Em 2013, o mundo todo conheceu Knack, um jogo de plataforma 3D com elementos de beat’n up que acompanhou o lançamento do PlayStation 4. O game não só representou o nascimento de uma nova franquia, mas também dava uma amostra do que estava por vir na nova geração de consoles. Entretanto, Knack foi duramente criticado por ser um jogo com imenso potencial que foi mal aproveitado pelos seus desenvolvedores. Agora, timidamente, a Japan Studio retorna com Knack 2 prometendo consertar os erros do passado. Mas será que todo o tempo sumido realmente fez bem ao nosso herói?
Há milênios, Yurick, líder de uma civilização mais sofisticada de goblins denomidados “Altos Goblins”, desenvolveu um exército de grandes máquinas combatentes, com o objetivo de vencer seu longo conflito contra a raça humana e exterminá-la de uma vez por todas (qualquer semelhança com Hellboy e o Exército Dourado é mera coincidência). Porém, apesar de seus esforços, Yurick e seu povo sucumbiram à guerra e seu exército foi destruído. Entretanto, anos mais tarde, uma misteriosa força está reativando as máquinas remanescentes daquele conflito, e cabe a Knack, Lucas e seus amigos descobrirem o que está causando isso e salvar o mundo mais uma vez. Para isso, eles terão a ajuda de Xander e Ava, líderes do monastério Norcliff, que já foi a maior força da humanidade na guerra contra os goblins e que serão de imensa ajuda para nossos heróis.
O enredo de Knack 2 é bastante promissor e supera (e muito) o de seu antecessor, com destaque para um pouco de drama, ação, humor e muitas reviravoltas. O mais incrível é que sua história nada mais é do que uma alusão à história de Mark Cerny (diretor do jogo) e da Japan studio durante o desenvolvimento da franquia. Em diversos momentos do jogo, temos frases como “é preciso levar a sério”, “todo mundo erra alguma vez” ou “a segunda tentativa é sempre melhor que a primeira”. Essas frases são aplicadas em uma jornada que tem como foco a superação e o amadurecimento dos personagens que participam dela. Isso é notado principalmente em Lucas, companheiro de Knack, que deve aprender que é hora de amadurecer e levar a sério a situação para que ele e seus amigos possam alcançar seus objetivos (quase que uma imagem espelhada do próprio Mark Cerny). Tudo isso representa a postura, esforço e tremenda dedicação que a equipe de desenvolvimento teve para que pudessem trabalhar com seu jogo da melhor forma possível e levá-lo adiante mesmo diante de uma má aceitação do público gamer em geral. E acreditem: todo este esforço, em sua maioria, valeu a pena.
Entretanto, por mais épico, filosófico e inspirador que seja, o enredo do jogo acaba sendo prejudicado pelos seus personagens, que além de pouco carismáticos, não possuem nenhum apelo e tampouco são memoráveis, estando ali apenas para explicar para Knack e o jogador o que está acontecendo ou soltar alguma piada sem graça. O próprio Knack tem uma personalidade bastante genérica de super herói que busca justiça e tem meia dúzia de frases feitas para todo momento, como a clássica “quanto maior a altura, maior a queda”. Parece armação que tal herói seja dublado aqui no Brasil por Luiz Feier Motta, que está por tráz das vozes de Sylvester Stallone, Senhor Incrível e Hellboy (talvez não seja tanta coincidência assim). Outro grande problema é que os roteiristas não souberam dar um desfecho correto para a história, sempre trazendo um novo plot twist quando parece que tudo está se encaminhando para um final, algo que é usado repetidamente ao longo do jogo e acaba por tirar o interesse do jogador. Apesar de tudo, Lucas e o vilão da trama acabam salvando o dia, sendo os personagens mais bem construídos e que mais dão direcionamento a ela.
Em seu gameplay, Knack 2 se mantém muito fiel à fórmula do primeiro jogo, com vários movimentos como saltar, correr, atacar inimigos com uma série de socos e chutes, defender e refletir golpes ou projéteis. Knack também pode coletar relíquias que, a depender da quantidade coletada, o fazem aumentar de tamanho, assim como sua força, resistência e velocidade. É possível ainda alternar para sua pequenina forma original, para adentrar locais menores ou estreitos. Ele ainda pode destruir cristais amarelos pelo mapa para adquirir uma espécie de escudo que absorve dano recebido pelos inimigos e se transformar em uma versão mais forte e rápida (semelhante ao Rage of Sparta de God of War) em determinadas ocasiões.
Caso encontre gelo, aço ou cristais translúcidos, é possível quebrá-los e incluí-los no corpo de Knack, conferindo a ele novas habilidades: um hálito de gelo que pode ser usado para congelar inimigos ou mecanismos, a capacidade de criar correntes que conduzem eletricidade e, por fim, ficar transparente para evitar dano de lasers e inimigos. Esses recursos, infelizmente, não estão em todo lugar e em sua maioria são encontrados em locais em que é necessário o emprego de uma determinada habilidade que eles provêm para avançar.
