Não é segredo para ninguém que, ano após ano, a quantidade de jogos que são lançados cresce exponencialmente e também que estes jogos sofrem de um problema que afeta tanto as pequenas produções independentes quanto as superproduções dos grandes estúdios: a capacidade de se diferenciar do restante, de estabelecer uma personalidade e deixar uma impressão.
Personalidade é o que os jogos da Volition mais tem. Desde o lançamento de Saints Row, em especial Saints Row 3, a cada novo jogo da produtora, mais claro fica o que torna os jogos desse estúdio únicos e diferentes: das cores vibrantes, o humor exagerado e pastelão e a total e completa incapacidade de se levar a sério, o que, junto com o gameplay divertido, apesar de nada espetacular, resultava em um jogo que não tinha medo de ser diferente.
Agents of Mayhem, o novo jogo da produtora, pega essa fórmula, dá um giro de 180 graus e joga mais algumas doses de insanidade para entregar aquele que pode, muito bem, ser considerado o melhor jogo da Volition até esta data. Embora vão-se os criminosos da Saints, em seu lugar entram os corajosos heróis da MAYHEM, uma organização para paramilitar que busca proteger o mundo das garras da maligna LEGION.
A estrutura básica de Saints Row está aqui: AoM é um jogo de tiro em terceira pessoa, de mundo aberto com enormes doses de ação, uma considerável quantidade de missões secundárias e um roteiro nada sério (apesar dos seus momentos “dramáticos”), com o jogador podendo andar por todo o mapa a pé ou com um dos vários automóveis que o jogo coloca à sua disposição. E, é claro, o excesso de cores neon e a já tradicional cor roxa e flor de lis. símbolo dos Saints e da Mayhem, tudo temperado com um visual meio cel-shading que deixa o jogo bem mais bonito.
Onde AoM começa a se diferenciar é em sua premissa, que gira toda em torno de uma nova mecânica central para o jogo: Agents of Mayhem permite ao jogador alternar o controle de três agentes diferentes em tempo real, cada qual com um diferente grupo de habilidades, arma e ataque especial. Há um total de 12 agentes (13, se você contar Johnny Gat, personagem da franquia Saints Row que faz uma participação aqui como DLC) diferentes para escolher, sendo que cada ponto da história tem pequenas variações a depender dos personagens que compõem o grupo do jogador.
Por mais que o jogador só controle um agente por vez, mudar de personagem é simples, precisando apenas um mero toque no direcional direito ou esquerdo para que, em questão de segundos, se tenha controle de um dos outros dois agentes selecionados (ao sair do hub central do jogo, a Ark da Mayhem, é possível trocar os personagens selecionados antes de voltar às ruas).
Essa alternância é fundamental para a estratégia de combate do jogo. Cada um dos doze personagens consegue se diferenciar dos outros, tanto em suas personalidades quanto na maneira como o jogador se sente ao controlá-los, e é incrivelmente prazeroso explorar os poderes e habilidades de cada um deles. Alguns são mais ágeis e melhores para se movimentar para o mundo, outros se adequam melhor a combates em áreas fechadas e outros lidam melhor com grupos grandes de inimigos.
Algo que contribui bastante para essa sensação é que, por mais que o jogador só comece com três dos 12 agentes liberados desde o começo, logo no começo as missões para destravar os demais são abertas e, por meio delas, o jogo apresenta com maestria a personalidade, o estilo de jogo e o que torna cada um dos heróis únicos. Cada um dos 12 heróis representa uma região do planeta e brinca bastante com estereótipos atrelados a eles (como, por exemplo, a brasileira ser uma ladra que fala espanhol, o americano um gângster que é rapper, o russo ser um brutamontes de gelo, o japonês um demônio da ex-Yakuza e etc.) o que, junto com o fantástico trabalho de dublagem do jogo, dá vida ao ótimo roteiro.
Não há muito o que falar sobre a história. Agents of Mayhem entrega uma divertida, escrachada e exagerada paródia dos filmes e séries de ação dos anos 80, com sua ambientação que parece uma visão atualizada do que se imaginava que seria o futuro no final da década de 80, começo dos anos 90, com o vilão megalomaníaco por trás de uma organização nefasta e todos os clichês que se espera. Algumas das suas piadas são muito bem escritas e, mais de uma vez, renderam ótimas gargalhadas e devem fazer o mesmo com o jogador que curte o humor cheio de trocadilhos que é tradicional da Volition. Tudo isso ainda é exacerbado pelo jogo estar todo legendado em português, com um dos melhores trabalhos de localização e adaptação que se tem notícia.
