Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots

Exclusivos. Esse é, provavelmente, o principal motivo pelo qual os jogadores escolhem seus consoles. Em meados de 2008, o PS3 ainda não podia se gabar de uma biblioteca muito rica, seja em exclusivos ou não. Eis então que Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots finalmente chega, no dia 12 de junho, fazendo com que muita gente finalmente se decidisse pelo PlayStation 3. Se valeu a pena? Bom, vamos descobrir!

Com Metal Gear Solid 3: Snake Eater sendo considerado um dos melhores jogos do PlayStation 2 (e levando em conta a numerosa biblioteca da plataforma, é algo digno de respeito), muitos ficaram ansiosos por uma continuação. Saber que ela apareceria no PS3, uma plataforma com capacidades sem precedentes, era no mínimo animador. Digo, Metal Gear Solid, num longínquo ano de 1998, nos mostrou pela primeira vez o que era um jogo de verdadeiro nível cinematográfico. Já havíamos visto histórias fantásticas em jogos antes, mas MGS foi pioneiro em organizar a narrativa, apresentar CGs e dublagens e tudo mais de forma a transformar tudo em uma aventura digna de Hollywood, tudo isso com a tecnologia arcaica oferecida pelo PS1.

À primeira vista, Metal Gear Solid 4 é maravilhoso, até para os padrões atuais. Geralmente, é comum notarmos certas discrepâncias visuais entre jogos lançados no começo da vida de uma plataforma e depois de alguns anos, mas MGS4 é tão bem trabalhado num aspecto visual que se passaria facilmente por um lançamento da semana passada, e sem desapontar. Os cenários são consideravelmente amplos, bem estruturados e passam bem a sensação necessária do local. As cidades do Oriente Médio parecem quentes e “caóticas”, enquanto as partes na Europa passam a sensação de uma noite fria e solitária, só para citar alguns exemplos.

Os personagens são todos muito bem construídos. As texturas são extremamente bem feitas e passam uma ótima impressão tanto do material das roupas quanto da pele, diferente de alguns jogos que vemos hoje em dia em que as pessoas parecem “de borracha”. Um destaque para o rosto de Old Snake, que parece bem real com suas rugas e tudo mais, dando bem a impressão de idade avançada. Isso para não mencionar os cabelos (provavelmente um dos jogos que tem os cabelos mais bem feitos que já vi), e nem precisamos entrar no mérito das infinitas texturas da OctoCamo para reforçar o quão bem trabalhado é esse aspecto, não é?

Além disso, todas as animações são extremamente realistas e polidas, embora em alguns momentos veremos uma Naomi que tende a se movimentar bastante enquanto fala. Todas as animações foram feitas com captura de movimentos de atores reais, então a movimentação dos personagens é bastante humana.

Durante as cinemáticas, os visuais são idênticos ao do jogo em si, o que ao invés de tirar pontos dos clipes, adiciona às partes jogáveis. Toda a direção dos vídeos é incrível, deixando no chinelo muitos filmes por aí que ganham as telonas. Porém, aqui vale a mesma máxima dos demais jogos da série: o jogo não é para qualquer um. Para se apreciar um Metal Gear Solid em sua totalidade, é necessário interesse, domínio da língua inglesa e, por que não, certa paciência. O jogo possui literalmente dezenas de horas de cinemáticas, então se você faz parte daqueles que dá skip em todas as cutscenes, talvez seja melhor deixar Metal Gear Solid 4 na loja para o próximo comprador.

Não é que o jogo não seja aproveitável sem seu enredo. Aliás, muito pelo contrário. O gameplay em Guns of the Patriots deu um salto imenso quando comparado com seu antecessor, Snake Eater. Acompanhando o foco do jogo em si, os controles agora são muito mais focados na ação do que no game anterior. Adições como uma mira em terceira pessoa, mirar e atirar com R1/L1 ou até mesmo a mira em si são adições notáveis, que contribuem bastante para um gameplay mais dinâmico e interessante.

Mas apesar desses controles que facilitam a ação, o jogo ainda possui boas doses de stealth. E nesse aspecto, o jogo se mostra muito competente; é possível jogar atirando em tudo o que se move, encarando uma horda de soldados e usando estoques inteiros de munição ou manter-se nas sobras aguardando os momentos mais oportunos e surpreender os inimigos, nocauteando-os com o clássico CQC, uma arma silenciada ou, mais friamente, um corte na garganta. O jogador é quem decide como prefere jogar em MGS4, e nenhuma opção é certa ou errada.

A trilha sonora, por sua vez, é outra obra prima. As músicas são sempre bem condizentes com o momento e temos até músicas de diversos jogos anteriores da franquia, desde os de NES até Portable Ops. Nem todas estão incluídas na trilha do jogo de fato, e devem ser encontradas durante a fase como itens, sendo assim liberadas para o iPod de Snake.

