A mistura de gêneros foi algo bastante comum nessa geração. Uma enorme quantidade de jogos que aproveitaram do interesse em novidades para criar mesclas e combinações que poderiam dar certo e agradar alguns públicos foi considerável. Talvez, mas não os únicos, os gêneros de Roguelite (ou roguelike em algumas versões) e survival tenham sido os mais aproveitados para esse tipo de ideia, mesmo que os resultados tenham sido mistos.
Lógico que cada jogo precisa apresentar mais do que só seguir uma ideia e aplicar aquilo. Há todos os aspectos que precisam ser levados em conta para um resultado final satisfatório. Seguindo essa onda, o título desenvolvido pela 5 Lives Studios também faz um apanhado de vários gêneros e trabalha sobre eles em Windbound, jogo de ação e aventura com elementos de survival e roguelite, que pode mostrar similaridades ou inspirações em jogos do tipo, como Don’t Starve.
Em um arquipélago misterioso e praticamente intocado pela humanidade, Kara se encontra naufragada após uma tempestade que a afastou de seus companheiros. Velejadora por natureza e em grandes necessidades, a personagem precisa fazer o possível com os recursos que encontra a disposição, achar um caminho desse local e descobrir o mistério que cerca uma enorme criatura mística do local.
Windbound possui sua própria história a ser contada que, apesar de simples, consegue ser tocante e emotiva sem usar muitos recursos, ainda que dependa de muito da interpretação do jogador. Não há nada complexo ou extensivo, mas a narrativa conta fatos separados, que vão se encaixando até o final do jogo e revela uma surpresa ao jogador. Como dito, a história é simples e não é foco aqui, mas ainda é uma motivação que pode fascinar o jogador fisgado por ela.
O grande foco do jogo é na evolução, exploração e sobrevivência. Ao tomar controle da Kara, será necessário explorar cada ilha e encontrar recursos disponíveis e usar isso para principalmente 3 fatores: recursos necessários para sobrevivência (comida), recursos de combate (armas) e recursos de construção (exploração).
Com o objetivo de seguir adiante e usar desses três pilares já ditos, o jogador precisa encontrar 3 artefatos místicos em cada seção do arquipélago, para assim poder adentrar mais no mistério da criatura marinha ali existente e procurar um caminho de volta para casa. Sendo assim, Kara precisa de alimento para sobreviver, recuperando seu fôlego, eliminando a fome não deixando sua vida terminar. É comum encontrar para isso desde frutas e cogumelos a carnes de animais e peixes.
Para conseguir sobreviver às ameaças presentes, principalmente animais selvagens, será necessário criar armas para se defender. Isso vai desde fundas, arcos, lanças e qualquer outro tipo de arma mais rudimentar possível. Recursos como madeira, galhos, cipós, pedras e mais são usados, assim como aqueles que podem se conseguir eliminando esses predadores, como chifres, ossos, pelos e mais.
Agora, para o que talvez seja o ponto alto do jogo, é necessário recursos suficientes, e leia-se vários, para conseguir explorar esse arquipélago. Afinal, transitar de uma ilha a outra a nado é uma tarefa impossível. No início do jogo, Kara consegue um artefato que é uma espécie de remo, que pode servir com esse propósito ou também como leme. Sendo assim, com o uso desse artefato, é preciso construir seu veículo de locomoção entre as ilhas e o que será usado na busca pelo caminho de casa.
A dinâmica de Windbound é a seguinte: coletar recursos onde você começa, construa no mínimo uma canoa a remo, avance para mais ilhas enquanto busca os 3 artefatos nesta região do arquipélago, colete mais recursos que te permita sobreviver e que possam ser usados na busca de componentes melhores, avance já com os 3 artefatos para descobrir mais uma parte da história e realizar um desafio, surja em uma outra seção do arquipélago e repita o processo até terminar o jogo.
Serão 5 repetições assim para chegar ao fim do jogo e concluir a história. Enquanto isso, a maior diversão é o que foi citado, explorar e colher recursos enquanto avança. Monte desde um arco de madeira à armas específicas de combate. Construa sua primeira canoa a base de capim ou bambu e evolua isso para um barco de madeira com 3 cascos e vela alta. Essa evolução é muito interessante e divertida, sendo que é possível ficar apenas nisso por horas sem avançar na história.
