Mass Effect: Andromeda

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Alguns jogos estão destinados a não corresponder às expectativas colocadas sobre eles. Fazer jus ao legado deixado por uma franquia que pode ser apontada como uma das mais importantes das últimas gerações é complicado, ainda mais quando a equipe por trás do seu desenvolvimento não só não conta com os responsáveis por levar a série ao patamar anterior, mas também está cuidando do seu primeiro grande projeto.

É trazendo consigo o legado daquela que talvez seja a mais importante franquia de ficção científica original da história dos videogames que Mass Effect: Andromeda foi lançado. Desenvolvido pela BioWare, uma das principais desenvolvedoras de RPGs Ocidentais, as expectativas por trás do novo jogo da série eram altas, ainda mais depois de 5 anos do lançamento de Mass Effect 3 e marcando o primeiro jogo do estúdio desenvolvido exclusivamente para essa geração (Dragon Age: Inquisition, lançado no começo da geração, foi desenvolvido também para PS3).

Andromeda toma os passos necessários para se afastar da trilogia original e não se prender ao que o nome Mass Effect naturalmente traz às lembranças do jogador. O jogo se passa cerca de 600 anos após os acontecimentos de Mass Effect 2, deixando para trás o conflito da Via Láctea e apresentando uma galáxia nova para ser explorada, a titular Andrômeda. Isso funciona como uma maneira da BioWare não precisar estabelecer um final canônico para a trilogia anterior e abre diversas novas oportunidades narrativas a serem exploradas.

O protagonista, Ryder, seu pai e seu irmão/irmã (ao contrário dos jogos anteriores, escolher o sexo do protagonista faz com que o outro seja o do irmão) fazem parte do projeto Iniciativa Andrômeda, que buscou levar 100 mil habitantes da Via Láctea para estabelecer residência em uma nova galáxia e explorar o universo de maneiras que nunca haviam acontecido antes. Ryder acaba assumindo, logo no começo, o papel de Explorador que era de seu pai, se tornando o responsável por encontrar planetas habitáveis para todos os que partiram para Andrômeda.

A Iniciativa é o ponto de partida da história e funciona como a linha principal que mantém a familiaridade do jogador com a série. Uma coalizão liderada pelas 4 principais raças da Citadel (Humanos, Turianos, Salarianos e Asari), cada uma com uma arca levando parte de sua população para Andrômeda, com a ajuda dos Kroganos, mas que deixa para trás algumas das raças da trilogia original (em especial os Quarianos, cuja ausência é explicada por um atraso técnico no desenvolvimento da sua arca e a necessidade de acomodar raças menores, como os Drell, nela), mantendo as tensões que já eram presentes nos jogos anteriores, sem, no entanto, se aprofundar nelas.

Cada uma dessas raças tinham como destino um mundo específico, que deveria ter as condições específicas para abrigar os colonizadores. No entanto, durante o período da viagem, Andrômeda passa a sofrer com um fenômeno conhecido como Miasma, que parece ter afetado o ambiente nesses planetas e os tornado inabitáveis, e que parece estar ligado à duas raças presentes em Andrômeda: as Relíquias, uma antiga raça de robôs cuja tecnologia é capaz de terraformar os planetas e torná-los habitáveis, e os Kett, uma raça de colonizadores em busca dessa tecnologia das Relíquias e que não está disposta a economizar um bala para conseguir o que quer. No meio de tudo, ainda há a raça nativa de Andrômeda, os Angaras, cuja sobrevivência passou a ser ameaçada pelo miasma e pelos Kett.

Por mais confuso que possa parecer, o plot do jogo é relativamente simples e é bem explorado tanto por meio das missões principais quanto pelas missões secundárias. É um dos pontos mais altos do jogo, com um mistério que aos poucos vai se desenrolando e que, por mais que seja afetado em diversos pontos pela qualidade inconsistente dos diálogos, mantém o jogador engajado e interessado no seu resultado, mesmo que, no que parece uma resposta direta ao polêmico final de ME3, é muito menos influenciado pelas ações do jogador do que no que se esperava da série.

