Dishonored

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A grande pergunta do ano talvez seja “de onde raios saiu Dishonored?”. O jogo foi anunciado na E3 2011, com hype quase nulo, feito por uma empresa razoavelmente desconhecida. Um ano depois, Dishonored está ganhando prêmios na E3 2012 a torto e à direita, entrando no radar de jogadores de pc e consoles e de toda a mídia especializada. Entretanto, com tanto hype repentino rondando o jogo, será que ele pode corresponder à realidade?

Dishonored é publicado pela Bethesda – infame pela quantidade de bugs com que seus Elder Scrolls e Fallouts são lançado -, mas foi produzido pela Arkane Studios. Se o nome não lhe é familiar, não é para menos: a Arkane fez poucos jogos próprios, como Arx Fatalis e Dark Messiah of Might and Magic, além de contribuir com o multiplayer de Call of Duty: World at War e com o level design de Bioshock 2… e só. A bagagem é pouca e nenhum dos jogos próprios é conhecido por sua qualidade.

Entretanto, qualidade não é o que falta em Dishonored. O jogo se passa na cidade fictícia de Dunwall, uma mistura de Inglaterra dos anos 1800 com Steampunk. Neste mundo, a descoberta do uso de óleo de baleia como combustível levou à criação de armas avançadas. Dunwall é um dos grandes centros de pesca de baleia deste mundo, o que leva à concentração de riquezas dentro do governo e sua eventual corrupção, bem como aumento do abismo que separa os ricos e pobres. Para piorar, uma estranha doença – similar à Peste, por assim dizer – ainda passa a assolar Dunwall, gerando ainda mais caos. Seu personagem principal é Corvo Attano, o guarda-costas e protetor real da Imperatriz Jessamine Kaldwin e sua filha, Emily Kaldwin. Após voltar de uma missão, Corvo se encontra com a Imperatriz para lhe passar os detalhes de sua jornada. Contudo, enquanto estão sozinhos, um assassino misterioso surge do nada para tirar a vida da Imperatriz Jessamine.

Apesar de todos os seus esforços, Corvo é incapaz de impedir o assassinato e vê a Imperatriz ser morta na sua frente. Os servos da Imperatriz logo aparecem e, estando Corvo sozinho com ela, é logo acusado pelo Spymaster de ser o perpretador do crime. Apisionado, Corvo acaba descobrindo que o assassinato da Imperatriz é obra do próprio Spymaster, e que o próprio Corvo é apenas o bode expiatório. Recebendo uma assistência misteriosa para fugir da prisão, Corvo então inicia sua jornada por vingança.

A história de Dishonored é bem bacana e contada num estilo com poucas cutscenes, lembrando, nesse ponto, jogos como Half-Life e Bioshock. Entretanto, ela acaba se tornando um pouco previsível em sua segunda metade, o que é uma pena. Por outro lado, o mundo do jogo é extremamente rico, e a história que NÃO é contada para você pelos meios normais de narrativa é ótima. Os diários, audiologs, paredes, pinturas, as side-quests e as conversas entre os habitantes contam uma história mais envolvente que a que você recebe nas cutscenes do jogo. Se você gostou da narrativa de Bioshock, certamente vai apreciar a de Dishonored também.

Bioshock, por sinal, pode ser o jogo com o qual a maioria vai comparar Dishonored – pudera, além da narrativa, ao ver as imagens, com uma arma na mão direita e a mão esquerda usando poderes, é difícil não se lembrar do gigante de Ken Levine. Entretanto, acredito que uma comparação melhor pode ser feita com o clássico de PC Thief. Bioshock é um shooter mais inteligente, mas Dishonored, assim como Thief, nem mesmo é um shooter – a perspectiva em primeira pessoa está lá, mas é só, e nem mesmo um botão para o Aim-Down Sights você tem. Em sua mão direita, Corvo carrega sempre uma espada, enquanto a mão esquerda é usada para manusear suas duas armas de fogo – uma pistola e um crossbow -, além de granadas, minas e os poderes sobrenaturais que você adquire em sua viagem.

Os poderes de Corvo são uma das melhores partes de Dishonored. No início, apenas o poder Blink estará destravado, e com ele, você poderá teletransportar Corvo por pequenas distâncias. Com o passar do jogo, você adquire Runes, que podem ser usadas para comprar mais habilidades para o personagem. Estas incluem habilidades ofensivas para o combate, como uma rajada de vento ou invocar ratos para devorar seus inimigos, bem como outras para se manter oculto à oposição, como possuir o corpo de animais e pessoas, parar o tempo e correr mais rápido. Além dos poderes, você ainda pode melhorar o equipamento de Corvo, colocando, por exemplo, botas silenciosas ou fortalecendo suas armas. Por fim, você ainda tem Bone Charms, itens que você equipa para fornecer alguns boosts para suas habilidades.