Isso mesmo! Snake possui um item que é nada mais nada menos do que um iPod (licenciado e tudo mais), onde é possível ouvir a qualquer momento diversas músicas diferentes, sejam elas de jogos anteriores da série, J-POP ou podcasts. O iPod está no inventário de Snake desde o começo do jogo, e já vem com nove músicas e um podcast, e faixas extras podem ser encontradas pelo jogo e baixadas pelo menu de Extras, no menu principal. Infelizmente, novas músicas pararam de ser adicionadas em 2009, embora o número de faixas seja bem grande. Vale mencionar também os controles do iPod, que foram bem adaptados ao dualshock para simular bem a experiência de usar um aparelho real.

Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots não é exatamente um jogo grande. Excluindo as cinemáticas, é possível finalizar o jogo com uma média de 5 horas sem dificuldades, enquanto esse tempo sobe para 20 horas com os clipes inclusos. Mas não deixe os números te assustarem, pois a história é excelente e vale muito a pena ser assistida. Guns of the Patriots mostra a continuação da saga de Solid Snake, num futuro próximo (algo em torno de 2014), onde a guerra é uma constante. Como reforçado durante vários momentos no próprio jogo, a guerra em si se tornou uma espécie de “indústria” independente, gerando uma forte economia em torno dos conflitos que acontecem em diversas regiões do mundo.

E em meio a essa “economia de guerra”, nascem os PMCs, ou Private Military Corpotations (algo como Corporações Militares Privadas, numa tradução livre), uma espécie de mercenários que vendem seus serviços de guerrilha para o lado que pagar mais. Esses soldados, visando um desempenho cada vez melhor, possuem nanomáquinas no interior de seus corpos, maximizando suas capacidades físicas e mentais. Essas nanomáquinas são capazes até de controlar o equilíbrio emocional durante o combate, tornando os guerrilheiros capazes até mesmo de não sentir dor após um tiro ou proporcionando uma sincronia melhor entre os membros de um time.

Apesar do envelhecimento precoce de Snake, ele é convocado pelo Coronel Campbell para uma última missão: salvar o mundo novamente, dessa vez das garras de Liquid Ocelot, junção da mente de Liquid Snake e corpo de Revolver Ocelot. Ocelot tem em suas mãos o controle dos cinco maiores times de PMCs do mundo, o que, em números, resulta num exércido de tamanho comparável ao americano. O objetivo de Liquid Ocelot, dessa vez, é tomar posse do sistema “Sons Of The Patriots”, usado para controlar as nanomáquinas presentes nos corpos de todos os soldados. Snake então é enviado ao Oriente Médio a fim de frustrar os planos de Liquid e eliminá-lo de uma vez por todas.

A partir daí o jogador vai passar por diversos locais, desde o Oriente Médio à América do Sul e Europa, indo até mesmo a um certo local já conhecido pelos velhos fãs, trazendo um momento de muita nostalgia que pode levar a emocionar. Sem exageros, é uma mistura de flashbacks e lembranças, aliada a uma trilha sonora covarde que faz com que até os corações mais peludos se emocionem.

O jogo não tem suporte a um sistema de troféus, mas conta com um mecanismo de recompensas interno, como nos jogos das gerações anteriores. Ao finalizar o jogo, algumas medalhas são atribuidas ao jogador por feitos ao longo da partida, como passar o jogo todo sem ser notado ou coisas nessa linha. Alguns são bem simples, enquanto outros beiram o absurdo, com missões como “termine o jogo em menos de 5 horas, na maior dificuldade, sem ser detectado e nem matar ninguém”. Apesar de não somar pontos para a sua conta na PSN, esses feitos acarretam, em sua maior parte, em itens desbloqueáveis dentro do jogo, como novas camuflagens/roupas, músicas, entre outros. Digo que compensa, se você me perguntar.

E se além das horas e horas de gameplay aliadas aos desbloqueáveis não forem suficientes para você, dentro do disco ainda temos Metal Gear Online, um jogo completo e independente de Guns of The Patriots. Não é difícil de entender a necessidade de um Blu-Ray de camada dupla para o jogo.

Voltando à questão do começo. Valeu a pena comprar um PS3 apenas por Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots como muitos fizeram? Digo, sem medo, que sim. Valeu e muito. Obviamente, o jogo não é perfeito. As instalações a cada novo capítulo pode ser cansativa, e a falta de troféus pode desestimular alguns, mas perto do pacote todo isso é tão irrelevante que não chega a atrapalhar a experiência em si.

Guns of the Patriots é facilmente um dos melhores jogos do PS3, continuação digna da série de sucesso de Hideo Kojima, que fez história nos consoles da Sony. Inclusive, parte dessa história é relembrada no título, que é recheado de Easter Eggs e referências a jogos anteriores prontamente reconhecidos pelos fãs de longa data.

— Resumo —

+ Personagens excelentes
+ Dublagens impecáveis
+ Novos controles melhorados
+ História fantástica
+ Visuais perfeitos mesmo depois de três anos
Instalações demoradas a cada novo capítulo
Ausência de troféus pode incomodar alguns

Veredito

98

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