Rotina é uma das forças mais cansativas da vida. A constante repetição e baixa variedade acabam gerando uma fadiga, tanto física quanto mental, e nos afastam de coisas que, no geral, nós gostamos, e é nessas horas que precisamos acrescentar novos sabores às atividades diárias para encontrarmos novos prazeres.
Com a crescente leva de jogos e variações da franquia Warriors e o boom de musous nos últimos anos, é natural que a Omega Force, developer por trás das séries Dynasty Warriors e Samurai Warriors e de suas variações, sejam elas baseadas em animes ou outras franquias dos videogames (de One Piece: Pirate Warriors à Dragon Quest Warriors), buscasse experimentar com novos gêneros.
É assim que vemos a Koei Tecmo lançar Dynasty Warriors: Godseekers, para PlayStation 4 e PlayStation Vita, um RPG de Estratégia com os personagens de DW, se passando durante o período retratado no Romance dos Três Reinos. Abandonado é o combate intenso e áreas cada vez maiores em prol de um combate por turnos e em grade, baseado em séries como Final Fantasy Tactics ou Tactics Ogre.
Desde o começo, fica claro o quanto Godseekers é um sopro de ar fresco à série. Há um enorme foco na história, protagonizada por Zhao Yun, um dos mais tradicionais e populares (sempre presente nas capas dos jogos) personagens da série, e seu amigo e nova adição à série, Lei Bin. Os dois amigos encontram uma semi-deusa chamada Li Xia e a acompanham na busca por esferas que concedem poder a ela, convenientemente fazendo com que Zhao Yun esteja presente em todas as principais batalhas do Romance dos Três Reinos (e, consequentemente, dos outros Dynasty Warriors).
Os pequenos toques de misticismo e a história mais clara e estruturada são um atrativo para os jogadores ao (fantástico) combate, mas para os fãs da série, ela é bastante previsível e é fácil de saber exatamente qual a próxima “surpresa”. Não que isso seja um incômodo, afinal, Dynasty Warriors se baseia na mais influente obra da literatura chinesa, o que, por si só, já garante um alto nível de qualidade aos diálogos. A atuação dos dubladores em chinês e a qualidade do texto em inglês (não há legendas em português) são um destaque à parte e há um trabalho incrível em explorar pelo menos um pouco cada um das dezenas de personagens.
O combate é onde se encontra as principais inovações e diferenças. Embora se vão todos os elementos que fizeram de Dynasty Warriors o mais próximo da perfeição que o gênero musou chegou, em GS chegam diversos sistemas que buscam adaptar o estilo musou aos SRPGs, com algum sucesso. A primeira coisa que chama a atenção, naturalmente, é o quão menores os mapas são e o combate mais compassado.
Tudo se passa em um grid, com cada um dos até cinco personagens se movimentando dentro de uma quantidade de espaços determinado e com sua própria área de ataque, tornando a movimentação e posicionamento das unidades muito mais tático do que nos jogos da série principal. Junte a isso o fato de que cada personagem tem um número limitado de ataques (podendo utilizar até 8 pontos de ação, sendo que a maioria dos ataques usam dois ou três pontos), separando DW:GS bastante da ação descerebrada dos musous tradicionais.
A presença de características comuns à série, como os números exagerados (a barra de energia das unidades inimigas é a quantidade de soldados que ainda existem daquela unidade), a barra de musou (que, naturalmente, ativa habilidades mais poderosas quando cheia) e os ataques com movimentos altamente exagerados, ajudam a dar familiaridade ao jogo e fazê-lo se identificar com a franquia, enquanto traz coisas novas, como a barra de Sinchronicity, que dá a todos os personagens dentro da área de ativação um novo turno e, por fim, um ataque combinado e muito poderoso envolvendo todas as unidades. Essa habilidade é a cereja do bolo da parte estratégica do jogo, sendo bastante recompensador limpar uma área de 20 unidades usando-a.
O jogo conta, ainda, com uma enorme quantidade de conteúdo. Fora a campanha que é relativamente longa, cada batalha possui três objetivos secundários e cada cenário completado libera outras três batalhas na mesma região. Existe também o Path of Destiny, no qual, ao atingir os requerimentos de cada missão, são liberados diálogos entre eles e missões em que o jogador poderá recrutá-los (são cerca de 60 personagens). A diferença entre os personagens está, exclusivamente, nos ataques únicos (que são semelhantes aos combos deles na série principal) e nas armas dos mesmos.
Infelizmente, ainda há uma sensação do jogo ser raso, o que era de se esperar de uma primeira investida em um gênero tão diferente daquele que a Omega Force está acostumada. Há muito conteúdo, mas pouca variedade. Há muitas missões, mas a maioria, mesmo no hard, acabam sendo fáceis depois de se dominar os sistemas simplórios do jogo. DW:GS acaba sendo uma boa introdução para quem não tem familiaridade com RPGs de estratégia, mas falta a profundidade e desafio de outros jogos, como a série Disgaea, Fire Emblem ou a já citada Tactics Ogre.
Mesmo que existam classes diferentes (cinco), isso influencia em poucas coisas, basicamente, nos stats, área de movimento e no design dos grids de evolução. Aliás, esse último talvez seja o ponto mais fraco de Godseekers. O sistema de evolução dos personagens é muito influenciado pelo Sphere Grid de Final Fantasy X, mas não tem qualquer variedade e acaba sendo simplesmente bobo, já que todos os personagens e todas as classes têm acesso às mesmas habilidades, sendo que o mais importante, que são ataques novos e mais fortes, são liberados simplesmente subindo de nível e não por meio desse sistema.
Dynasty Warriors: Godseekers é um jogo ousado e que tenta, com relativo sucesso, mesclar RPGs de estratégia e os jogos de ação “musou” pelos quais a série é conhecida. É um bom jogo, mas que após algum tempo se torna cansativo e repetitivo, com a falta de desafio puxando-o para baixo. Ele entrega a diversão que se espera de um jogo da série Dynasty Warriors em um novo formato e que agrada mesmo aos fãs mais hardcore de RPGs táticos (como este que vos escreve). Se não é algo inovador ou que vai cativar o jogador infinitamente, ele faz um bom trabalho em ser uma boa opção para se quebrar a rotina e jogar sem compromisso.
Veredito
Dynasty Warriors: Godseekers funciona bem como uma introdução aos RPGs de estratégia para os fãs de Dynasty Warriors e como uma opção mais simples para os fãs já familiarizados com o gênero. É uma fonte de diversão simples e recompensadora, como jogos da franquia devem ser, mesmo que falhe em alguns pontos que poderiam torná-lo um SRPG melhor…
Jogo analisado com código fornecido pela Koei Tecmo.
Veredito
Dynasty Warriors: Godseekers works well as an introduction to strategy RPGs for the fans of the Dynasty Warriors franchise and it’s also an easier option for those who already are used to genre tropes. It’s fun and rewarding, like most of the games in the series are, even though it fails in doing the things that could make it a better RPG.
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