Jogos envolvendo mechas e kaijus talvez seja um dos gêneros mais surpreendentemente mal explorados dos videogames. Enquanto a quantidade de filmes e animes explorando-os é tão grande que se torna quase impossível de citá-los aqui, poucos são os jogos que o fazem. Tentando preencher uma lacuna quase inacreditável, Override: Mech City Brawl traz essas criaturas que há tanto tempo habitam o imaginário popular para um dos estilos que mais aptos a isso: os jogos de luta.
O encaixe à primeira vista é perfeito. Quase todas as lembranças que se tem de mechas são as lutas intensas entre robôs ou entre robôs e monstros, evocando alguns dos momentos mais icônicos de séries como Gundam e Power Rangers ou filmes como Transformers e Círculo de Fogo. Esse último, em específico, parece ser a principal inspiração de Override, em especial no conceito por trás dos robôs.
Contando inicialmente com um elenco de 14 robôs diferentes (e mais que podem ser desbloqueados completando o modo história, além de vários DLCs já anunciados), todos com designs únicos, bonitos e bastante interessantes. A premissa do jogo é a mais simples possível e, no básico, ela funciona. Existe um tutorial bem completo que explica cada um dos movimentos de luta, esquiva, defesa e recuperação, permitindo ao jogador sair de lá direto para qualquer um dos outros modos de jogo com bastante segurança.
Além disso, existe um modo história relativamente completo, com pequenas variações diferentes para cada um dos personagens. Completar esse modo (que é curtinho, durando no máximo umas 2-3 horas por personagem) desbloqueia dinheiro para comprar melhorias para o seu robô, destrava modificações (que só se aplicam ao modo história) além de novas cores e skins aleatoriamente para cada personagem, sendo esse o principal motivo para se jogá-lo mais de uma vez já que as variações na história de personagem para personagem são tão pequenas que tudo se torna bastante repetitivo.
A narrativa em si é sobre os pilotos que participavam de uma liga de luta de mechas sendo convocados para entregar uma força para-militar que está comandando a defesa dos seres humanos contra monstros invasores. Em momento algum a história foge dos clichês que se esperaria do gênero e o roteiro em si é bem decente, sendo o maior problema desse modo estrutural.
Ao invés de uma sequência de lutas designadas, o jogo enche de pequenas operações ao redor do mundo (que é mais uma desculpa para o jogador conhecer os mapas) em que é preciso completar um objetivo específico (há uma pequena variedade, mas a maioria delas é para destruir ninhos de monstros ou derrotar uma quantidade x de inimigos). Isso talvez funcionasse melhor se lutar com os monstros não fosse uma das experiências mais chatas possíveis. Fora as lutas com os chefes em missões-chave da história, os monstros comuns são repetitivos, sendo necessário usar sempre os mesmos ataques (principalmente com robôs mais altos cujos socos não acertam os monstros) e seguir os mesmos padrões o que passa a sensação de que as missões normais só estão ali para dar um pouco mais de volume a história que, em si, é bem rasa.
Isso tudo seria minimizado se o gameplay em si fosse melhor. O jogo tenta capturar a dificuldade que se imaginaria ao controlar um robô gigante em uma luta, tornando o combate mais engessado, tornando até mesmo os combos visualmente “travados”, mesmo sendo possível encaixar alguns movimentos uns nos outros, algo que você não vai fazer muito, já que os robôs super-aquecem com facilidade. Enquanto o movimento em uma arena 3D funciona bem (e destruir prédios ao pisar neles ou mandar seu inimigo com um golpe é visualmente bem legal), inclusive com um dash/esquiva para auxiliar nisso, a câmera atrapalha, em especial quando existe mais de um inimigo no mapa, tornando até o travamento de mira algo que te atrapalha.
Os ataques são bastante simplórios. L1 e R1 controlam os braços enquanto L2 e R2 faz o mesmo para as pernas, cada um representando um ataque simples, com L2 representando um ataque um pouco mais forte. É possível segurar o botão para carregar o ataque e causar mais dano ou usar uma combinação entre defesa e um botão de ataque para contra-atacar o movimento do inimigo. É tudo bem intuitivo e simples, mas visualmente o impacto é bem agradável, principalmente ao se lutar contra outros robôs. É possível ainda pegar armas espalhadas pelo cenário, além de cada robô ter um ataque especial mais elaborado quando se preenche uma barra e um ainda mais poderoso com a barra cheia e a energia próxima do fim, mas eles são usados relativamente pouco nos combates.
Mesmo com o combate simples, ele consegue ser divertido no começo. O que o torna especialmente difícil de se aproveitar ou recomendar é a completa falta de conteúdo. Por mais que cada um dos mechas seja único, existem relativamente poucos e o balanceamento é bem ruim. O máximo de diversão que se pode tirar dele é nos modos multiplayer (mesmo com o netcode medíocre), em especial jogando splitscreen no modo com 4 robôs, todos-contra-todos.
Enquanto há diversão para se tirar de Override: Mech City Brawl, a falta de conteúdo limitam bastante o quanto se pode recomendar ele. A premissa é interessante e alguns dos conceitos foram bem executados, mas há uma série de detalhes, em especial a falta de conteúdo, a maneira como o jogo lida com a câmera e o combate se tornando repetitivo muito rápido, que não o permitem chegar onde ele poderia.
Veredito
Override: Mech City Brawl possui as inspirações corretas e acerta em alguns pontos, mas existem vários problemas que evitam que ele se torne um jogo melhor.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Modus Games.
Veredito
Override: Mech City Brawl has a few good inspirations and does well on some points, but there are a lot of problems that prevent it from becoming a better game.
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