Há uma quantidade considerável de itens para se criar nas categorias mencionadas, onde cada item tem um certo valor em atividades diferentes e que uma acaba ligada a outra. Por exemplo, para conseguir madeira de melhor qualidade, vai ser necessário um machado para cortar essa madeira. O machado é feito a partir da mandíbula de um certo predador. Para caçar esse predador, será preciso armas melhores do que apenas uma adaga de pedra ou arco de madeira simples.
À medida que esse loop de progresso se torna interessante, a exploração via navegação também vira uma peça de sustentação do jogo. Atravessar o oceano ali depende muito da construção do seu barco e de como se orientar pelo mapa. É preciso estar atento principalmente na direção do vento para aproveitar o efeito dele nas velas. Enfrentar ondas grandes pode ser um atraso e há vários obstáculos próximo a ilhas, como corais, pedras e até animais que podem destruir seu barco. Essa navegação não é realista, mas é divertida na maior parte em que acontece. Ainda há um leve contratempo quando você não está favorável ao vento, que pode te deixar à deriva mais por não ter o que fazer nessa situação. Pode ser interessante nas primeiras vezes que isso ocorre, mas como é recorrente, se torna mais irritante do que o normal.
Completando toda a combinação de survival, exploração e aventura, um sistema de roguelite ainda está presente no jogo. Como recompensa, a cada seção avançada o jogador pode escolher um bônus em troca de moedas conquistadas. Como punição, morrer é voltar ao início do jogo, no primórdio mesmo, mesmo que você já esteja no capítulo final. Felizmente, há 2 modos para se jogar, sendo que um é um roguelike survival puro e garante o retorno ao início com perda de tudo o que conquistou. Esse modo é agressivo, punitivo e, por agora, desbalanceado. Depende demais da aleatoriedade do jogo em gerar ilhas, recursos e desafios mais favoráveis ao jogador, ou será um trabalho imenso.
Além do modo já citado, há um espécie de roguelite que favorece mais a história. A morte aqui te retornar sempre para o início do capítulo em que se encontra e só perde os itens que não estavam com Kara na sua bolsa de materiais. Recomeçar um capítulo significa voltar ao mesmo estado em que você entrou nele, perdendo seu progresso nessa parte, mas mantendo tudo o que conquistou em partes anteriores.
Ter os dois modos de jogo é favorável principalmente para dar a opção de uma versão mais leve ao jogador e não o jogar direto aos tubarões numa primeira tentativa. Entretanto, mesmo que o recomendado sejo o survival, mais punitivo, é bom que haja no futuro um balanceamento melhor de como a aleatoriedade do título possa não ser tão agressiva com o jogador, praticamente minando algumas opções de construção ou avanços.
Apesar do visual atraente e cores vibrantes que agradaram de cara, isso acaba ficando de lado quando a repetição do progresso é notada, sem qualquer novidade. Da forma como o jogo é apresentado, seria melhor um estilo sandbox, mais aberto, com mais recursos e uma liberdade maior. Como dito, a história é simples para o jogo ser fundamentado nela e não no seu gameplay, entretanto, o gameplay fica limitado pelo progresso mais raso.
Windbound é interessante e divertido durante a execução da sua campanha, que dura perto de 5 a 8 horas, mesmo apresentando alguns defeitos, como progresso e narrativa. Após a conclusão, é possível jogar novamente e se desafiar num modo mais complexo ou apelar pela aleatoriedade e se prender nela. Além disso, não há muito que possa entusiasmar o jogador a continuar nessa aventura, mostrando uma certa carência principalmente de um modo de jogo que faça bom uso da exploração e sistema de criação apresentado.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Deep Silver.
Veredito
Alguns problemas colaboram para não mostrar todo o potencial que Windbound tem. Sistema de navegação e criação é excelente e divertido, entretanto, o desenvolvimento narrativo poderia ser menos repetitivo e claramente falta um modo de jogo livre onde o gameplay seria melhor utilizado. Ainda assim, o título da 5 Lives Studios é uma experiência recompensadora.
Some problems collaborate to not show all the potential that Windbound has. Navigation and creation system are excellent and fun. However, the narrative development could be less repetitive and clearly lacking a free game mode where gameplay would be better used. Still, the title from 5 Lives Studios is a rewarding experience.
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