À primeira vista, Late Shift pode ser comparado a uma versão com atores reais de um jogo como Until Dawn ou estilo os jogos da Quantic Dream. Na verdade, ele é mais simples do que isso. Late Shift é classificado como um FMV (Full Motion Video) ou, de forma mais simplificada, é um filme interativo, que possui uma história com dezenas de ramificações, moldada de acordo com as decisões tomadas pelo jogador.

Quando digo que ele é mais simples do que jogos como Until Dawn, estou me referindo a suas mecânicas de gameplay, ou melhor, sua única mecânica. Aqui você não irá movimentar um personagem, não irá resolver quebra-cabeças, nem terá que apertar botões em uma ordem correta (os famosos QTEs). Você somente escolhe o que o protagonista deve fazer em cenas específicas, baseado em duas ou três opções apresentadas na tela.

Ter somente uma mecânica de interação não tira o mérito do jogo, embora também não irá agradar a todos os jogadores, que podem achá-lo entediante. Particularmente, é um estilo que eu gosto. Afinal, quem nunca quis que um ator não abrisse certa porta ou beijasse certa personagem durante um filme? Com Late Shift, você tem esse poder e, ao contrário do que muitos reclamam em jogos da Telltale, suas decisões efetivamente têm impacto no desenrolar da trama, resultando em muitas ramificações e sete finais.

O roteiro do jogo foi escrito por Michael Robert Johnson, também roteirista do filme Sherlock Holmes, de 2009. A história segue Matt (só Matt), um estudante que faz bico de vigia de um estacionamento para poder pagar sua faculdade de Matemática. No estilo "lugar errado na hora errada", Matt tenta impedir que um dos carros seja roubado, mas é feito de refém e, logo em seguida, é forçado a participar de um roubo em uma casa de leilões. A partir daí, suas decisões irão moldar os rumos tanto do roubo quanto das consequências posteriores.

Late Shift possui mais de 180 pontos de decisão, sendo que muitos irão trazer pequenas mudanças na cena, enquanto outros, aparentemente insignificantes, podem causar alterações drásticas na trama ou repercutirem somente mais à frente. O jogo esconde muito bem quais decisões são mais ou menos importantes, o que estimula novas partidas para saber como a cena teria se desenvolvido.

O jogador tem um limite tempo para tomar sua decisão. Quando o tempo acaba, o jogo segue um roteiro pré-determinado, salvo poucas vezes em que não decidir também foi uma opção válida. Com isso, aqueles mais preguiçosos podem "jogar" até o fim sem tocar no controle, ou seja, assistir a um filme (já deixo a dica de que o final é ruim para este caso).

Achei o limite de tempo longo demais, o que acaba tirando o senso de urgência que certas cenas poderiam ter. Em compensação, independente da escolha feita, o jogo responde muito rápido, sem cortes abruptos ou incoerências nas cenas (para ser franco, houve somente dois momentos durante as partes finais do jogo em que uma decisão causou um corte na cena que quebrou a imersão).

Há um total de quatro horas de gravação, sendo que cada partida dura por volta de 80 minutos (podendo ser bem menos, dependendo de suas deciões). Ou seja, se você jogar apenas uma vez, irá perder quase dois terços do que o jogo tem a oferecer. Minha recomendação é fazer pelo menos três partidas, experimentando novas decisões, pois a história realmente pode tomar rumos bem diferentes e os finais dependem de uma combinação variada de decisões desde o início.

Algo que ficou faltando em Late Shift foi a possibilidade de selecionar capítulos ou avançar mais rapidamente algumas cenas. Aqueles que quiserem ver todos os sete finais e repercussões irão ter que jogar tudo do começo ao fim diversas vezes, lembrando que nem todas as decisões são claras com relação ao final que será atingido. No longo prazo, isso pode terminar em um processo tedioso sem um guia.

Com relação à produção cinematográfica, Late Shift é bem profissional. Apesar de atores desconhecidos, suas atuações são boas. A fotografia também é muito bem feita, com diferentes ângulos de câmera, técnicas de captura e boa iluminação. Há também cenários bem escolhidos (o filme foi gravado em Londres), com a gravação em full HD também contribuindo para a boa qualidade da produção. Uma coisa que não gostei foi a trilha sonora, baseada em batidas e música eletrônica que não combinaram.

O roteiro não é mirabolante nem traz muitas surpresas, mas como um todo é agradável, narrando uma história de suspense com pequenas reviravoltas. Mesmo assim, existem alguns diálogos bobinhos e situações clichês. Talvez seu pior defeito seja o desenvolvimento forçado do Matt em situações específicas, em que o jogo não oferece muita base para entender o comportamento do protagonista, bem como na química quase que instantânea ao se relacionar com alguns personagens. Casos assim ficam difíceis de acreditar e provavelmente são resultados da necessidade de manter uma coerência diante de diferentes ramificações da história.

Late Shift está sendo lançado para consoles e PC agora, porém a suíça CtrlMovie, sua desenvolvedora, já o estreou em outras mídias no ano passado. O jogo é um produto da empresa para apresentar sua ferramenta de produção de cinema interativo, que tem como objetivo procurar novos formatos de entretenimento de audiências. Algo interessante que fizeram foi rodá-lo em algumas salas de cinema, deixando o público tomar as decisões por meio de um app de celular, semelhante ao crowd play criado pela Telltale. Torço para que eles tenham sucesso e que novos títulos de qualidade semelhante ou superior sejam produzidos, possibilitando maior aproximação entre jogos e cinema.

Veredito

Late Shift traz uma proposta pouco explorada em jogos, com um filme interativo de alta qualidade de produção. O jogador tem o poder de decidir como o protagonista deve se comportar, moldando a narrativa e culminando em sete finais possíveis, tudo rodando com cenas bem encadeadas e cortes imperceptíveis. O roteiro é um thriller agradável, embora seja forçado em alguns momentos. Pelo preço comparado ao de um lançamento de DVD, vale a pena dar uma chance.

Jogo analisado com código fornecido pela Wales Interactive.


 

Veredito

75

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Late Shift is an interactive movie of cinematic quality. Players have the power to decide what the protagonist should do next, shaping the narrative with their decisions and leading to seven possible endings. Every decision you take is shown seamless on screen, without abrupt transitions that may disrupt your immersion. It is an enjoyable thriller, even though some events may happen without so much development, making them hard to believe. For the same price of a DVD release, it is worth a shot.

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Late Shift is an interactive movie of cinematic quality. Players have the power to decide what the protagonist should do next, shaping the narrative with their decisions and leading to seven possible endings. Every decision you take is shown seamless on screen, without abrupt transitions that may disrupt your immersion. It is an enjoyable thriller, even though some events may happen without so much development, making them hard to believe. For the same price of a DVD release, it is worth a shot.

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