Resident Evil 7 biohazard

Em seus 20 anos de existência, a série Resident Evil passou por vários experimentos de gameplay. Uns deram certo e se tornaram clássicos (RE, RE2 e RE4). Outros foram mais ou menos aceitos. Porém, há aqueles que a maioria dos fãs não aprovou, que é o caso de Resident Evil 6. Por causa dessa recepção, a Capcom decidiu retornar às suas origens com Resident Evil 7 biohazard.

"Em sua origem, a visão não deveria ser em primeira pessoa", você diz. O que existe de polêmica quanto a isso não é brincadeira. Porém, tendo jogado o game do início ao fim, posso garantir que Resident Evil 7 biohazard é, sim, um Resident Evil em sua essência e não é um clone de Outlast ou P.T. – dizer isso, aliás, é totalmente incorreto. Agora, ter uma visão em primeira pessoa ficou bom no fim das contas?

Antes de entrarmos em detalhes sobre o gameplay, vamos falar brevemente sobre a história. Resident Evil 7 biohazard não é um reboot. É uma sequência direta e que se passa no mesmo universo já construído por todos os outros jogos da série. No entanto, o protagonista e os antagonistas (a família Baker) são inéditos. Você controla Ethan Winters, um homem que está em busca de Mia, sua esposa desaparecida. Seguindo pistas, ele acaba chegando à localização da mansão da família Baker, onde o jogo de fato começa.

Infelizmente, não posso comentar o início do jogo, pois estragaria a sua surpresa. Da mesma forma, também não posso entrar em detalhes sobre o restante da história. Porém, digo a vocês que ela é interessante de uma maneira geral, prende o jogador e possui um bom final (inclusive, há dois finais possíveis). Também vale dizer que muitos dos detalhes do enredo estão nos arquivos que você encontra espalhados pelo jogo, como um bom Resident Evil. A única ressalva é que a história é clichê. Quando você começa a juntar as peças, já pode imaginar a explicação de tudo antes mesmo de ela ser revelada. Também não espere por algo complexo – o charme de Resident Evil sempre foi o seu enredo de certa forma trash e isso continua aqui. Além disso, há um começo, meio e fim – a história de Ethan é totalmente contada, enquanto que o contexto geral você acaba entendendo tudo também. Os futuros DLCs devem contar curiosidades que não afetarão tanto o enredo, acredito eu.

Mas vamos falar de uma vez sobre o gameplay. Antes de mais nada, os comandos são bastante simples e responsivos. Na configuração padrão, L2 mira, enquanto que R2 atira (há bastante combate no jogo, para quem tinha medo disso). L1 se defende: é uma novidade que permite que o dano recebido seja menor, caso você preveja o ataque do inimigo e viu que não conseguirá fugir dele. R1 é o atalho para usar o seu kit de primeiros socorros (já falaremos sobre os itens mais adiante). Bola serve para dar um giro de 180º exatamente como em RE4 ou RE5 (aliás, isso é algo que você esquecerá muitas vezes, pois em um FPS comum não existe essa opção). X interage com o ambiente, quadrado recarrega sua arma e triângulo acessa o menu de itens. O D-Pad funciona como atalho de 4 armas.

A visão em primeira pessoa funciona, no fim das contas? Sim. O gameplay é agradável, funcional e tudo que faz de RE um RE está lá. A movimentação é um pouco lenta, mas é uma lentidão que você se acostuma facilmente. A única coisa que demora mesmo para se acostumar é a mira da pistola. Você se sentirá um pouco burro por errar alvos tão fáceis, mas não se desanime, pois parece ser proposital ser assim. O combate, portanto, é bastante divertido e as batalhas contra os chefes são todas memoráveis e muito bem criadas. Mas nem tudo são flores no combate: os chamados Mofados (ilustrados abaixo), são basicamente os únicos inimigos comuns do jogo (os zumbis, digamos assim). Há também insetos em determinadas partes, assim como diferentes formas dos Mofados. Mas não espere muita variação nesse aspecto. O destaque fica por conta dos chefes, como a própria família Baker.

Com o passar do tempo, você começa a entender o comportamento dos inimigos e pode desviar deles, economizando munição. Isso é algo em que o jogo foi bem balanceado, aliás. Se você sempre explorar bem o cenário, sempre terá munição o suficiente para matar todos os inimigos que desejar. No fim, inclusive, eu tinha muita munição de sobra, por ter desviado de uma quantidade considerável deles. Tudo dependerá do seu estilo de jogo. Mas entenda que o manuseio dos itens é bastante essencial, pois a munição é escassa, principalmente no começo. Se você gastou um pente inteiro em um Mofado e se arrependeu disso em seguida, talvez seja melhor já dar um restart no seu save (ou checkpoint, o jogo cria vários deles) do que arriscar ficar sem munição mais para frente.

Outro elemento de RE, principalmente dos antigos, é o manuseio de itens. Os baús (mágicos) retornam aqui, permitindo que você estoque os itens que encontrar e pegue quando for preciso em outro baú mais adiante. Há também a possibilidade de criar itens consumíveis, como munição da pistola ou primeiros socorros (juntando fluido químico com pólvora ou fluido químico com erva, respectivamente). A munição, inclusive, possui a categoria de aprimorada, oferecendo tiros com um dano maior. Mas como é de se imaginar, tal munição é mais escassa.