ME:A tem uma relação complexa com a agência do jogador. Se, por um lado, há um palpável efeito a curto prazo em algumas das decisões que o jogador toma (e é legal ver o quanto isso vai moldando tanto o Nexus, o hub central que funciona como a Citadel aqui, quanto os planetas), e a sensação de responsabilidade passada ao jogador sobre a colonização de uma nova galáxia, é difícil dizer se haverá algum tipo de repercussão à longo prazo, já que ME:A é um jogo bem contido em si mesmo (apesar de deixar pontos o suficiente para serem explorados em uma eventual sequência).

Ao contrário dos outros jogos da série, que colocava o jogador em pequenos hubs e corredores, ME:A pega uma página do livro de Dragon Age: Inquisition e coloca o jogador em grandes áreas abertas, representadas pelos vários mundos a serem desbravados com a ajuda do Nomad, um veículo desenhado para explorar desde dunas e florestas até montanhas. Esses mundos possuem diferentes missões e situações a serem resolvidas, mas todas se resumem a “vá ao lugar x, mate todos os inimigos, ative o objeto y, mate os inimigos remanescentes”, se tornando interessantes apenas pelo desenvolvimento da história e, principalmente, pelo combate.

Não há dúvidas sobre isso: a grande qualidade de Mass Effect: Andromeda é o seu combate. O jogo sai do padrão anterior da série de entrar em cover, matar os inimigos, ir para o próximo cover e matar os inimigos, abandonando por completo o botão de cover, em troca de um sistema dinâmico de cobertura. Essa mudança em específico tem resultados mistos, muitas vezes não funcionando tão bem quanto deveria, no entanto, ela serve para ilustrar a grande qualidade dessas mudanças: o combate se tornou muito mais rápido, frenético e dinâmico (e que ganha ainda mais força no multiplayer PvE, que retorna aqui também).

A adição do jetpack (que acrescentou uma verticalidade ao combate) e as melhorias no peso e impacto nos tiros, além da variedade enorme de habilidades para se utilizar e combinar, levam o combate a um novo nível. Como não há mais restrição de classe (que foram substituídas por perfis, que dão algumas vantagens por usar tipos específicos de habilidades), é possível combinar os mais diferentes tipos de poderes bióticos, de tecnologia e de combate, além de um arsenal enorme de armas (rifles de assalto, precisão, pistola, escopetas e armas de corpo-a-corpo), permitindo que o jogador customize a sua experiência ao máximo.

O último ponto forte que merece ser destacado é a direção artística do jogo. A arte dos cenários e dos planetas é impressionante e, por diversas vezes, deixa o jogador boquiaberto ao longo das dezenas de horas de jogo. Todos os planetas são distintos (mesmo que cada um tenha um “tema”, dois mundos desérticos são diferentes o suficiente, por exemplo) e os relicários (uma espécie de dungeons das Reliquias) não deixam de impressionar por sua beleza. A trilha sonora também é um show a parte, em sincronia com o que já se espera dos jogos da BioWare.

Mas parece que, para cada qualidade que Mass Effect: Andromeda possui, ele também encontra uma maneira de entregar um problema ou uma frustração tão grande ou até pior. A primeira coisa que chama a atenção e que capturou bastante a atenção da internet, é o quão terrível é o polimento do jogo. Se a direção de arte merece elogios, a animação dos personagens e as expressões faciais dos humanos e das asari são uma tragédia (um pouco melhoradas com um patch recente, mas ainda assim, não muito bons).

ME:A faz um trabalho fantástico em não te deixar jogá-lo. Não importa o quão “sortudo” você seja em evitar encontrar bugs em jogos, Andromeda vai encontrar uma maneira de preencher a sua cota e entregar mais uma boa dúzia. Seja com o jogo travando e não carregando texturas, quedas bizarras de framerate (terríveis, ao ponto de se poder contar tiros de um fuzil automático), NPCs que simplesmente não se consegue falar para completar quests, linhas de diálogo que demoram para ativar ou o jogo congelando e sendo necessário fechar o aplicativo, fica claro que o jogo precisava de mais tempo para ser polido.