Com tudo isso, as opções de customização de Corvo são imensas. Dishonored teoricamente seria um jogo com tendência stealth, mas diferentemente de outros jogos do estilo, Dishonored consegue ser furtivo com um ritmo rápido e eficiente, oferecendo ao jogador várias opções de como transpor obstáculos. A navegação pelo mundo de Dishonored é fantástica, muito vertical e com diversos caminhos que o levam ao seu objetivo. Se você quiser seguir o caminho do combate, tudo bem também – as opções de customização de Corvo tornam uma jogatina “Rambo” não é só possível, mas também gratificante.

Como Corvo carrega em sua mão direita uma espada, e não uma arma de fogo, o combate de Dishonored é bem mano-a-mano, em que você deve bloquear e atacar com inteligência ao invés de massacrar o R1. Entretanto, aumentar a pilha de corpos gerará mais ratos, mais doenças e mais guardas, além de um final de jogo mais sombrio. A aproximação furtiva e não-letal, por outro lado, tornará sua vida mais fácil nos capítulos finais e trará um final melhor. Do ponto de vista de gameplay, Dishonored é tão amplo e tão bem executado, que você pode até terminar o jogo sem matar ninguém e sem comprar nenhum poder ou upgrade para Corvo.

Graficamente, Dishonored é magnífico. A arte do jogo é bem estilizada, seguindo uma linha mais semelhante a, de novo, Bioshock. O impressionante é que os gráficos conseguem ser bons e passar impressões fortes mesmo sem abusar de texturas ultra-detalhadas ou efeitos de encher os olhos – Dishonored é simples e brutalmente eficiente com seu grafismo. Os designs são bons e o jogo roda suave, apesar de algumas poucas ocasiões com slowdowns e screen tearing. O ponto alto do departamento gráfico é o design, tanto de ambientes quanto de personagens. As mansões, casebres, ruas e corredores de Dunwall são bem calculados e projetados, tanto para o jogador atravessá-los quanto para contar a história da cidade, conseguindo executar ambas as funções com maestria. .

A trilha sonora é composta por Daniel Licht, que ganhou certa fama recentemente ao fazer a OST de Silent Hill: Downpour. Elogiei o trabalho dele com a franquia da Konami e volto a fazê-lo com Dishonored, merecidamente – alguma coisa nos arranjos de Licht consegue criar uma atmosfera única, condizente com o mundo fictício habitado por Corvo, seus amigos e inimigos. Entretanto, mais que as composições de Licht, o que me chamou a atenção foi o trabalho de dublagem. Nenhum dos dubladores de Dishonored é muito conhecido por seus trabalhos de dublagem e alguns até mesmo estão estreiando nesta área com o jogo da Arkane. Entretanto, as pessoas que emprestam suas vozes a Dishonored são pesos pesados do cinema e televisão. Pesosas como Michael Madsen (que dispensa comentários – Cães de Aluguel, Kill Bill, Sin City e muito mais do que sou capaz de listar), Lena Headey (Cersei Lannister de Game of Thrones), Brad Dourif (Doc Cochran de Deadwood), Chlöe Grace Moretz (a Hit-Girl de Kick-Ass) e muitos outros. É um elenco de primeira e que faz um trabalho sensacional.

Dishonored é espetacular. Há muito tempo, os jogos da geração atual deixaram de segurar o jogador pelas mãos e passaram a carregá-los no colo, afunilando cada vez mais a experiência em corredores e mais corredores, caminhos retos e únicos em que suas ações são quase ditadas aos olhos e ouvidos. Isso não é restrito, como muitos pensam, aos First Person Shooters como Call of Duty e Battlefield. Pensem em RPGs como Final Fantasy XIII, quase desprovidos de exploração, e até mesmo jogos ditos “open-world” como Assassin´s Creed, em que você pode explorar à vontade mas sua missão só pode ser concluída de uma única forma. Não posso afirmar por todos, claro, mas particularmente, sinto falta de experimentar com meus jogos – descobrir novos caminhos, enfrentar situações de formas diferentes, evoluir meu personagem de formas diferentes. Enfim, ter o mundo do jogo como um playground.

Talvez seja por isso que fico tão fascinado quando surgem jogos como Deus Ex ou Hitman: Absolution. São jogos em que você pode experimentar o mundo do jogo de forma extremamente ampla, deixando que o jogador escolha como bem entender a forma que vai enfrentar seus desafios, e é exatamente esse o grande chamativo de Dishonored. Com tantas possibilidades de gameplay, o jogo da Arkane talvez não consiga agradar apenas aqueles que esperam um shooter nos moldes dos FPSs atuais – e ainda assim, estes jogadores podem se surpreender com o que encontrarem.

— Resumo —

+ Direção de arte belíssima.
+ Músicas e dublagem soberbas
+ Design de jogo incrível.
+ Muitas opções de gameplay.

A história poderia ser um pouco melhor.

Veredito

98

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