Já salvar o jogo, na dificuldade normal e fácil, ocorre em um gravador e pode-se fazer quantas vezes quiser. Na dificuldade hospício, destravada após terminar o jogo, os saves são limitados, como da maneira clássica. Aliás, nessa dificuldade os colecionáveis também trocam de lugar, aumentando assim o replay do título.

O que mais um RE clássico oferece? Puzzles e o chamado backtracking (retornar de onde veio para acessar novos locais ou pegar itens inéditos). Ambos se encontram aqui. Há muitos puzzles a serem solucionados que oferecem uma ótima sensação por você tê-los concluído. Não me refiro a apenas girar e encaixar uma peça. Me refiro a um lugar em que você entra despretensioso e pega os itens – mas se olhar a anotação na parede (que à primeira vista não quer dizer nada) e decifrá-la, poderá abrir uma outra passagem ou oferecer um item que você não esperava encontrar.

É claro, portanto, o quão Resident Evil 7 biohazard se baseia em elementos clássicos da série. Mas se basear apenas não é o suficiente; precisamos de novidades. E além da visão em primeira pessoa, o que por si só já muda muita coisa no gameplay, Resident Evil 7 biohazard oferece a interação com a família Baker. No começo e boa parte do jogo depois, você ficará tenso e sempre de olho para ver onde eles estão. Como mencionado anteriormente, as batalhas são todas memoráveis e se tornarão clássicas sem dúvida.

Sobre tensão, o jogo passa justamente isso. Há momentos em que você se assustará (os chamados "jump scares" – pulos de susto), ainda mais com essa visão em primeira pessoa. Mas não há medo. É claro que isso depende da pessoa, mas RE7 não me deu "medo". Não tive medo por ser atacado pela família Baker ou pelos Mofados. Mas fiquei extremamente tenso e algumas vezes assustado durante o jogo. O momento de tensão é justamente o inimigo vindo para cima de você e aquela correria de pegar a arma certa para o momento, enquanto que o susto é abrir uma porta pela qual já atravessou antes e ter um inimigo esperando por você lá agora. Conforme você avança e seu arsenal aumenta, o susto e tensão vão passando. Mas se você pensa que isso é assim até o final, os produtores prepararam um capítulo na história que fará o jogador passar novamente pela tensão do início e teoricamente sem perder os itens. É difícil explicar sem spoilers, mas saiba que a tensão sempre estará com você no jogo, mesmo quando parece que as coisas ficaram sossegadas.

Sobre a violência, o jogo é extremamente sanguinário em certas partes, mas a maioria das vezes é o que se espera em um Resident Evil. E é claro que essa violência só fica chamativa dessa forma graças aos incríveis gráficos presentes no jogo. É facilmente um dos games mais belos que já vimos no PlayStation 4 e com uma ambientação simplesmente fantástica. Cada cômodo da mansão Baker é único e com sua própria decoração. É de tirar o fôlego.

O som é simplesmente sensacional. Recomendo fortemente jogar com um headset para uma maior imersão. O jogo inclusive faz sons em lugares teoricamente seguros apenas para deixar os jogadores mais tensos ainda. Falando em headset, RE7 é compatível com o PlayStation VR, porém infelizmente não pude testar pois não tenho o acessório. De qualquer forma, consigo imaginar que seja uma experiência única e, sem dúvida, é algo que quero fazer (rejogar a campanha com o PS VR).

Como pode ver até agora, o jogo foi só elogios, com críticas aos inimigos comuns pouco variados e a mira que leva um certo tempo para se acostumar. Mas há mais pontos ruins: o jogo, apesar de oferecer um alto valor de replay com dificuldade destravável e um número de colecionáveis bem escondidos, é curto. Em minha primeira jornada, mesmo morrendo muitas vezes (algumas vezes de forma proposital, pois, como dito, havia gasto munição à toa) e demorando consideravelmente em alguns puzzles ou para achar a porta certa para continuar a jornada, levei 8 horas na dificuldade Normal. Para aqueles que vão aproveitar de tudo (dificuldade maior, pegar todos os colecionáveis, rejogar com o PS VR, etc), é óbvio que isso vai aumentar consideravelmente. Mas, mesmo assim, pode ser considerado curto por muitas pessoas.

O tempo de vida do jogo será aumentado como todos os outros games da atualidade: DLCs. Além de um DLC gratuito previsto que faz sentido para quem terminou o jogo, teremos outros a caminho que ainda não foram muito detalhados. Torço para que um deles seja focado no combate, como uma arena de sobrevivência. Senti falta de um modo assim ao terminar o game, como um no estilo Mercenaries dos outros títulos da saga RE.

De qualquer forma, jogue Resident Evil 7 biohazard. Quando foi anunciado, também fiquei com o pé atrás e achei que a Capcom estava cometendo um erro com as decisões que estava tomando. Porém, RE7 se tornou uma agradável surpresa e é digno do nome que leva. Não faça a besteira de dizer que não é um Resident Evil.

Jogo analisado com código fornecido pela Capcom.