Tudo isso vem mesmo depois do patch mais recente (1.0.5) e, ainda assim, existem outros problemas que não são só relacionados à parte técnica. Pelo acréscimo do jetpack, surgiram algumas sessões de plataforma no jogo que são, na melhor das hipóteses, ruins, na pior, frustrantes, já que muitas vezes o jogo parece decidir aleatoriamente se o Ryder vai ou não se agarrar a uma plataforma e a maneira como os pulos funcionam não se adequa muito bem ao design das plataformas.

Os membros da equipe e a maneira como eles são escritos também passa longe de ser um acerto completo. Se Peebee (a acadêmica Asari), Jaal (o guerreiro Angara), Cora (a sua “guarda-costas” humana) e Drack (o guerreiro Krogano) são grandes destaques, quase todos os outros personagens que acompanham Ryder na Tempest (a nave na qual se explora o espaço) são fracos, como Vetra (a mercenária Turiana) e Liam (o outro guarda-costas humano), ou mal escritos (praticamente todos os outros personagens da Tempest).

Os diálogos também variam muito, com alguns bem ruins e outros de alta qualidade, mas o maior problema da escrita do jogo talvez seja o quão fácil é não se importar com nenhum dos personagens, já que, em alguns momentos, eles só estão lá, o que não acontecia nos jogos anteriores. Nenhum deles realmente te faz ter um apego emocional a eles, o que talvez seja a primeira vez que acontece num jogo da produtora.

Durante as mais de 50 horas de jogo, uma coisa que ficou bem claro é o quanto, por mais que tente acrescentar algumas coisas novas, Mass Effect: Andromeda parece ter muito medo de se diferenciar dos jogos anteriores. É um jogo que busca o caminho mais seguro, com medo de inovar ou se distanciar do que tornou a franquia popular, o que, talvez, seja o maior crime para um jogo de uma franquia cujo grande mérito sempre foi sua narrativa, a coragem de fugir do que se espera de RPGs e se diferenciar dos clichês pré-estabelecidos do gênero de ficção científica. Infelizmente, nada disso acontece aqui, inclusive, fico decepcionado pelo quão previsível o jogo consegue ser em alguns momentos.

Combine isso com a série de problemas técnicos e é fácil dizer que, se deve agradar aos fãs que desejavam mais Mass Effect, é difícil recomendar aos novatos, por mais acessível que o jogo seja (e é) ainda mais por ser um passo para trás na franquia. Andrômeda é uma ótima ambientação que, sinceramente, parece mal aproveitada, quase desperdiçada aqui. Ele tenta respeitar tanto o histórico da série que deixa para trás o seu legado mais importante, que são os personagens marcantes e a coragem de fazer o jogador sentir e se engajar.

Veredito

Mass Effect: Andromeda é mais Mass Effect, o que funciona tanto a favor quanto contra ele mesmo. Há enormes melhorias no combate para serem aproveitadas aqui e a história, se formulaica e pouco corajosa, é interessante o suficiente. A qualidade da escrita varia demais, o jogo se afoga em problemas técnicos e demonstra uma admiração e medo de inovar em relação aos títulos passados que funciona em seu desfavor.

Jogo analisado com cópia física fornecido pela Electronic Arts.

Veredito

78

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Mass Effect: Andromeda is more of Mass Effect, which is both a pro and a con. You can enjoy a lot of improvements to the combat and the story. Even if it lacks innovation, it is interesting enough. However, the quality of the script has too much lows and downs. Besides that, the game drowns itself in technical problems and exposes admiration and a fear of innovation when compared to previous installments, which is a little disappointing.

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Mass Effect: Andromeda is more of Mass Effect, which is both a pro and a con. You can enjoy a lot of improvements to the combat and the story. Even if it lacks innovation, it is interesting enough. However, the quality of the script has too much lows and downs. Besides that, the game drowns itself in technical problems and exposes admiration and a fear of innovation when compared to previous installments, which is a little disappointing.

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