Dizer que a franquia Assassin’s Creed parecia estagnada é quase um eufemismo. Apesar do ótimo Syndicate, a marca como um todo parecia cansada, tanto pelo excesso de lançamentos quanto pela falta de inovação de um título para outro. Assim, após um ano longe dos consoles, a franquia principal da Ubisoft volta em 2017 prometendo se reinventar e se modernizar, enquanto olha para o passado da Irmandade no epicentro da série.
Dez anos após o lançamento do primeiro jogo, Assassin’s Creed Origins se livra de muitas das amarras que vinham prendendo a série desde o começo. Se antes grandes aventuras em mundo aberto eram uma novidade, hoje isso é comum, tornando ainda mais necessário que mudanças viessem para tentar devolver a série ao seu antigo posto como uma das principais franquias de ação/aventura da indústria.
A jornada para as raízes da série nos leva ao início, mais precisamente ao nascimento da Irmandade dos Assassinos no fim da Dinastia Ptolemaica no Egito (no ano 47 a.C.), em um conto movido por intrigas políticas, conspirações, vingança e desejo de justiça que sempre permearam as histórias dos Assassinos mais marcantes.
O jogador assume o controle de Bayek de Siuá, o último dos Medjai, os protetores do povo egípcio, em sua jornada em busca de vingança contra aqueles que assassinaram o seu filho diante dos seus próprios olhos: a Ordem dos Anciões, poderoso grupo que luta contra o Egito pelas sombras e que tem feito sofrer o povo que Bayek prometeu defender com a sua vida.
Apesar do título fazer parecer com que ACO seja um jogo focado na origem da Ordem, este não é o centro das atenções. Na verdade o que temos é uma das mais pessoais histórias de toda a série (junto com a de Edward Kenway em Assassin’s Creed IV: Black Flag), com a Irmandade como pano de fundo. Vemos o conto de um homem destruído por um evento em sua vida e dominado por um sentimento, cruzando todo o Egito em busca da verdade e dela e aprendendo não só o quanto ele, mas também a sua terra se modificaram e o quanto o seu povo precisa de um novo grupo de protetores.
A única coisa previsível em Origins é a presença de importantes figuras históricas. Se algumas delas podem não ser tão reconhecíveis quanto alguns dos personagens em outros jogos da série, isso permite com que o jogo os torne mais críveis e mais humanos. A história como um todo é incrível e envolvente, fazendo de Bayek um dos poucos protagonistas da série digno de ser comparado ao icônico Ezio Auditore. Mesmo as leves menções aos jogos anteriores e ao que os fãs conhecem do Credo, ou ainda o último ato que se estende um pouco mais do que deveria, bem como os curtos segmentos no “presente” ou a péssima dublagem em português, não tiram do mérito do jogo (a dublagem original, que é incrível, e as legendas em português são a melhor maneira de se jogar).
Mesmo com o estrondoso sucesso no combate, Origins é, no seu âmago, um jogo de ação/aventura em mundo aberto e o gameplay precisaria ser bom para justificar que o jogador invista tempo suficiente para conhecer toda a história – e, aqui, também temos um gol de placa. É claro, desde o começo, que o jogo foi fortemente influenciado por jogos como The Witcher 3, permitindo que vários elementos típicos de RPGs o influencie.
A primeira coisa que chama a atenção é a presença de um sistema de níveis muito mais elaborado do que o dos jogos anteriores da série. Bayek vai ganhando pontos de experiência ao completar missões e em combate, o que permite equipar equipamentos melhores ou comprar melhorias para o personagem. Temos aqui uma árvore de habilidades diversificada e que foge das arcaicas melhorias de força ou velocidade, se focando muito mais em liberar novos bônus ou técnicas que alteram diretamente o combate. Além disso, os inimigos possuem níveis recomendados e dão loots variados que podem, inclusive, ser utilizados para melhorar equipamentos.
Por mais que tudo isso grite “RPG de Ação”, de alguma maneira, o jogo consegue colocar os pés na água sem mergulhar de vez. Essa nova camada de elementos de RPG dão muito mais controle ao jogador sobre como customizar o personagem, no entanto, em momento algum é necessário qualquer tipo de grind e há uma liberdade muito grande sobre como o jogador resolverá cada uma das situações que o jogo coloca a sua frente, seja através de stealth, combate corpo-a-corpo ou à distância, e estes elementos dificilmente vão ser algo sobre o que você vai pensar.
Como em todos os jogos da franquia, Origins também possui uma gigantesca quantidade de atividades e missões secundárias em uma recriação incrivelmente vasta do Egito. Se diante da quantidade gigantesca de conteúdo é quase impossível que todas elas sejam muito diferentes (e há uma boa quantidade de missões repetidas), no geral as missões são boas, com algumas secundárias em especial sendo incríveis e contando algumas das melhores mini-histórias que a série já viu. O retorno das tumbas é algo especialmente recompensador, em especial diante da rica história egípcia com os túmulos dos faraós.
Esses sistemas estão todos ali para sustentar um sistema de combate muito prazeroso e que tem como palavra-chave “visceral”. Os combates em Origins são sempre intensos, com a Inteligência Artificial realmente trabalhando para derrotar o jogador. O novo sistema de aparar é bem útil e a variedade de habilidades destraváveis mantém o jogo fresco mesmo após algumas dezenas de horas. Felizmente, não há qualquer símbolo sobre a cabeça dos inimigos gritando quando defender ou aparar, o que aumenta o desafio e faz com que o jogador precise aprender como os inimigos pensam em cada situação.
Sempre foi importante nos jogos da série ter uma recriação bonita e impressionante não só dos locais mas da ambientação como um todo, já que um dos grandes atrativos de todo Assassin’s Creed é poder reviver determinados momentos da história. E nesse ponto, Origins é, com muita folga, o melhor da série. O Egito como um todo é lindo de perder o fôlego. Seja cruzando os desertos, os pântanos ou o próprio Nilo, temos aqui um espetáculo visual (que fica ainda mais belo no modo de fotografia do jogo), em que cada ambiente parece ter sido feito com enorme cuidado e é enriquecido por uma trilha sonora maravilhosa.
Apesar de alguns pequenos problemas, como alguns poucos bugs que parecem também fazer parte do DNA da série, Assassin’s Creed Origins é uma experiência incrivelmente cativante e o melhor jogo da série até aqui. Se, de fato, ela precisava se reinventar, isso foi feito com maestria e temos uma base muito mais do que sólida sobre a qual construir as próximas iterações.
Veredito
Com o melhor gameplay e a melhor história da franquia, Assassin’s Creed Origins é um jogo incrível que, mesmo com alguns pequenos defeitos, reinventa com grande sucesso a sua fórmula, entregando um dos melhores jogos do ano.
Jogo analisado com cópia digital adquirida pelo redator.
Veredito
Assassin’s Creed Origins has the best gameplay and story of the franchise. Even with a few problems, it successfully reinvents its formula and delivers one of the best games of the year.
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