Knack 2 introduz uma árvore de upgrades que podem ser desbloqueados utilizando a experiência obtida na descoberta de tesouros espalhados pelo mapa ou na eliminação de inimigos. Estes, por sua vez, são bastante variados, e oferecem um bom desafio, sempre respondendo às ações tomadas pelo jogador. Eles ficarão mais agressivos ao ver Knack vulnerável, se posicionarão melhor caso usem armas de longa distância e ainda tentarão flanquear e cercar o jogador. Por conta disso, a dificuldade dos combates no jogo é bastante elevada, sendo necessário um bom planejamento sobre qual ação ou movimento deve ser tomado em cada grupo de inimigos para avançar pelos níveis. Outra novidade é que Knack pode agora acessar alguns tipos de veículos, como canhões, tanques e robôs gigantes para ajudar no combate.
Os níveis são bastante lineares e não incentivam muito a exploração. Porém, cada um deles é único, com ambientações e puzzles diversos. Em determinado momento, estamos em uma cidade grande enfrentando máquinas e, em outro, nos encontramos em uma floresta cheia de ruínas antigas. A diversidade de ambientes, em conjunto com o level design, realmente ajuda o jogador a se sentir na pele dos personagens durante suas viagens para tentar descobrir o que está acontecendo em seu mundo. Além disso, diversos momentos e ocasiões do game prestam homenagem a filmes e outros jogos como “O Exterminador do Futuro”, “Indiana Jones”, “Crash Bandicoot”, “God of War” e “Shadow of the Colossus”. Estes três últimos podem ser considerados o alicerce em que Knack se baseou para tentar criar uma identidade própria. Há momentos de fuga em direção à tela como os que acontecem em Crash Bandicoot, já as animações e movimentos de Knack ao levantar uma porta, atacar os inimigos e os Quick Time Events parecem que foram totalmente retirados do estúdio da Santa Mônica, e enfrentar e subir em seres descomunais nos traz lembranças da segunda obra do Team ICO. É como se Knack pegasse tudo que gostamos nos jogos de antigamente e juntasse de uma maneira bastante divertida e descontraída.
Ao explorar o cenário, o jogador poderá encontrar baús e tesouros diversos que são de imensa utilidade durante o jogo. Um destes tesouros são os cristais, que desbloqueiam skins alternativas para Knack com poderes exclusivos, caso seja coletada uma determinada quantidade deles. Já os gadgets são equipamentos que fornecerão algum tipo de suporte ao jogador como, por exemplo, um radar que indica se há tesouros próximos da sua localização. O jogo ainda oferece suporte a co-op local de dois jogadores, no qual o segundo player assume controle de um Knack de cor diferente. Em co-op, o jogo fica muito mais divertido e diversas habilidades únicas se tornam possíveis graças à interação dos dois jogadores, aumentando ainda mais o fator replay que ele pode oferecer.
Os gráficos do jogo são excepcionais, porém certas áreas parecem que tiveram mais atenção por parte da equipe do que outras, o que acaba deixando o visual bastante irregular na maior parte do tempo. Knack 2 foi totalmente otimizado para uso no PS4 Pro. Há dois modos disponíveis: o de alta definição, compatível com gráficos de alta resolução em TVs 4K e gráficos de qualidade superior em HDTVs. O modo de alta taxa de quadros atinge 60 fps em TVs 4K e HDTVs. Nesse modo, os gráficos são reproduzidos a 1080p. Independente disso, as cutscenes parecem que são produção de uma empresa do porte da DreamWorks e passam a sensação de que você está assistindo a um filme de animação. Já a trilha sonora do game dispensa comentários e é muito bela, tendo músicas calmas para áreas florestais e mais agitadas nos combates, e a equipe por trás dessas composições merece elogios.
A campanha do jogo é dividida em 15 capítulos (os quais são subdivididos em outros) e pode ser finalizada em torno de 14 horas. Está totalmente dublada em português do Brasil, oferecendo uma boa experiência ao longo de sua duração. A maioria das vozes foram mantidas desde o primeiro game e combinam bem com os personagens. Ao finalizar a campanha o jogador ainda terá acesso a um New Game Plus e outros modos de jogo, como o Time Attack e o coliseu, que renderão mais algumas horas de jogatina.
Com relação a bugs, só foi presenciado um em que as cutscenes do game não eram ativadas e, para resolvê-lo, foi necessária a reinstalação do jogo. Outra coisa que incomoda, já mencionada, é que os personagens que seguem Knack durante a jornada só estão ali para falar algumas linhas de diálogo e dar seguimento a história, sendo questionável a necessidade deles.
Veredito
Knack 2 é um excelente jogo e se tornou uma das maiores surpresas deste ano, superando em todos os quesitos o seu antecessor. Mark Cerny e a Japan Studio merecem elogios por seguir em frente com esta ideia, que ainda tem muito potencial pela frente. Apesar de possuir problemas na história devido ao mal desenvolvimento de seus personagens, ainda oferece uma experiência sólida, muito divertida e com um bom fator replay, além de poder ser aproveitado na companhia de uma amigo. Definitivamente é um dos melhores jogos de plataforma do ano e um dos melhores exclusivos lançados para o PlayStation 4.
Jogo analisado com código fornecido pela Sony.
Veredito
Knack 2 is an excellent game, which turned out to be one of the biggest surprises of this year, overcoming the first game on all aspects. Mark Cerny and Japan Studio deserve praise for sticking with this idea that still has a lot of potential to be explored. Although the story holds a few problems due to the poor development of its characters, it still offers a solid experience, with a good replay factor and is very entertaining. Besides that, it can also be played with a friend. It is definitely one of the best platform games of the year and one of the best exclusive games ever released on PlayStation 4.
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