doubt, one of the best independent titles of the last decade and the Magnum Opus from Thunder Lotus Games.

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Some games amuse you, others thrill you and a few deliver key messages that you will carry throughout your life. Spiritfarer manages to do these three things so easily that at the end of his journey it will be impossible not to repeat the journey. The title manages to create a perfect harmony between gameplay and history that will surely please fans of Harvest Moon and Stardew Valley. Spiritfarer is, without a doubt, one of the best independent titles of the last decade and the Magnum Opus from Thunder Lotus Games.

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