Já faz um certo tempo que Keiji Inafune (ex-Capcom, responsável por Dead Rising, Lost Planet, MegaMan e outros) vem dizendo que a indústria japonesa está estagnada e que não vê chance de recuperação tão cedo. Inafune afirma que o Ocidente se tornou muito melhor que o Japão em sua produção de jogos. É irônico, portanto, que seja outro ex-Capcom que prove que o Japão pode sim, efrentar os jogos ocidentais no campo deles, sem dever nada às suas melhores produções. Vanquish é o quarto título original vindo da talentosa equipe da Platinum Games (MadWorld, Infinite Space e Bayonetta). Dirigido por Shinji Mikami (cujo currículo contém a série Resident Evil, Killer7, Viewtiful Joe e a série Ace Attorney, entre outros), Vanquish é um jogo de tiro em terceira pessoa (TPS – Third Person Shooter) aos maneirismos de Gears of War, e em muitos aspectos, é superior ao título do qual busca inspiração.
No futuro de Vanquish, a humanidade atingiu uma superpopulação que derrubou a economia de muitos países, sendo um dos mais afetados a Rússia. A trama se inicia quando, após um golpe de estado, uma facção extremista russa assume o governo do país. O novo governo russo logo toma o controle de uma colônia espacial (Providence) americana, usada para cultivar energia solar, e a usa para dizimar São Francisco. Com um ultimato, Zaitsev, o líder russo, exige rendição total do governo americano, caso contrário, um novo ataque será lançado, desta vez a Nova Iorque. Enquanto os militares invadem a colônia para tomá-la de volta, a DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) envia Sam Gideon para o local para procurar o cientista que ajudou no desenvolvimento da colônia e da ARS – Augmented Reaction Suit.
ARS é a armadura estilo "Homem de Ferro" usada por Gideon em sua missão, e lhe dá velocidade de resposta aumentada, melhora sua proficiência com armas de fogo e os espetaculares boosts nos membros inferiores. Além disso, a ARS conta com a BLADE, um sistema de armas experimental que consiste num gatilho que se adapta instantaneamente a qualquer arma arquivada em seu banco de dados. Com isso, Sam segue em sua missão de ajudar os militares e resgatar o cientista antes que Nova Iorque ou a colônia sejam destruídas. O enredo de Vanquish é fraco e clichê (Rússia x EUA de novo?), mas suficiente. O brilho do jogo está no seu gameplay espetacular, e não na história. O básico vocês já imaginam: L1 mira, R1 atira. Botões para Reload, Granadas e Melee. O grande diferencial aqui é a ARS.
A ARS confere a Gideon uma mobilidade e agilidade que não são característicos dos tiroteios dos TPS. A exemplo de Bayonnetta e Devil May Cry, o que conta em Vaqnuish é estilo. AcionandoBoost, Sam se desloca em velocidade pelo cenário (literalmente deslizando), podendo flanquear os inimigos facilmente ou procurar outro ponto de Cover melhor posicionado. Além disso, o jogador tem ao seu dispor um recurso de Bullet Time, acionado quando se leva muito dano ou manualmente pelo jogador ao mirar após um rolamento. O grande porém é que tanto o Boosting quanto o Bullet Time consomem uma barra verde no canto inferior direito da tela, e ao zerá-la, a ARS ficará super-aquecida. A barra lentamente se enche de novo, mas nesse meio-tempo, o jogador terá mobilidade reduzida, levará 30% de dano a mais e não poderá usar nem o Boosting nem o BT. Isso dá a Vanquish uma camada extra de estratégia, com o jogador tendo que monitorar a barra de Boost para evitar ser pego de surpresa por inimigos poderosos. Outro aspecto que influencia na dita barra de Boost é o Melee, o ataque corpo-a-corpo.O Melee de Vanquish é extremamente poderoso, mas se conectado, consome imediatamente tudo que resta da barra de Boost, super-aquecendo a ARS na hora, o que acaba fazendo com que seja subutilizado.
Talvez possa parecer pouco, mas a ARS afeta profundamente o gameplay. Enquanto outros TPS são metódicos e exigem cautela do jogador, Vanquish prima pela ousadia. É claro que você pode jogar Vanquish da forma tradicional, correndo de Cover em Cover para eliminar sistematicamente os inimigos, mas o jogo não parece privilegiar esse tipo de aproximação. Em Vanquish, você se sai muito melhor se usar o Boost para ficar de cara com o inimigo, acionar o BT, eliminar um ou dois antes de cancelar o BT para não super-aquecer a ARS, soltar uma granada explosiva e deslizar para outro cover antes de flanquear os inimigos. A ação de Vanquish foi feita para ser rápida e até mesmo um tanto quanto suicida – se você não se mexe do seu Cover, pode ter certeza que alguma coisa o obrigará a sair. Alguns encontros do jogo nem mesmo privilegiam o uso de cover, e como você frequentemente estará em menor número, cabe a você usar todos os recursos disponíveis da ARS para eliminar a oposição.