Outro ponto que diferencia bastante Agents of Mayhem de outros jogos de mundo aberto é a sua ambientação. Se é raro vermos jogos que fogem de ambientações nos Estados Unidos, AoM vai ainda mais longe e coloca o jogador numa versão exagerada de Seul, que, por ser uma das metrópoles mais tecnologicamente avançadas e que mais crescem no mundo, se adequa bem ao visual que Agents of Mayhem busca. O mapa não é dos maiores, mas é grande o suficiente e andar por ele dificilmente se torna cansativo, por mais que não seja muito memorável.
Outro ponto forte de AoM é o seu combate. Atirar, usar os poderes e habilidades especiais é prazeroso e visualmente recompensador, e há um constante desafio (o jogo possui 10 níveis diferentes de dificuldade, com diferentes recompensas – ou punições, se você quiser jogar no mais fácil), com os inimigos te atacando de maneiras variadas, por mais que exista uma quantidade limitada de tipos de capangas da LEGION. Há um leve toque de RPG aqui, já que há um feedback do dano causado em combate tanto na forma de uma barra de vida dos inimigos quanto através de hitpoints pulando na tela. A Interface do jogo no geral é bem intuitiva e agradável, sendo bem fácil de identificar tudo, sem que o jogador sinta que existe um excesso de informações.
AoM possui também uma boa quantidade de opções de customização, que vão desde skins para os personagens e para as armas, pinturas para os diferentes modelos de carro até tecnologias e equipamentos que alteram a forma como as habilidades de cada personagem funciona. Há também uma espécie de pontos de habilidade que podem ser distribuídas entre quatro tipos diferentes de melhorias e a possibilidade de equipar cristais que se encontram pelo mapa e que destravam outros bônus para cada um dos personagens.
Infelizmente, nem tudo são flores (roxas). AoM peca ao ter bastante conteúdo, mas uma variedade relativamente limitada deles. As atividades espalhadas pelo mapa dificilmente vão demorar mais do que alguns poucos minutos (apesar de darem bônus interessantes) e mesmo as maiores, como as missões de se infiltrar nos covis da LEGION espalhados pelo mundo ou as missões específicas de cada personagem, se tornam repetitivas, pois, no geral, o desenho dos ambientes fechados é o mesmo, com algumas pequenas variações (quando existem). Essa repetitividade não afeta as missões principais e é possível relevar por estenderem a vida útil do jogo e utilizarem bem o bom combate, mas não deixa de ser um ponto fraco.
O maior problema de Agents of Mayhem, entretanto, é a sua performance. O jogo tem sérias dificuldades de rodar quando o combate fica um pouco mais caótico, o que poderia ser mais fácil de relevar se as situações mais tensas e mais importantes de combate não fossem assim. Há uma constante queda no framerate do jogo nesses momentos que, se não o deixa impossível de jogar, incomoda bastante. De resto, o jogo possui alguns bugs menores, mas nada que quebre o jogo.
No geral, Agents of Mayhem é uma experiência incrivelmente divertida e recompensadora. Não é revolucionário e nem vai contribuir em nada para qualquer discussão acadêmica sobre se videogames são arte ou não, mas é, sim, uma aula sobre o quanto eles podem ser uma das mais puras fontes de diversão que se pode ter. Mesmo os pequenos problemas relatados não o impedem de ser uma experiência engraçada e que vai te fazer passar horas em combates intensos e situações estapafúrdias, sempre com boas doses de risadas.
Veredito
Agents of Mayhem é exagerado, divertido e desafiador. O seu combate simples e frenético e a possibilidade de combinar diferentes agentes com habilidades e estilos bem variados mantêm o jogo divertido durante toda a sua duração e mostra que a Volition continua a melhorar, sem perder o humor e estilo que lhe são característicos, nem a coragem de fazer algo novo, que só não se torna melhor pelos problemas técnicos e a pouca variedade nas missões.
Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Deep Silver.
Veredito
Agents of Mayhem is an exaggerated, fun and challenging game. The combat is simple and frenetic, and the possibility to combine different agents with a variety of skills and styles makes the game fun to play. This also shows that Volition continues getting better without losing its sense of humor and characteristic style, nor the courage to make something new. The only problems are its technical issues and the small variety of missions.
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