Theseus vem para reforçar que a Realidade Virtual é flexível e pode abranger experiências além daquelas com visão em primeira pessoa. Desenvolvido pela italiana Forge Reply para o PSVR, o jogo é uma mistura de aventura narrativa com momentos de ação e stealth, baseado no mito de "Teseu e o Minotauro", trazendo uma perspectiva de câmera em terceira pessoa.

A história utiliza apenas elementos básicos do mito grego, criando sua própria narrativa. Ainda existe a figura de Teseu como o protagonista, fadado a enfrentar e derrotar o Minotauro, fera temível que vive no labirinto. Há também Ariadne, que no mito é apaixonada por Teseu, porém nesta história é retratada como uma espécie de entidade espiritual que guia o protagonista.

Em pouco tempo é possível perceber que a aventura tem um quê filosófico, mostrando que o labirinto é um ciclo de punição perpétuo, em que a morte é simplesmente um recomeço. De modo a escapar deste ciclo, encontram-se a figura do Minotauro e de Ariadne, fazendo o papel de bem contra o mal. Apesar de utilizar de alguns recursos narrativos já bem conhecidos, principalmente no final sem surpresas, a história é boa o suficiente para ser acompanhada até sua conclusão.

Theseus é um jogo bem linear, deixando poucos momentos para exploração, que fica limitada à busca por colecionáveis que liberam um segundo final. Vez ou outra existem partes de ação, baseado num combate com mecânicas muito simples (não existe nem mesmo barra de vida para o personagem). Há ainda alguns momentos de stealth, também bem simplificados. Fica claro que o foco da desenvolvedora foi na parte narrativa/cinemática, e é essa a mentalidade que o jogador deve ter durante o jogo para não se decepcionar.

Como mencionado anteriormente, Theseus foi desenvolvido para se jogar na visão em terceira pessoa e nesta parte cabem elogios e críticas. A desenvolvedora faz uso de dois modos de câmeras em terceira pessoa. Uma é posicionada acima de seus ombros ("over the shoulder"), e acompanha o protagonista. Isso acaba criando uma ligação do personagem com o jogador (Teseu inclusive mexe a cabeça baseado nos movimentos reais da cabeça do jogador), sendo utilizada em momentos de mais tensão e drama.

O segundo modo de câmera é um que há um bom tempo eu não presenciava: a câmera "fixa" em um ângulo do cenário, sendo alternada de posição e local conforme se avança pelas "salas" (parecido com o que tínhamos em Alone in the Dark e nos primeiros Resident Evil). Neste modo, o jogador atua mais como um espectador, controlando o personagem pelo cenário sem a liberdade de observar o ambiente para além do ponto de vista fixado pela câmera. Apesar disso, a imersão 360º proporcionada pelo PSVR torna a observação mais abrangente e abre mais espaço para exploração.

Essa abordagem de câmera em terceira pessoa que se alterna entre dois modos é boa para produzir uma sensação cinematográfica, mas nem sempre casou bem em Theseus. As transições entre um modo e outro, bem com as transições de câmeras no modo fixo, eram muito constantes e abruptas. Por exemplo, uma hora você controlava o personagem para frente e, na tela seguinte, você se encontrava em um ângulo em que ele vinha seguindo em uma direção totalmente oposta. Momentos assim atrapalhavam na imersão. Além disso, por vezes a câmera é fixada em um ponto alto, inclusive acima de buracos, o que, na visão proporcionada pelo PSVR, dá uma sensação muito ruim de que você está prestes a cair. É um tipo de abordagem ainda longe do ideal, mas foi um passo inicial dado pela desenvolvedora e aberto a melhorias. Quando eles acertavam num bom ângulo de câmera, a experiência era satisfatória e bem válida na Realidade Virtual.

A ambientação do jogo é muito bem feita. Os gráficos rodam na Unreal Engine 4 e são excepcionais, possuindo ótimos efeitos de iluminação, inclusive com reflexos que chegam a incomodar a visão, trazendo bastante realismo. O labirinto possui estruturas em uma escala gigantesca e opressora, não sendo raros os momentos em que tive que parar de jogar somente para apreciar com calma toda a grandeza daquele ambiente macabro e destruído.