A oposição de Vanquish, aliás, é forte, muito forte. Vanquish é um jogo de dificuldade elevada, mas suas mortes dificilmente ocorrem por algo que não seja culpa direta sua. Entenda assim: em alguns jogos, a dificuldade é elevada porque os inimigos surgem do nada e atacam o jogador de forma "roubada" (Ninja Gaiden II do 360 vem à mente), mas em Vanquish você perde simplesmente porque o inimigo foi mais "esperto" que você. Se um determinado Checkpoint está muito difícil, pode ter certeza que sua ordem de prioridades está errada e que você deve tentar uma nova estratégia. Talvez eliminar o inimigo grande primeiro não seja a melhor opção ou talvez você deva usar outra arma.
Falando em armas, outro aspecto importante do gunplay de Vanquish é o fato de que todo o seu arsenal pode ser melhorado em até 10 níveis. Cada vez que você pega uma arma do mesmo tipo que você tem equipada e que está de munição cheia, ela começa a receber upgrades. Repita isso 3 vezes e ela sobe um nível, melhorando um determinado aspecto dela, como dano ou capacidade de balas. Alguns inimigos também deixam, ao morrer, um item de upgrade que sobe o nível da arma equipada instantaneamente. É um método funcional de upgrade e que deve agradar aos jogadores. As armas de Vanquish são variadas, e embora algumas sejam bem originais – como o Disk Launcher -, confesso que me ative ao esquema de Assault Rifle – Heavy Machine Gun – Shotgun/Sniper/Rocket Launcher, deixando a LFE, Disk Launcher e Laser Gun de lado. Contudo, o arsenal de Vanquish tem armas para todos os gostos.
Graficamente, Vanquish é um colírio. A paleta de cores com muito branco e azul confere uma aparência meio estéril aos ambientes, muito bem-vinda pelo contexto (pense em Mirror’s Edge). Além disso, os modelos bem-feitos e a animação fluída são beneficiados pela completa inexistência de slowdowns – e acredite, Vanquish não seria tão bom como é se tivesse problemas com a taxa de frames. Parte dos ambientes é destruível e adiciona mais estratégia, mas não é nada como a impressionante destruição vista em Bad Company 2. As músicas são agradáveis, mas nada que fique muito tempo na cabeça. No departamento de vozes, Vanquish apenas satisfaz o esperado. Em uma história genérica com homens de braços enormes que lutam pelo acreditam, as vozes também são apenas adequadas, com Gideon Emery e Steve Blum fazendo Sam Gideon e Robert Burns com vozes roucas e másculas como se esperaria de um jogo desse tipo. O script é risível e beira o ridículo, mas há um porém: Vanquish, assim como Bayonetta, nunca se leva a sério demais, e talvez os diálogos exagerados sejam meramente propositais.
Como tudo estava bom demais para ser verdade, Vanquish tem um calcanhar de Aquiles: seu tamanho. Como vocês já devem ter visto por aí, a maior reclamação de Vanquish tem a ver com sua duração. Vamos esclarecer algumas coisas: Vanquish NÃO tem 4/5 horas de duração como alguns reviews disseram. Minha primeira experiência com Vanquish terminou com o relógio do jogo marcando 7:38h, na dificuldade Hard, tendo morrido exatas 69 vezes – uma duração semelhante ao que encontrei no primeiro Uncharted. Para não dizer que se trata do fato de ter sido no Hard, conferi na Eurogamer o vídeo ultra-acelerado da jogatina deles, e na dificuldade Normal, esta girou por volta do mesmo tempo. O problema aqui é que, à exceção da Campanha, o único extra que você libera são os Tactical Challenges, 5 missões (com uma sexta destravável) de exterminar grupos cada vez mais fortes de inimigos. E só. O valor de replay de Vanquish está, basicamente, na caça da Platina – que deve durar cerca de 20 horas ou mais – e na busca por pontuações maiores. É irônico que um jogo que preza tanto pelo conteúdo de seu gameplay seja tão raso naquilo que oferece ao jogador, especialmente porque Vanquish tem tudo para ter uma campanha cooperativa (já que Sam dificilmente está sozinho nos tiroteios) ou um Multi competitivo realmente bons.
Recomendar Vanquish com uma nota tão alta é, acreditem, muito cauteloso. Não no sentido de ser um jogo bom ou ruim – porque, honestamente, ele é espetacular -, mas porque a longevidade do jogo está diretamente relacionada à sua vontade de completá-lo repetidas vezes para adquirir uma pontuação maior, e não à quantidade de extras que o jogo possui. É meramente uma questão de prioridades: alguns acharão que as 7/8 horas da Campanha não valem 60 dólares, outros dirão que o conteúdo do jogo está em conseguir a melhor pontuação possível e outros dirão que o gameplay de Vanquish é tão sensacional que vale, sozinho, o dinheiro investido. Independentemente disso, porém, saibam que Vanquish e toda sua excelência técnica merecem ser jogados por todos – alugado ou não.