A mesma sensação de grandeza se dá na figura do Minotauro. Ele não se faz presente em grande parte do jogo, porém, gemidos e barulhos de sua respiração ecoam pelo ambiente, lembrando sempre ao jogador de que aquele não é um lugar seguro, o que contribui para um estado de alerta e apreensão constante. Quando a fera, de fato, aparece, o primeiro encontro traz uma sensação de pequenez e horror muito grandes (e nessa hora eu agradeci por não ser uma visão em primeira pessoa). É uma sensação que só a Realidade Virtual consegue transmitir e que vale muito a pena.

Além do Minotauro, há a presença de aranhas gigantes, que são os únicos inimigos disponíveis para o combate. Pessoalmente, não sou muito fã de aranhas, então os encontros com elas sempre tiveram uma carga adicional de tensão. Isso ocorreu principalmente no começo do jogo, que apela para um lado mais de terror, em que o personagem tem disponível apenas uma tocha para se defender. A iluminação, a música e o bom uso da câmera over the shoulder fizeram desses minutos iniciais uma experiência bem amedrontadora, que pode ser conferida no vídeo no começo da análise (embora não traga toda a sensação proporcionada pelo uso do PSVR).

Como já mencionado, o combate é bem simples e se baseia em usar a espada para atingir inimigos e a tocha para afugentá-los. É também possível se esquivar, mas é irrelevante, visto que morrer era algo bem difícil de acontecer. A tocha e espada também são utilizadas para exploração, abrindo caminhos secretos. Há também momentos de escalada, que não foram muito bem implementados; o personagem se movimenta muito lentamente nestas partes e, por vezes, os controles não respondiam de forma satisfatória, porém nada grave.

Theseus possui uma trilha sonora relativamente branda e pacífica, muitas vezes até inexistente, dando espaço para os sons do ambiente (e os gemidos do Minotauro). No entanto, em momentos de perigo, ela vai gradualmente aumentando, ganhando ritmo e batida, contribuindo para deixar o jogador em um estado de alerta e tensão recompensadores. Vale mencionar que há um bom uso do áudio 3D, alterando adequadamente a direção do som ao movimento da cabeça no PSVR.

Por fim, resta comentar a respeito da duração do jogo. Como quase todos os títulos para PSVR, Theseus é de curta duração, com cerca de três a quatro horas para finalizar. Recomendo jogá-lo mais de uma vez para encontrar todos os colecionáveis e ver o segundo final, o que adiciona um tempo extra. Em termos de narrativa, o tempo do jogo é bom, no entanto, se tivessem adicionado alguns quebra-cabeças ou mais salas para exploração, talvez tivéssemos uma experiência mais duradoura. Pelo preço cobrado, acho justo e uma experiência muito válida.

Veredito

Theseus utiliza elementos e personagens do mito grego "Teseu e o Minotauro" para criar uma narrativa própria, com tons filosóficos a respeito do ciclo perpétuo entre vida e morte, bem e mal. É um exemplo de jogo que mostra que a visão em terceira pessoa dá certo em realidade virtual, ainda que seja uma abordagem a ser melhorada e refinada para não causar certos ângulos estranhos. O jogador deve ter em mente que o foco aqui é na narrativa, com um toque pequeno de exploração e um combate de mecânicas simples. Os ambientes do jogo são colossais e a figura do Minotauro é aterradora, tornando esta experiência, ainda que curta, muito positiva. 

Jogo analisado com código fornecido pela Forge Reply.


 

Veredito

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Theseus has some elements and characters from the greek myth “Theseus and the Minotaur” in order to create its own narrative, adding philosophical reflections on the perpetual cycle of life and death, good and evil. It is an example that third-person games work well in virtual reality, albeit there’s still room for improvements and refinements in order to avoid weird angles. The player should keep in mind that the focus here is on the narrative, with a small touch of exploration and a combat with basic mechanics. The game has colossal environments and the figure of the Minotaur is terrifying, making this experience, yet short, very positive.

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Theseus has some elements and characters from the greek myth “Theseus and the Minotaur” in order to create its own narrative, adding philosophical reflections on the perpetual cycle of life and death, good and evil. It is an example that third-person games work well in virtual reality, albeit there’s still room for improvements and refinements in order to avoid weird angles. The player should keep in mind that the focus here is on the narrative, with a small touch of exploration and a combat with basic mechanics. The game has colossal environments and the figure of the Minotaur is terrifying, making this experience, yet short, very positive.

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